A morte, a descoberta do passado e o futuro incerto. Esses
são os temas de Escavação, filme da Netflix dirigido por Simon Stone e
estrelado por Ralph Fiennes e Carey Mulligan.
O filme conta a história da maior descoberta arqueológica na
Inglaterra no século XX, um navio anglo saxão no qual foi enterrado um grande
chefe com seu tesouro. A descoberta revelou objetos da Escandinávia, Egito e
império bizantino, mudando a forma como os historiadores viam o século VI.
Essa sinopse pode dar a entender que se trata de uma obra de
interesse apenas histórico ou para pessoas que gostam de arqueologia. Mas a
forma como a história foi contada resultou num filme sensível e amplamente
interessante.
Um dos destaques é a caracterização dos personagens. A
história foca principalmente em uma viúva, que desconfia que sua fazenda
esconde tesouros arqueológicos e contrata um escavador. Contrariando todas as
previsões, inclusive de especialistas, eles fazem a descoberta. O escavador,
que deveria ser apenas um trabalhador braçal especializado se revela um homem
culto, o primeiro a perceber a importância da descoberta. A relação entre eles
vai muito além da patrão-empregado: até mesmo o filho da viúva se torna
extremamente apegado ao velho escavador.
Há dois fatos históricos que são explorados pelo filme como
metáfora: a viúva está morrendo e a Inglaterra está prestes a entrar em guerra
contra a Alemanha. A descoberta arqueológica torna-se assim um símbolo de como
a herança humana pode se tornar perene, indo muito além da morte ou das
intempéries, como as guerras. É sintomático que a descoberta seja de um navio
funerário. Ao financiar a descoberta, a viúva eterniza seu nome, transcendendo
a morte. O mesmo ocorre com o escavador, cuja autoria da descoberta foi
escondida pelos arqueólogos e só recentemente descoberta.
Tudo isso é contado de forma envolvente, com uma fotografia
belíssima e ótimas atuações. Destaque para um recurso que amplia as simbologias
do filme: constantemente as falas dos personagens são apresentadas em off,
muitas vezes quando imagens já mostram outros momentos. É como se as vozes dos
personagens estivessem se perpetuando no tempo, da mesma forma que as
descobertas arqueológicas.
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