Criada no rastro da revolução científica que foi o surgimento da
cibernética, a teoria dos jogos é um interessante recurso científico para a
solução de conflitos. Criada por John Von Neumann e depois desenvolvida pelo
prêmio Nobel John Nash (do filme Uma mente brilhante), essa teoria parte do
princípio de que estamos, constantemente, jogando, seja na empresa, no
casamento, ou na relação com os amigos.
Existem dois tipos de jogos: os de soma zero e os de soma dois.
Nos jogos de soma zero, se uma parte ganha, a outra, obrigatoriamente, perde
(-1+1= 0). Nos jogos de soma 2, os ganhos de uma parte revertem em ganhos
também para a outra parte envolvida na contenda (1+1="2)."
Aparentemente, todos os jogos são do tipo soma zero. Em um jogo de
xadrez, todo mundo joga para ganhar, o que significará a derrota de seu
adversário. Em uma guerra, os países lutam para ganhar e, portanto, derrotar
seus adversários. Assim, para a maioria dos pensadores antigos, a melhor
estratégia em um jogo é procurar ter o maior ganho
individual.
As situações de jogo ganharam uma metáfora do famoso paradoxo do
prisioneiro. Nessse
dilema, dois bandidos são presos e colocados em selas separadas.
Os policiais, então, fazem a mesma proposta para cada um deles:
1 -. se os dois ficarem quietos e não denunciarem seu companheiro,
os dois serão libertados (nessa situação, os dois cooperam entre si).
2 - Se um deles denunciar o outro, mas o outro não o denunciar, o
que denunciou ficará livre, enquanto o outro pegará um ano de detenção.
3 - Se os dois denunciarem um ao outro, ambos ficarão presos,
juntos, por seis meses.
Na primeira situação, os dois cooperam entre si. Na segunda
situação, um coopera e o outro não. Finalmente, na terceira situação, nenhum
dos dois coopera. Detalhe: os bandidos estão em celas diferentes e um não sabe
o que o outro fez.
O que você faria em uma situação como essa?
De todas as possibilidades, a segunda é sem dúvida a pior. Se eu
coopero e o outro não, eu fico com todo o prejuízo e ele com todo o lucro.
A terceira opção também não é das melhores. Nesse caso, os dois
não cooperam e dividem o prejuízo. Além de que, os dois na mesma cela, sabendo
que um traiu o outro pode levar a algumas noites de sono.
A melhor opção seria, claro, os dois cooperarem. Mas é um jogo
arriscado, pois se eu cooperar, o outro pode não cooperar e, como já vimos,
essa é a pior solução.
A lógica nos diz que a melhor resposta seria não cooperar, ou
seja, trair. Mas John Nash demonstrou que isso é válido apenas para jogos com
uma única partida. Nos jogos com várias partidas, a melhor estratégia é começar
cooperando e fazer depois o que o outro fez na partida anterior. Se ele
cooperou, continuamos cooperando. Se ele traiu, nós o punimos traindo também.
As estatísticas demonstram que essa é a estratégia que garante melhores
resultados.
Na vida cotidiana, a maioria dos jogos é de várias partidas. As
relações entre patrões e empregados, marido e mulher, colegas de classe,
amigos, são sempre de várias partidas. O que a teoria dos jogos diz é se deve
começar cooperando. Deve-se iniciar com boa vontade, cooperando, confiando na
outra parte. Mas se a outra parte não cooperar, deve-se puni-la, não cooperando
na partida seguinte.
Há algum tempo, Robert Axelrod organizou um torneio para testar a
melhor estratégia diante do dilema do prisioneiro. Cada participante do torneio
deveria criar uma programação com uma estratégia para ser jogada em 200
partidas. A ganhadora, chamada de TFT(Tif For Tat) tinha quatro regras bem
simples, que podem ser usadas em partidas reais:
1 – Seja bacana. Nunca traia primeiro
2 – Seja vingantivo. Nunca deixe passar uma traição sem
retaliar na mesma moeda no lance seguinte.
3 – seja generoso. Se o outro voltar a cooperar, volte a
cooperar também.
4 – seja transparente. Deixe bem clara a sua estratégia.
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