sexta-feira, novembro 22, 2024

Eu, Wolverine

 



Em 1982, Frank Miller e Chris Claremont eram duas das grande estrelas da Marvel. Miller por seu trabalho no Demolidor e Claremont pelos X-men, que começavam a despontar como a série mais lucrativa da editora. Eles viajavam juntos para a San Diego Comicon quando começaram a pensar num trabalho em conjunto. Havia um personagem nos mutantes que interessava Miller por sua conexão com o Japão, Wolverine.

Assim nasceu Eu, Wolverine, uma minissérie em quatro partes publicada no Brasil inicialmente pela Abril em 1987.

A HQ começa com uma maravilhosa sequência de ação do protagonista contra um urso enlouquecido por um ferimento com flecha envenenada. Ali, naquela sequência inicial, já aparece a frase que iria caracterizar o personagem: “Eu sou o melhor no que faço, mas o que faço não é nada agradável”.

A história começa com o herói enfrentando um urso. 


Texto e desenho encaixam perfeitamente, demonstrando a sintonia dos dois criadores. Wolverine entra na caverna do urso e ele aparece, ameaçador. O texto nos explica que o urso, enlouquecido, matou três mulheres, sete homens e cinco crianças: “O bicho é um gigantecos urso cinzento. Ele tá enlouquecido. Não existe criatura mais terrível na terra... a não ser eu. Sua garras brilham à meia luz. As minhas também”.

Depois dessa sequência inicial, segue-se outra, em que as cartas enviadas para Mariko Yashida, o amor de Wolverine, foram devolvidas. Ele resolve ir até o Japão verificar o que está acontecendo, o que providencia a descupa para que Miller possa ambientar a história onde queria (vale lembrar que pouco depois ele faria Ronin).

No país do sol nascente, ele descobre que a amada se casou obrigada depois que o pai dela apareceu e forçou o casamento. Ela sofre abusos físicos e psicológicos do marido, mas se recusa a pedir divórcio para não manchar a honra da família.

Miller usa muito bem as elipses, deixando que o leitor complete  ação. 


Wolverine é drogado e obrigado a enfrentar Lorde Shingen, pai de Mariko. A situação cumpre a função de fazer com que a moça deixe de amá-lo, pois ele seria indigno dela, um animal, mais do quem um homem (o texto de Claremont, um especialista em aprofundamento de personagens, explora muito bem isso).

Jogado na rua, o herói é atacado por assaltantes e salvo por uma mulher misteriosa, que se tornará seu grande interesse romântico na história, disputando com Mariko.

Yukio é uma típica mulher fatal, mas dentro de um contexto oriental a la Miller. Uma especialista em diversas lutas, usa pequenas adagas como arma. Mas, como numa boa história noir, nada é o que parece.

Algumas sequências parecem saídas de Ronin, o trabalho seguinte de Miller


Claremont usa e abusa dos textos e continuamente apresenta Wolverine e seus poderes, como se o personagem fosse um desconhecido dos leitores àquela época e como se os leitores da série já não o conhecessem. Mas compensa isso com uma boa caracterização dos personagens e seus dramas internos.

Já Miller nitidamente está feliz da vida mostrando samurais, guerreiros, ninjas (ele resgata até o grupo Tentáculo, das histórias do Demolidor) e dá um show nas cenas de ação usando e abusando (agora num bom sentido) das elipses e deixando que o leitor complete a ação. Sem falar na diagramação inovadora, com painéis horizontais e verticais. 

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