O CÓDIGO DA VINCI é
um livro de 2003, de Dan Brown. Publico abaixo uma resenha publicada por mim na época:
Brown escreve bem, apesar de algumas escorregadas (algumas
expressões destoam do restante e parecem chulas). Seu texto é claro, limpo, sem
cacoetes literatescos. E ele sabe transmitir de maneira fácil assunto
complexos.
O livro também se destaca pela ótima utilização do suspense.
Três níveis de narrativa deixam o leitor grudado nas páginas como só os grandes
mestres da literatura pop sabem fazer.
Quanto às teorias expostas no livro, o próprio autor as
expressa com ressalvas, uma atitude sensata, embora claramente o livro tenha
como inspiração da idéia do sagrado feminino, a noção de que a sociedade
ocidental passou a valorizar apenas o aspecto masculino, esquecendo o feminino.
Brown propõe a complementariedade masculino-feminino, yin-yang.
Para os que não sabem, o sagrado feminino, refere-se à
religião da deusa, que venerava a terra e as mulheres por sua capacidade de
gerar vida. Para os homens, o fato das mulheres darem à luz era um enigma que
fazia com que a mulher tivesse caráter divino, afinal, apenas Deuses têm a
capacidade de criar vida. As mulheres ficavam grávidas em uma grande festa na
primavera, em honra à Mãe Terra, em que todo mundo transava com todo mundo
(para quem não sabe, essa é a origem do carnaval). Um detalhe interessante é
que praticamente todas as mulheres engravidavam ao mesmo tempo e tinham seus
filhos antes do período de colheita, da qual participavam ativamente.
Em algum momento da evolução humana, os homens começaram a
perceber uma relação entre o sexo e o nascimento das crianças. A partir daí,
como forma de poder, os homens passaram a exigir exclusividade. As mulheres
eram trancafiadas e os rituais antigos em honra à Mãe Terra, foram proibidos.
Nesse momento o regime político saiu do matriarcado para
tornar-se patriarcal.
O livro acusa indiretamente a Igreja por essa
supervalorização do masculino, mas a situação é bem mais complexa.
Por um lado a visão católica romana, sãopaulina, seja de
fato conservadora e machista. Na Inquisição, a maior parte das pessoas que
morreram era mulheres acusadas de venerarem a Mãe Terra (as chamadas
feiticeiras).
No entanto, o culto ao sagrado feminino sobreviveu na Igreja Católica no culto à Nossa Senhora.
Por outro lado, uma das pessoas apontadas como mestres do
priorado de Sião e, portanto, protetores do segredo do graal, é Sir Isaac
Newton, talvez o maior responsável pela disseminação do pensamento cartesiano,
que divide a realidade em partes e certamente é importante para a dissociação
entre os aspectos complementares da realidade.
Bem, mas talvez eu esteja divagando. O que quero dizer é
que, apesar de algumas incoerências, o livro é uma leitura divertida. Vale a
pena ser lido.
Sem comentários:
Enviar um comentário