terça-feira, março 01, 2022

Guerra Secretas: o gibi que marcou o fim da casa da idéias

 

Em 1980, A Marvel recebeu a proposta de uma indústria de brinquedos de lançar uma linha de bonecos. Para ensinar as crianças a brincarem com os bonecos, Jim Shotter, editor-chefe da Marvel bolou uma história grandiosa divida em 12 partes . Para isso, ele bolou uma série em 12 partes que mostraria os principais heróis e vilões da editora se enfrentando. O nome surgiu de uma pesquisa de mercado que mostrou quais as palavras que mais chamavam atenção das crianças nas lojas de brinquedos: Guerras Secretas. 

Em Guerras Secretas, uma entidade super-poderosa, denominada Beyonder, cria um planeta e transporta para lá os mais importantes personagens da editora. E avisa: destruam seus inimigos e todos os seus desejos serão realizados. 
Os personagens dividem-se entre heróis e vilões e começam os conflitos. Entre os heróis, há estranhamento pela presença de Magneto, um notório vilão dos X-men. Entre os vilões, começam as brigas pela liderança.
Entre os heróis havia vários medalhões da editora, como o Homem-aranha, X-men,  Vingadores, Hulk, Coisa. Do lado dos vilões, peso-pesados, como Doutor Destino, Lagarto, Ultron e Galactus. A presença de Galactus no time de vilões tem causado, até hoje, controvérsias. Criado por Jack Kirby e Stan Lee em uma aventura do Quarteto Fantástico da década de 1960, ele é uma entidade cósmica super-poderosa, capaz de devorar planetas inteiros. Sua presença no time de vilões desequilibraria qualquer disputa.
Para desenhar a história foi chamado Mike Zeck, que vinha se destacando nas histórias do Mestre do Kung Fu com seu traço elegante.
A história fez grande sucesso e remodelou a vida de vários personagens da editora. O mais afetado foi o Homem-aranha, que ganhou um uniforme preto, fruto de uma simbiose com um ser alienígena. Posteriormente esse uniforme se transformaria no vilão Venon.
Guerra Secretas foi muito bem resumida por uma funcionária da Marvel responsável pelo mercado direto: “Guerras Secretas é ruim, mas vendeu muito bem!”.
Dizem que Jim Shotter pediu tantas mudanças nos desenhos que, ao terminar, mandou para o desenhista Mike Zeck uma garrafa de champanhe. Zeck abriu a g Zeck foi perdendo o gosto de desenhar a história e piorando o traço. Quando terminou, Shotter mandou uma garrafa de champanhe para o desenhista. Este abriu e jogou todo o conteúdo na pia.
O sucesso de Guerras Secretas provocou uma grande mudança na Marvel. Até então eram os criadores, em especial o roteirista, que tinham controle sobre a revista. Guerras Secretas tinha sido toda pensada pelo departamento de marketing, a começar pelo título. A partir daí o departamento de marketing passou a ditar os rumos das revistas em detrimento da equipe criativa. E estratégias para gerar burburinho e aumentar momentaneamente as vendas se tornaram uma prática comum. A Marvel deixava de ser a Casa das Ideias para se tornar a Casa do departamento de marketing.   
No Brasil a história foi lançada em 1986 para servir de divulgação para a linha de bonecos da Gulliver. Mas os heróis estavam atrasados em relação à cronologia americana e, para adequar essa inconsistência, a série foi cortada e mutilada. Até mesmo personagens, como Vampira e Capitã Marvel, foram apagados e o final da saga foi totalmente modificado para se adequar ao momento que a Marvel vivia no Brasil. Ou seja: o que já não era bom, ficou ainda pior.

1 comentário:

Euler disse...

De fato, a gente percebe uma mudança no estilo de Mike Zeck ao longo da série. E não é uma história que eu chamaria de "clássica", e sim de "cult", quero dizer, não tem grande qualidade, mas marcou a época.