domingo, fevereiro 28, 2021

Xuxulu está com piolhos!

 

Fundo do baú: Os Trapalhões

 

Os Trapalhões foi um grupo humorístico brasileiro que obteve sucesso na televisão e no cinema desde meados da década de 1960 até por volta de 1990. O grupo era composto por Didi Mocó (Renato Aragão), Dedé Santana, Mussum e Zacarias.
A formação mais conhecida ficou famosa em um programa que estreou na rede Globo em 1977 e durante anos foi a maior audiência do horário.
Os Trapalhões entrou para o Livro Guinness de Recordes Mundiais como o programa humorístico de maior duração da televisão, com trinta anos de exibição.
Curiosidades:
O primeiro filme d'Os Trapalhões, Na Onda do Iê-Iê-Iê (1965), contava apenas com a dupla Didi e Dedé.
O primeiro filme do quarteto clássico foi Os Trapalhões na Guerra dos Planetas. Sete destes filmes estão na lista das dez maiores bilheterias do cinema brasileiro.
- Os trapalhões também saíram em gibi, publicado pela editora Bloch produzidas pelo estúdio Ely Barbosa cujos melhores momentos eram sátiras de filmes e de super-heróis.
Renato Aragão conta que temia levar o programa para a Globo. Afinal, na Tupi, ele tinha toda a liberdade para ser irreverente o quanto quisesse. A Globo era conhecida pelo seu padrão de qualidade, e o humorista não tinha certeza se os Trapalhões se encaixariam nele. Para não ter que recusar formalmente a proposta, ele chegou a fazer uma lista de exigências de três páginas na qual determinava quais seriam o diretor, redator e o horário do programa. Para sua surpresa, Boni aceitou sem questionamentos as exigências. Os Trapalhões mudaram, então, de emissora.
Bordões:
Mussum: Cacildis! Forevis!  “Criôlo é a tua véia!”, “Ui, ui, uuui!”, “Eu vou me pirulitar!”, “Glacinha (gracinha)!”, “Casa, comida, três milhão por mês, fora o bafo!”
Didi: Não fui eu! Eu nem sabia que ela era casada! É fria! Ô da poltrona!
Zacarias:  “Eu não sei falar tática, eu só sei falar tatica”; “Só brinco em serviço”.

Mestres do terror 65 - Loira fantasma

 

Mestres do terror é a mais longeva e uma das mais clássicas revistas de terror já publicadas no Brasil. Editada por Rodolfo Zalla, angariou uma geração de fãs nas gerações de 1980 e 1990. Em 2015, um desses fãs, Daniel Sacks, resolveu trazer a revista de volta, continuando a numeração original. Eu havia colaborado com a fase clássica da publicação e fui convidado a enviar novos roteiros. Minha primeira colaboração com a revista nessa nova fase foi “Loira fantasma” sobre a assombração dos banheiros públicos. Essa história foi escrita em meados da década de 1990 para a revista Manticore (na época havíamos lançado uma premiada graphic novel com esse título e a ideia era transformar a Manticore em revista mix de terror e FC). É um exemplo do que chamo de roteiro em mosaico, com a história sendo contada através de diversos fragmentos que unidos formam uma história só. E, claro, tinha uma virada no final, como as boas histórias de terror. A arte ficou por conta do grande Toninho Lima, que não economizou nos ângulos inusitados para ressaltar o terror da história. O escorço da sequência em que o estuprador se aproxima da moça caída é particularmente impactante.  

O terror, o terror!

 


