A história “Noir”
publicada na revista Mephisto, da
editora ICEA surgiu meio por acaso. O Bené tinha recebido um roteiro do editor,
mas não gostou, achando o desenvolvimento óbvio demais. Estávamos discutindo
isso no ônibus, quando o Bené me disse:
- Quer
saber? Não vou ilustrar esse roteiro! Vamos criar outra coisa e mandar para
eles! E vamos criar agora!
E assim
começamos a conversar sobre como seria a história. Bené queria que ela tivesse
um clima noir. Eu lembrei de um filme que tinha esse clima e que sempre esteve
na minha relação dos 10 melhores: Coração Satânico, de Alan Parker.
Coração
satânico tinha uma estrutura na qual um detetive procurava por um homem
desaparecido. À medida em que a investigação avança, ele vai vendo todos os
seus informantes sendo mortos. No final, ele descobre que o homem que ele
procura é ele mesmo e o cliente é na verdade Lúcifer, para quem ele havia
vendido a alma.
Imaginamos
uma situação assim, mas com um contexto de vampiros, já que vampiros eram um
tema de terror clássico e, imaginávamos, iria agradar os editores. Assim, um
detetive investigava assassinatos em séries cometidos por um vampiro e, ao
final descobre-se que ele é o assassino.
Essa
história foi barrada pelo Diretor de arte, Dagoberto Lemos, assim que chegou na
editora. Ele argumentou que o desenho do Bené estava muito sujo e a história
era incompreensível. Quem nos salvou foi a editora, Neuza de Castro Luz, que
bateu o pé e foi falar com o dono da editora. Sua aposta valeu a pena: a
revista, que antes vendia 40% da edição, pulou para 70% naquele número.
É um desses
casos explicados pela teoria dos paradigmas: como não era da área, Neuza não
percebeu que nossa HQ não se encaixava no terror anos 60, típico de revistas
como a Mephisto e foi isso que fez com que ela conseguisse perceber as
qualidades da história.
Noir fez
tanto sucesso que a editora logo em seguida nos pediu mais uma história, nos
mesmos moldes. À essa altura nós já sabíamos que a HQ quase tinha sido recusada
e resolvemos fazer uma HQ que criticava o terror clássico, Decadence.
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