Quem poderia imaginar que uma série sobre
xadrez pudesse se tornar uma sensação da Netflix? Pois foi exatamente isso que
aconteceu com O Gambito da Rainha, série criada e dirigida por Scott Frank e
Allan Scott baseada no livro de Walter Tevis e estrelada por
Anya Taylor-Joy.
A trama conta a história de uma menina órfã que
se revela um prodígio no xadrez, em plena década de 60. Mas, alguns anos
depois, ela precisará contornar seu vício e álcool e remédios para se tornar a
melhor enxadrista do mundo. O gambito da rainha é uma referência a uma abertura
no jogo, usada constantemente pela protagonista.
Há vários fatores por trás do sucesso
estrondoso e absolutamente inesperado dessa série.
O primeiro deles é a atuação impressionante de Anya
Taylor-Joy no papel de Beth Harmor, a protagonista. Com um rosto extremamente
expressivo, dominado por olhos enormes, ela é perfeita para as várias
sequências de jogo, quase todas em closes. Taylor-Joy consegue revelar uma gama
de sentimentos e emoções com pequenas mudanças faciais como só os grandes
atores de TV conseguem – nesse sentido, é inevitável compará-la com Leonard
Nimoy, o Spock de Jornada nas estrelas.
Quando a câmera abre, ela também se revela um
prodígio, como quando, para vencer um jogo, ela usa a estratégia de
desestabilizar o oponente saindo da mesa e até ensaiando alguns passos de
dança. Além disso, ela oscila muito bem entra a glamourosa campeã de xadrez e a
moça mergulhada nas drogas. É uma atuação digna de prêmios.
O segundo fator é o roteiro, que consegue
transformar o xadrez numa jornada do herói, com todos os passos muito bem
construídos, desde o aprendizado com o mentor (o zelador do orfanato, que a
contragosto lhe ensina o jogo) até o embarque no ventre da baleia (com ela
sendo dominada pelas drogas) até a
redenção final. E isso é feito de maneira muito natural.
O terceiro fator é a direção, que consegue
imprimir dinamismo, suspense e empolgação a um jogo de xadrez (provavelmente o
esporte mais lento que se tem notícia). Além dos muito acertados closes na
protagonista, o diretor corta para a reação da plateia, o painel onde são
colocados os lances para que todos vejam etc. Os diretores parecem ter se
esmerado em encontrar formas diferenciadas de mostrar um jogo de tabuleiro. Em
um dos momentos mais inspirados, ela está jogando o campeonato norte-americano
e, na final, enfretará o melhor jogador do país. As partidas dos dois são
mostradas em simultâneo, com quadros que dividem a tela em duas ou quatro
partes. O efeito final é impressionante.
E, por último, a trilha sonora, toda baseada em
músicas da década de 60. É a trilha sonora que dá o ritmo da narrativa e impede
que o gambito da rainha se torne um melodrama.
Em suma, é uma produção inspirada. Tão
inspirada que fez com que as buscas pelo jogo de xadrez explodissem no google.
Tomara que também estimule as pessoas a jogarem xadrez.
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