O terror é uma das emoções humanas mais básicas e fundamentais. Somos todos assombrados por algum tipo de fantasma. Talvez o medo seja a primeira emoção experimentada pelo ser humano, o medo de um mundo desconhecido que se encontra do lado de fora da barriga da mãe.
E o terror nos acompanha por toda a vida: ele está em filmes, seriados e quadrinhos, causando fascínio e repulsa.
Eu tive boa parte de minha carreira ligada ao terror. Quando comecei a escrever quadrinhos, esse era o único gênero – além do erótico – em que um brasileiro podia fazer quadrinhos. Meu grande parceiro na época era o compadre Bené Nascimento (Joe Bennett) e lembro que nos divertíamos muito imaginando as formas mais bizarras de matar ou dar um destino pior aos protagonistas. Também fazíamos piadas internas, em que cada um de nós era submetido a situações de terror. Em uma das HQs, um personagem com meu rosto sofria de medo de multidões e via seu corpo transformado em milhares de bocas em eterno falatório.
Como disse, era uma piada interna, mas hoje penso que, por trás do riso havia algo mais, como essa fosse uma forma de lidar com algo difícil. Quantas pessoas não riem diante de uma situação embaraçosa ou até mesmo perigosa? “Hahaha! Poxa vida! Esse carro quase leva o meu braço!”.
A verdade é que todos nós precisamos do terror por algum tipo de necessidade psicológica. Talvez o medo verdadeiro seja algo tão insuportável que precisamos de um treino para lidar com ele. É como as pessoas que se borram toda apenas em pensar em locais altos e são levadas por psicólogos para edifícios e incentivadas a enfrentarem seus medos de forma controlada.
Da mesma forma, você pega essa revista e exorciza seus fantasmas. Se a situação ficar realmente difícil, se a mão fria da morte parecer estar tocando sua fronte, basta fechar a revista e os demônios estarão ali, presos nas páginas fechadas, sob controle. Mas eles estarão lá acenando para você e, uma hora ou outra, você voltará a abrir as páginas e ler como o menino que morreu de medo na montanha russa, mas mesmo assim voltou para a fila.
Talvez a grande lição do terror é que nós podemos vencer nossos demônios.
A casa do terror é uma revista para aqueles que sabem que o medo pode ser um dos grandes segredos da vida, tão essencial quanto o amor e o oxigênio.
(editorial que escrevi para o primeiro número de A casa do terror) 

Verossimilhança hiper-real na revista Cajueiro



Meu artigo Verossimilhança hiper-real nos quadrinhos de Alan Moore foi publicado na revista Cajueiro. No artigo, eu analiso uma estratégia, usada por Alan Moore, para fazer com que seus quadrinhos pareçam reais a ponto de alguns leitores acreditarem que aquilo que é narrado aconteceu mesmo. Alguns exemplos: os anexos de Watchmen e a série 1963, que emula perfeitamente as revistas da Marvel na década de 1960.

Para acessar os artigos, clique no link: https://seer.ufs.br/index.php/Cajueiro/article/view/13782

Não passe pano para político

 


A escavação



A morte, a descoberta do passado e o futuro incerto. Esses são os temas de Escavação, filme da Netflix dirigido por Simon Stone e estrelado por Ralph Fiennes e Carey Mulligan.

O filme conta a história da maior descoberta arqueológica na Inglaterra no século XX, um navio anglo saxão no qual foi enterrado um grande chefe com seu tesouro. A descoberta revelou objetos da Escandinávia, Egito e império bizantino, mudando a forma como os historiadores viam o século VI.

Essa sinopse pode dar a entender que se trata de uma obra de interesse apenas histórico ou para pessoas que gostam de arqueologia. Mas a forma como a história foi contada resultou num filme sensível e amplamente interessante.

Um dos destaques é a caracterização dos personagens. A história foca principalmente em uma viúva, que desconfia que sua fazenda esconde tesouros arqueológicos e contrata um escavador. Contrariando todas as previsões, inclusive de especialistas, eles fazem a descoberta. O escavador, que deveria ser apenas um trabalhador braçal especializado se revela um homem culto, o primeiro a perceber a importância da descoberta. A relação entre eles vai muito além da patrão-empregado: até mesmo o filho da viúva se torna extremamente apegado ao velho escavador.

Há dois fatos históricos que são explorados pelo filme como metáfora: a viúva está morrendo e a Inglaterra está prestes a entrar em guerra contra a Alemanha. A descoberta arqueológica torna-se assim um símbolo de como a herança humana pode se tornar perene, indo muito além da morte ou das intempéries, como as guerras. É sintomático que a descoberta seja de um navio funerário. Ao financiar a descoberta, a viúva eterniza seu nome, transcendendo a morte. O mesmo ocorre com o escavador, cuja autoria da descoberta foi escondida pelos arqueólogos e só recentemente descoberta.

Tudo isso é contado de forma envolvente, com uma fotografia belíssima e ótimas atuações. Destaque para um recurso que amplia as simbologias do filme: constantemente as falas dos personagens são apresentadas em off, muitas vezes quando imagens já mostram outros momentos. É como se as vozes dos personagens estivessem se perpetuando no tempo, da mesma forma que as descobertas arqueológicas.  

