Grimórios, escritos de poder, encantamentos e invocações de entidades sobrenaturais, maldições e assassinatos misteriosos. Estes são alguns dos temas (ou seria melhor dizer “mitemas”?) geradores de uma irresistível atração por aquilo que nos atemoriza. Os diálogos com aquilo que não podemos compreender ou que representa aquilo que há de pior na condição humana são sempre sedutores e o são devido a uma verdade inconveniente: a de que podemos ser tão terríveis quanto as criaturas abjetas que povoam o imaginário.
Efetivamente, competir com a realidade não é algo fácil, não em se tratando de construir narrativas apavorantes. Vivemos muitos momentos históricos tão ou mais terríveis que as mais celebradas histórias de horror. Com as comunicações digitais cada vez mais avançadas e disponíveis, todas as atitudes horripilantes inerentes à natureza humana ganharam uma visibilidade nunca antes atingida. Isso vale para a difusão massiva de literatura como a de H.P. Lovecraft, cuja obra inspirou nosso título, mas vale igualmente para algo que talvez seja ainda mais aterrador: a percepção de que muitas pessoas, podem ter atitudes e concepções terríveis como as de monstros de qualquer narrativa demoníaca. Você as conhece. Elas estão ao nosso redor, na forma de pessoas famosas ou anônimas, gente que dificilmente imaginaríamos de modo tão sombrio. São muitas. Esperam uma oportunidade para emergirem de seus poços fétidos. Terão sempre uma oportunidade. A surpresa é que uma parte dessa imundície pode ter lhe atingido, mesmo apenas parcialmente.
Como dito acima, Lovecraft, com os horrores de seu “Necronomicon - o livro dos nomes mortos”, inspirou nossos “diálogos com o abismo”. NECROLOQUION, no entanto, segue numa direção um tanto diferente: os diálogos com os mortos ou com aquilo que está várias camadas abaixo da superfície consciente é a principal tônica dos 8 contos que o leitor irá encontrar nesta antologia cujas jornadas perpassam tempos idos e a contemporaneidade, fazendo-os convergir nas insatisfações mais presentes. Ela é organizada pelo artista, professor e escritor Carlos Hollanda, com uma tenebrosa e luxuosa plêiade de autores muito experientes.
Cada autor possui uma trajetória bem diversificada, transitando pela Literatura de diferentes gêneros, pelas Artes Visuais, pela Animação, pelas Histórias em Quadrinhos e pelo Cinema, seja como autores, consumidores ou pesquisadores. Da mesma forma, a multiculturalidade do grupo é um de seus pontos fortes: provêm de várias cidades, Estados e andanças pelo Brasil ou pelo mundo. Por isso mesmo, cada conto é independente, seguindo em direções inusitadas, ora se adequando a um dado subgênero do Terror, ora mesclando vários deles numa só narrativa.
A obra é primorosamente lançada pelo selo Viés/Caligari e está em financiamento coletivo no Catarse.
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