Impactante. Essa é a melhor palavra para
definir o filme Ainda estou aqui, de Walter Salles.
A obra conta a história de Eunice Paiva,
esposa do deputado Rubens Paiva. O deputado havia tido seu mandato cassado
quando do golpe militar de 1964, mas a história em si ocorre no início da década
de 1970, quando a ditadura apresentou sua face mais cruel.
Rubens Paiva é preso por agentes do governo
militar no que seria apenas um depoimento. É apenas o início de uma longa
jornada de horror. No dia seguinte a própria Eunice a filha mais velha são
presas, encapuzadas e levadas para um local de tortura. Elas conseguem
sobreviver, mas Rubens Paiva nunca mais foi visto.
Walter Salles acerta em uma direção sensível,
que consegue captar tanto a ternura e a poesia dos momentos em família quando o
clima de tensão da história.
Depois da prisão e do desaparecimento do
marido, Euníce é tomada por um sentimento de paranoia, que é compartilhado com
o espectador. O tempo todo temos a sensação de que algo ainda mais terrível vai
acontecer. É essa tortura psicológica, poucas vezes explorada em filmes sobre o
tema, que torna esse filme tão especial. Aqui vale destacar a atuação marcante
de Fernanda Torres, que concentra toda a tensão da obra. Eunice, apesar de toda
a dor e toda a tragédia, consegue continuar firme e forte com sua família
apesar de todos os problemas. O filme foca em aspectos que normalmente não
imaginamos no caso dos desaparecidos políticos, como o fato d a viúva não poder
sacar o dinheiro da conta do marido no banco, já que oficialmente ele ainda
estava vivo.
Embora tenha sido pouco destacado pelos críticos,
a atuação de Selton Melo, como Rubens Paiva, é memorável, até no porte físico e
no gestual.
Se a direção é acertada, o roteiro é irretocável.
Começar a narrativa pela adoção do cachorro vira-lata é uma sacada genial, que,
se por um lado, cria uma identificação com o espectador ao mesmo tempo em que torna-se
um leitimotiv, um motivo condutor, que sintetiza o drama da família.
Por fim, impossível não comentar a trilha
sonora, com destaque para a música É preciso dar um jeito meu amigo, de Erasmo
Carlos, com sua letra que tão bem define essa mulher tão forte: “Eu cheguei de
muito longe/ E a viagem foi tão longa/ E na minha caminhada/obstáculos na
estrada mas enfim aqui estou/Mas estou envergonhado/Com as coisas que eu vi/ Mas
não vou ficar calado no conforto acomodado como tantos por aí”.
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