Museu dos Beatles em Buenos Aires

 

Um dos pontos turísticos menos conhecidos, mas mais interessantes é O Museu dos Beatles. Ele reúne a maior coleção sobre o quarteto do mundo. Foi criado por um fã, Rodolfo Valquéz, que tem mais de 8 mil itens sobre o grupo. É simplemente a melhor coleção sobre Beatles do mundo. Além de toda a discografia original, há todo tipo de itens relacionados, desde bonecos e cofrinhos. Cada sala é dedicada a um disco e, além dos itens, há televisões passando clipes, entrevistas, filmes. Uma verdadeira viagem psicodélica e musical e uma ótimo exemplo de como usar bem os recursos audio-visuais. 
No local também fica o Cavern Café e pequenos teatros batizados com nome de cada um dos integrantes da banda.. O Museu fica Centro Cultural Paseo La Plaza, na rua Corriente 1660 (mas a entrada é pela rua de baixo). O ingresso para ver o museu custa algo em torno de 40 reais.  Clique aqui para conhecer o site do museu. 




















sábado, fevereiro 27, 2021

CAFÉ COM ASPAS #06 – SUPER-HERÓIS BRASILEIROS

Corto Maltês – juventude

 



Os argentinos adoram quadrinhos. Tanto que o principal jornal do país, El Clarin, lançou diversas coleções de quadrinhos. Uma delas é uma simpática coleção dedicada ao personagem Corto Maltês, de Hugo Pratt. Capa dura e formatinho, os álbuns são verdadeiros itens de colecionador. 
Uma curiosidade é que Pratt começou a carreira na Argentina, fazendo trabalhos para Hector oesterheld. Só depois foi para a Europa, onde fez grande sucesso com seu personagem aventureiro. 
O desenho de Pratt é simples, limpo, muito focado em closes, de modo que funciona bem no formatinho. 
O interessante deste volume é que o protagonista da série, corto maltês, só aparece na parte final do álbum. A história é toda focada em dois personagens históricos: o escritor Jack London e Rasputin, que viria a ser o preferido da família do csar.
A história se passa durante a guerra russo nipônica e mostra Rasputin como um assassino mal caráter e London como um homem honrado correspondente de guerra envolvido com um problema aparentemente sem solução: ele terá de travar um duelo com um mortífero soldado japonês. O código de conduta faz com que nenhum dos dois possa fugir do duelo, que terminará inevitavelmente com a morte de um dos dois, provavelmente de London.
O charme da história estar em tentar adivinhar como London resolverá seu dilema e se Rasputin conseguirá fugir depois de ter matado soldados russos e japoneses. 
Eu comprei o volume em um sebo de Buenos Aires a um preço irrisório: 100 pesos, o equivalente a pouco mais de 6 reais.

Escrevendo sátiras para a MAD

 Quando fui convidado pelo Raphael Fernandes para a escrever uma sátira do BBB 9, o que seria minha estreia na MAD, confesso que tremi na base. A MAD tem um tipo muito característíco de humor. Anarquico, claro, mas que também obedece algumas regrinhas simples, que ajudam a cosia a ficar mais engraçada. Na época, fui para minha coleção e reli dezenas de sátiras tentando compreender o estilo. De lá para cá, já escrevi vários textos para a publicação. Não posso dizer que já sou um roteirista especialista em MAD, mas acho que posso compartilhar algumas das coisas que aprendi escrevendo e, principalmente lendo a MAD:  


1) Geralmente as sátiras iniciam com um painel grande, de apresentação. Pode ser apenas um quadro grande, uma página inteira, ou uma página dupla, como foi a minha sátira do BBB. A função dessa página é mostrar quem são os personagens e contar rapidamente a história que está sendo satirizada, o que abre caminho para que mesmo quem não conheça a obra original possa dar algumas gargalhadas.  Nesse painel é muito aconselhado fazer piadas visuais de fundo, como os BBBs dentro de uma bolha com uma placa: não dê comida aos animais


2) Cada quadro deve conter uma piada. Como geralmente as sátiras ocupam poucas páginas, a maioria dos roteiristas não desperdiça quadro: todos precisam ter algo engraçado. 


3) Diálogo bate-volta. Uma técnica muito usada pelos roteiristas é colocar um diálogo em três ou quatro momentos. Normalmente há uma piada no meio, mas o mais engraçado fica para o final. Eu usei esse recurso na minha sátira do filme Crepúsculo (que foi renomeada Prepúcio): 

Q2 – Mella está apresentando Fedward ao seu pai. Chále Swando está com um rifle nas mãos, granadas pelo corpo. Em suma, ele está preparado para ir à guerra.
Mella: Pai, vou sair hoje com Fédward.
Chále: Ótimo. Mas afaste-se dele quando eu começar a atirar...
Mella: Pai, o senhor disse que ia ser simpático!
Chále: E estou sendo... uso o rifle ou a bazuca? 

