segunda-feira, março 24, 2025

A sangria universitária

 


É comum ouvirmos comentários depreciativos a respeito das universidades da região Norte. As críticas estão geralmente relacionadas à baixa capacitação dos professores, a baixa produção acadêmica e os poucos curso de pós graduação. O que pouca gente sabe, no entanto, é que existe uma verdadeira sangria de vagas das universidades da Amazônia para as universidades do sudeste. 

Funciona da seguinte maneira: professores do sudeste, geralmente mestres, fazem concurso para universidades da região Norte. Nesse meio tempo, fazem doutorado, normalmente com afastamento, já que os cursos de doutorado são raros na região. Quando voltam, já doutores, entram na justiça pedindo a remoção para uma universidade do sudeste. E remoção leva a vaga.E raramente um juíz nega o pedido. 

Praticamente não há curso de universidade da região norte que não tenha passado por algo semelhante, mas há casos extremos. Em um exemplo recente um curso que tinha oito professores perdeu dois professores para um curso de universidade da região sudeste. E o curso da universidade do sudeste, que tinha 32 professores, ficou com 34, enquanto que o da região norte ficou com 6. 

Em outro exemplo, um único curso perdeu metade das vagas para universidades do sudeste.

Com um número tão baixo de professores, provocado por essa sangria, os docentes ficam atolados de aulas e limitados apenas à docência nos cursos de graduação e às atividades administrativas, como coordenação de curso, coordenação de ACC, de estágio e de TCC. Sobra pouco tempo para pesquisa. Abrir um curso de mestrado e doutorado com tão poucos professores? Nem pensar.

Isso acaba gerando uma círculo vicioso. Com poucos programas de pós-graduação na região norte, quem faz concurso para professor das universidades da região norte geralmente são pessoas das outras regiões, em especial o sudeste. E são essas pessoas que depois vão levar as vagas para universidades do sudeste.

Em tempo: o mapa acima mostra a distribuição dos cursos de pós-graduação no Brasil. Os dados são de 2017, mas a situação pouco mudou. O grosso dos cursos se concentra na região sudeste e há pouquíssimos na região norte.

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