segunda-feira, novembro 02, 2020

Marshal Law

 

Entre os vários artistas que passaram pea revista 2000 AD, dois dos mais anárquicos eram o roteirista Pat Mills e o desenhista Kevin O´Neill.
Em Marshal Law, publicado em 1987 pelo selo Epic da Marvel, os dois mostraram que podiam usar esse espírito para subverter o gênero super-heróis. E o que fizeram lembra muito a hoje famosa série The Boys, da Amazon. Muitos dos principais conceitos, como super-heróis drogados já estava ali.
Na história, um cientista descobre um meio de transformar fetos, dando-lhes poderes. O resultado disso é uma quantidade enorme de superes. Quando explode uma guerra na América do Sul, eles são enviados para ela, e muitos deles retornam completamente malucos.
Imagine veteranos do Vietnã com super-poderes. É por aí.
A coisa se torna ainda pior em São Francisco: um terremoto destrói boa parte da cidade e o local é tomado pelos super-seres, que vêem ali a chance de poderem exercer seus super-poderes para benefício próprio em uma terra sem lei. Para combatê-los surgem policiais especiais, com super-poderes, o mais famoso deles Marshal Law, um homem que se veste com roupas do universo sadomasoquista e que em sua identidade secreta, namora uma garota que considera que os super-heróis, em especial Marshal Law, são fascistas.
Pela sinopse acima dá para perceber o quanto a série virava o universo dos heróis de cabeça para baixo. Mas o quadrinho ia muito além, a começar pelo desenho nada convencional de Kevin O´Neill e as mensagens de fundo, as brincadeiras visuais incluídas por ele na história. Há de tudo: de aviões com Jesus desenhado na lataria a pichações contra pichações.
A minissérie era totalmente subversiva. 


Os exemplos de heróis mostram o quanto duas mentes criativas e dispostas a virar tudo do avesso poderiam ir. Há, por exemplo, Hitler Hernandez, descendente de criminosos nazistas, que se dedica a eliminar índios. Ou O Traidor, um índio branco que considera a traição uma virtude – quando tiveram contato com o evangelho, passaram a idolatrar Judas ao invés de Jesus. Ou O Bode expiatório, que tem dificuldade para sentir sensações e faz de tudo para sentir dor.
Tudo isso é entremeado com uma trama policial: um dos super-heróis está matando mulheres vestidas como a super-heroina Celeste. Marshal Law acredita que o responsável é Espírito Público, um dos primeiros e mais famosos heróis.
Marshal Law poderia ser apenas um quadrinho que subverte o gênero super-heróis. Mas Mills e O´Neil dominam bem a narrativa e fazem um quadrinho gostoso de ler, fluído, divertido pacas.
A história original foi publicada pela Abril em 1991 em uma minissérie em seis partes e uma edição especial. Este ano a Panini publicou um encadernando, juntando as duas histórias.

Sem comentários: