sexta-feira, novembro 22, 2024

Ainda estou aqui

 


Impactante. Essa é a melhor palavra para definir o filme Ainda estou aqui, de Walter Salles.

A obra conta a história de Eunice Paiva, esposa do deputado Rubens Paiva. O deputado havia tido seu mandato cassado quando do golpe militar de 1964, mas a história em si ocorre no início da década de 1970, quando a ditadura apresentou sua face mais cruel.

Rubens Paiva é preso por agentes do governo militar no que seria apenas um depoimento. É apenas o início de uma longa jornada de horror. No dia seguinte a própria Eunice a filha mais velha são presas, encapuzadas e levadas para um local de tortura. Elas conseguem sobreviver, mas Rubens Paiva nunca mais foi visto.

Walter Salles acerta em uma direção sensível, que consegue captar tanto a ternura e a poesia dos momentos em família quando o clima de tensão da história.

Depois da prisão e do desaparecimento do marido, Euníce é tomada por um sentimento de paranoia, que é compartilhado com o espectador. O tempo todo temos a sensação de que algo ainda mais terrível vai acontecer. É essa tortura psicológica, poucas vezes explorada em filmes sobre o tema, que torna esse filme tão especial. Aqui vale destacar a atuação marcante de Fernanda Torres, que concentra toda a tensão da obra. Eunice, apesar de toda a dor e toda a tragédia, consegue continuar firme e forte com sua família apesar de todos os problemas. O filme foca em aspectos que normalmente não imaginamos no caso dos desaparecidos políticos, como o fato d a viúva não poder sacar o dinheiro da conta do marido no banco, já que oficialmente ele ainda estava vivo.

Embora tenha sido pouco destacado pelos críticos, a atuação de Selton Melo, como Rubens Paiva, é memorável, até no porte físico e no gestual.

Se a direção é acertada, o roteiro é irretocável. Começar a narrativa pela adoção do cachorro vira-lata é uma sacada genial, que, se por um lado, cria uma identificação com o espectador ao mesmo tempo em que torna-se um leitimotiv, um motivo condutor, que sintetiza o drama da família.

Por fim, impossível não comentar a trilha sonora, com destaque para a música É preciso dar um jeito meu amigo, de Erasmo Carlos, com sua letra que tão bem define essa mulher tão forte: “Eu cheguei de muito longe/ E a viagem foi tão longa/ E na minha caminhada/obstáculos na estrada mas enfim aqui estou/Mas estou envergonhado/Com as coisas que eu vi/ Mas não vou ficar calado no conforto acomodado como tantos por aí”.  

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