Quando assumiu o título do Monstro do Pântano, Alan Moore levou o terror a um novo patamar. O horror agora se tornara realmente apavorante, visceral, perturbador. A saga balé de enxofre (publicada em The Saga of The Swamp Thing 29, 30 e 31) foi um dos marcos dessa nova visão do horror.
A sequência inicial é um dos
melhores exemplos dessa nova abordagem. Vemos a casa de Abigail Cable, em
planos fechados, roupas jogadas no chão, fósforos semi-queimados, vidros de
perfume quebrados no chão. O texto diz: “Ela arrancou e rasgou a roupa toda do
corpo. Roupa suja, tinha lhe tocado a pele. Não adiantou tentar queimá-las. As mãos
apenas gastaram os fósforos. Na verdade, ela já estava levemente ensandecida. Era
o cheiro. Ela não conseguia se livrar do cheiro. No banho, gastou tudo que
havia de sabonete, xampu, perfume, aditivo, espumante... e nada de o cheiro
sair”.
A sequência inaugural mostra o tipo de terror visceral inaugurado por Alan Moore.
Quando o banho não resolveu,
ela foi até a cozinha, pegou a escova de arame usada para esfregar batatas e
começou a esfregar no corpo, numa tentativa vã de tirar o cheiro de insetos
queimados. Vinte minutos depois ela desmaiou. Mas mesmo assim, ainda sentia o
cheiro... em seus sonhos.
E nos deparamos com uma página
dupla, de Abby encolhida em posição fetal, o rosto ensandecido, insetos ao seu
redor e metade de seu corpo ocupado por uma sombra que reflete esqueletos, numa
arte impressionante repleta de hachuras de John Totlebene Stephen Bissette. Mais
à frente descobrimos que o cheiro vem do fato dela ter transado com seu tio,
que tomara o corpo de seu marido, o que torna a situação ainda mais doentia. Os
créditos são colocados logo abaixo do título “Amor e morte” e são entremeados
de insetos. Imagens de Abigail em tormento, envolta por insetos emoldura a
maioria das páginas desse primeiro capítulo da trama.
A página dupla é impressionante.
Quando lhe perguntaram qual
o segredo para escrever histórias de terror, Moore respondeu: veja o que lhe
provoca medo e use isso nas histórias. É o que vemos aqui. Moore utiliza arquétipos
universais de horror, a começar pelos insetos. Mas vai além e flerta com o
terror psicológico ao abordar o abuso sexual – ao longo da série ele abordaria
mais de uma vez relações abusivas com resultados igualmente surpreendentes.
Então a história sai do
pesadelo e vai para um flash back que parece um sonho. Matt, o marido de
Abigail, comprou uma bela casa e arranjou um emprego. Quando visitam o novo
quarto do casal, o texto avisa: “Foi aqui que o sonho tremelicou. Aqui se
escondia a coisa ruim, aqui um acre cheiro de carne fumegante, de insetos
subitamente penetrou nas narinas”.
Mas quando visitam o novo
emprego (Rio negro recorporações) que o terror se insinua mais forte, já desde
a fachada, com espectros sombrios observando da janela. Quando a porta se abre
e Abby conhece os colegas do marido por um instante ela consegue vê-los como
realmente são, cadáveres de psicopatas.
Moore usa psicopatas na história.
Essa é, provavelmente, a
primeira vez que um psicopata foi mostrada num quadrinho da DC Comics – e talvez
a primeira vez em todo o mercado americano. Assassinos em séries já existiam
antes. O Cavaleiro da Lua, por exemplo, enfrentara um que matava com uma foice.
Mas era sempre psicóticos, loucos, pessoas fora de si ou atormentadas por algum
trauma. Pessoas más, que vestem uma máscara de normalidade, mas matam por
prazer, são uma primazia de Moore.
Psicopatas voltam a aparecer
na história quando Moore, usando a técnica do mosaico, mostra como pessoas más
em todos os locais das redondezas de repente se revelam e vão na direção do
local onde está se passando a trama.
Alan Moore mostrando que o
verdadeiro, o grande terror, era o ser humano e sua maldade.
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