domingo, fevereiro 28, 2021

A escavação



A morte, a descoberta do passado e o futuro incerto. Esses são os temas de Escavação, filme da Netflix dirigido por Simon Stone e estrelado por Ralph Fiennes e Carey Mulligan.

O filme conta a história da maior descoberta arqueológica na Inglaterra no século XX, um navio anglo saxão no qual foi enterrado um grande chefe com seu tesouro. A descoberta revelou objetos da Escandinávia, Egito e império bizantino, mudando a forma como os historiadores viam o século VI.

Essa sinopse pode dar a entender que se trata de uma obra de interesse apenas histórico ou para pessoas que gostam de arqueologia. Mas a forma como a história foi contada resultou num filme sensível e amplamente interessante.

Um dos destaques é a caracterização dos personagens. A história foca principalmente em uma viúva, que desconfia que sua fazenda esconde tesouros arqueológicos e contrata um escavador. Contrariando todas as previsões, inclusive de especialistas, eles fazem a descoberta. O escavador, que deveria ser apenas um trabalhador braçal especializado se revela um homem culto, o primeiro a perceber a importância da descoberta. A relação entre eles vai muito além da patrão-empregado: até mesmo o filho da viúva se torna extremamente apegado ao velho escavador.

Há dois fatos históricos que são explorados pelo filme como metáfora: a viúva está morrendo e a Inglaterra está prestes a entrar em guerra contra a Alemanha. A descoberta arqueológica torna-se assim um símbolo de como a herança humana pode se tornar perene, indo muito além da morte ou das intempéries, como as guerras. É sintomático que a descoberta seja de um navio funerário. Ao financiar a descoberta, a viúva eterniza seu nome, transcendendo a morte. O mesmo ocorre com o escavador, cuja autoria da descoberta foi escondida pelos arqueólogos e só recentemente descoberta.

Tudo isso é contado de forma envolvente, com uma fotografia belíssima e ótimas atuações. Destaque para um recurso que amplia as simbologias do filme: constantemente as falas dos personagens são apresentadas em off, muitas vezes quando imagens já mostram outros momentos. É como se as vozes dos personagens estivessem se perpetuando no tempo, da mesma forma que as descobertas arqueológicas.  

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