O lançamento do primeiro número do Quarteto Fanstástico, em novembro de 1961, mudou para sempre o mercado de quadrinhos norte-americanos. De uma editora decadente, que se resumia a Stan Lee e uma secretária, a Marvel (que na época não se chamava Marvel), começou uma caminhada que a transformaria na grande estrela do mercado, superando a gigante DC ainda na década de 60.
A leitura desse primeiro gibi (disponível no número dois da Coleção Clássicos Marvel), permite observar alguns segredos desse sucesso, a começar pela impressionante capa de Jack Kirby com o quarteto envolvido numa luta contra um monstro que surge das profundezas. A capa inteira é um exemplo perfeito de composição em que tudo funciona harmonicamente, com os elementos muito bem distribuídos, incluindo os balões de diálogos. “Eu não consigo ficar invisível rápido o bastante! Como vamos deter essa criatura, Tocha?”, pergunta Sue, enquanto seu irmão responde: “Espere e verá, irmã! O Quarteto Fantástico só começou a lutar!”.
Aqui temos várias inovações. Entre elas, o sentido de família, que iria ser a principal característica do título em todo esse tempo. Ao contrários de outros grupos de heróis, que se encontram aleatoriamente, os quatro vivem juntos, são uma família e enfrentam todos os problemas relacionados a isso, o que era uma tremenda novidade na época. Dá para imaginar a sensação que essa capa causou entre os garotos do início da década de 60.
Os autores criam mistério para instigar a curiosidade do leitor. |
O miolo também não deixa por menos. Os personagens são apresentados de forma a instigar a curiosidade do leitor. Reed atira um sinalizador, chamando o restante da família para o edifício Baxter, mas não vemos seu rosto. Então acompanhamos cada membro do quarteto vendo o sinal e respondendo ao chamado. Eles são apresentados de forma a instigar ainda mais o leitor, muitas vezes com toque de humor. Sue, por exemplo, fica invisível para pegar um taxi invisível, deixando o taxista aturdido.
Só quando atendem o chamado é que a narrativa paralisa e nos é contada a origem do grupo. E aqui mais uma inovação: a história é dividida em capítulos, sempre iniciados com uma imagem de impacto (posteriormente Jack Kirby usaria splash pages).
A demonstração dos poderes dos personagens é bem-humorada. |
A razão pela qual foram chamados: monstros estão surgindo das profundezas e destruindo usinas nucleares, um enredo que remetia diretamente aos gibis de monstros da Atlas na década de 50, versões suaves dos quadrinhos de terror.
Então, o Quarteto não só era uma família, era também um título que unia super-heróis, terror e ficção científica!
O vilão, o Toupeira, é apresentado como alguém rejeitado pela sociedade em razão de sua feiúra, que indo para o centro da terra se torna cego. Já ali observamos algo que caracterizaria os vilões da Marvel: nenhum deles era mal por ser. Todos eles tinham uma motivação, uma razão para suas ações.
Tirando um outro deslize (à certa altura o Sr. Fantástico tira de ação, jogado no mar, um monstro que tem asas!), é uma edição deliciosa de ler e totalmente inovadora.
Sem comentários:
Enviar um comentário