4) Duplo sentido. Esses diálogos bate-volta geralmente brincam muito com o duplo sentido. O verdadeiro sentido a primeira fala do personagem só é revelada na tréplica dele. Mais uma vez, uma sequência da sátira do Crepúsculo: 

Fédward e Mella estão na cena do quarto, do quase sexo. Penso que ele está se aproximando dela e ela está lá, esperando um beijo. Ele usa uma camisa com os dizeres EU RESISTO e ela com a camisa EU DESISTO.
Fédward: Tenho muita vontade de fazer uma coisa com você... mas preciso resistir!
Mella: Você está pensando em... sexo?
Fédward: Quem falou em sexo? Eu estava pensando em fazer compras no shoping! 


5) Non-sense. A graça do diálogo muitas vezes está em não fazer sentido, como na sátira de O Iluminado, escrita por Larry Siegel e desenhada por Angelo Torres (publicado no Brasil na MAD especial 3, Panini). Jeca Porrance está dirigindo na direção ao hotel quando o filho começa a falar com o dedo: 

Jeca: Doenty, tô um pouco preocupado com esse garoto! Ele sempre teve essas conversas idiotas com o dedo indicador? 
Doenty: Nem sempre! Só desde ontem, quando ele brigou com o mindinho! 
Jeca: Ufa! Jà tava ficando preocupado!  

A arte hiper-realista de Serge Marshennikov

 

Serge Marshennikov é um artista russo famoso por suas impressionantes imagens de mulheres pintadas em estilo hiper-realista. Suas imagens são tão perfeitas que parecem fotos. 






Benjamin Netanyahu desmente Fake News sobre a vacinação

Viva - a vida é uma festa

 


O ser humano é o único animal que tem consciência da própria morte. A percepção da própria finitude fez com que ele procurasse formas de sobreviver na memória de outras pessoas. Ter filhos, família, deixar uma obra pela qual será lembrado são formas de continuar existindo após a morte, de alcançar a imortalidade.

O esquecimento como uma forma de morte é o tema central de Viva - a vida é uma festa, filme da Pixar dirigido por Lee Unkrich, de 2017.

A história se passa no México. O garoto Miguel sonha se tornar um músico, mas vive em uma família em que todos odeiam a música. A tararavó de Miguel, Amélia, foi abandonada pelo marido músico e a partir de então, a música foi banida do seio familiar.

Durante o Dia de los muertos, a família coloca em um altar as fotos de todos os seus ancestrais, incluindo a foto da taravó e seu marido, com o rosto recortado. Ao acidentalmente, quebrar a moldura, Miguel descobre que o marido de Amélia segurava o violão de Enersto De La Cruz, o que pode indicar que ele é descendente do cantor mais famoso do México. Quando seu violão é quebrado, ele resolve “emprestar” o violão do famoso tataravô como forma de apresentar em um festival de música. É quando a magia acontece: ele é transformado em um fantasma e começa sua jornada pelo mundo dos mortos. Seu objetivo é encontrar Ernesto de la Cruz e conseguir sua benção para voltar ao mundo dos vivos e, ao mesmo tempo, tornar-se um músico importante.

No caminho, encontra com um fantasma abandonado, cujo único sonho é voltar para a terra para visitar sua filha, a única pessoa que ainda se lembra dele. Na realidade do filme, quando alguém é totalmente esquecido, ela desaparece inclusive do mundo dos mortos, sumindo para sempre.

Em sua jornada, Miguel irá descobrir um novo significado para seu talento e se reconciliará com a família.

A cena em que Miguel canta para a vó é um dos momentos mais emocionantes.


O resultado disso é um filme repleto de ação, mas também repleto de significados, engraçado, mas emocionante. É um filme com roteiro pefeito, em que tudo se encaixa e até as piadas de fundo acabam se mostrando fundamentais para a história. E é um filme musical em que nada é forçado, todas as músicas encaixam perfeitamente na narrativa. A música “Lembre de mim”, por exemplo, praticamente resume a história e gera uma das cenas mais emocionantes do filme, quando o garoto canta para a bisavó:

 

Lembre de mim

Hoje eu tenho que partir

Lembre de mim

Se esforce pra sorrir

 

Não importa a distância

Nunca vou te esquecer

Cantando a nossa música

O amor só vai crescer

 

Lembre de mim

Não sei quando vou voltar

Lembre de mim

Se um violão você escutar

 

Ele, com seu triste canto

Te acompanhará

E até que eu possa te abraçar

Lembre de mim

Cosplay é arte