quinta-feira, agosto 26, 2021

O despertar da Mulher Invisível

 



De todos os personagens do Quarteto Fantástico, a de menor destaque sempre foi a Mulher Invisível. Seus poderes pareciam ser apenas defensivos e muitas vezes ela nem participava de fato das tramas. Alan Moore satirizou isso na minissérie 1963. Uma das revistas era uma paródia do Quarteto e a personagem equivalente à Mulher Invisível em determinado momento varria a sala enquanto os meninos liam e respondiam as cartas. E uma das cartas pedia sua saída do grupo: “ela não bate em ninguém e ninguém pode bater nela”.
Essa situação mudou radicamelmente na ótima fase de John Byrne no título (talvez a melhor depois da saída de Lee e Kirby do quarteto). Na história o Barão Ódio, com a ajuda do Homem-psíquico, incendeia Nova York estimulando o ódio entre a população.
A trama por si já seria relevante nos dias atuais, em que discursos de ódio se disseminam facilmente pela internet. Byrne reflete sobre como o ódio ao diferente parece estar sempre encomberto por uma fina camada de gelo, que pode ser facilmente quebrada. Assim, mutantes, judeus, qualquer um que seja diferente passa a ser caçado pela população.
E, em meio a isso, o Barão consegue dominar Sue Storm, transformando-a em Malícia, uma perigosa vilã e é quando seu poder é totalmente explorado. É como se a doce garota invisível fosse incapaz de perceber a extensão total de seus poderes – capazes de derrotar até mesmo a Mulher Hulk.

O desenho de Byrne, com arte-final de Jerry Ordway e Al Gordon se encaixa perfeitamente no título, seguindo a melhor tradição de Jack Kirby e atualizando-o para a década de 1980: perfeitos nas cenas de ação ou de ficção-científica, com exemplar equilíbrio entre quadros repletos de cenários e quadros minimalistas.
O problema é no roteiro. Byrne aborda aspectos importantes da personagem, como no momento em que o Homem-psíquico explora os medos da Mulher Invisível, mas não os aprofunda.
 Além disso, em determinado ponto os heróis vão atrás do Homem-psíquico e simplesmente esquecem o Barão Ódio, que foi quem de fato manipulou Sue, tirando dela seu pior lado. Byrne esquece do personagem. Além disso, em uma sequência vemos Nova York destruída e sendo literalmente incendiada pelo ódio e na sequência seguinte tudo pareceu resolvido.
Apesar desses problemas, é uma boa história do Quarteto e merece estar em qualquer coleção. 
No Brasil essas histórias saíram nos formatinhos do Abril e recentemente na coleção Os heróis mais poderosos da Marvel, da Salvat.  

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