A Igreja de Santa Maria do Mar é uma das principais construções góticas de Barcelona. Iniciada em 1329, ela se destaca por ter sido construída não pela igreja católica, ou pelos nobres, mas pelo próprio povo. Quem não podia contribuir com dinheiro, contribuía com trabalho, como os carregadores, que levavam pedras para a igreja. Essa igreja é o cenário da série espanhola A catedral do mar, lançada aqui pela Netflix.
A história começa com um agricultor que se casa com uma linda camponesa. Quando a festa de casamento parece o auge da felicidade, o senhor feudal aparece e exige o direito de tirar a virgindade de noiva. As núpcias do casal acontecem assim: com a noiva machucada e o o noivo obrigado a isso para diversão do nobre.
Esse início dá o tom da série: é uma trama cujos dramas se sucedem quase initerruptamente. Nesse sentido é um verdadeiro dramalhão mexicano, mas se diferencia desses pelo conteúdo histórico. Ao expor as relações de poder na Idade Média, a série mostra o quanto os pobres e em especial as mulheres pobres eram estigmatizados e abusados pelas classes nobres e até mesmo pela igreja: uma simples acusação de bruxaria poderia levar uma mulher à fogueira da inquisição.
O protagonista da série é o filho desse casal, Arnau, um sobrevivente. Quando finalmente nasce, sua mãe é requisitada para ama de leite do filho do senhor e, sem leite, ele está para morrer de fome. O pai invade o palácio e foge com o filho para Barcelona, um burgo, um local em que servos ganhavam a liberdade após um ano. Mas lá em Barcelona ele se depara com infinitos outros problemas, de relações de trabalho desiguais à fome.
Seu filho acaba conhecendo um garoto, João, cuja mãe foi aprisionada pelo marido. Nessa época, ao desconfiar que a esposa lhe era infiel, o marido tinha o direito de prendê-la num cômodo sem saída, apenas com uma janela para se jogar água e comida.
Os dois, Arnau e João, se tonarão como irmãos e passarão por todas as dificuldades da vida na Idade Média: as guerras, a fome, a peste, que dizimava famílias inteiras. E, durante todo esse tempo, Nossa Senhora do Mar será como uma mãe para eles, consolando-os nos momentos de aflição e ajudando-os a superar os desafios. É curioso que, numa época em que as mulheres eram estigmatizadas como seres demoníacos, tenha se estabelecido um culto tão popular a uma mulher.
Descontando o melodrama excessivo, a catedral do mar é uma boa série para quem gosta de história e uma trama que prende por seu desenvolvimento e seus personagens carismáticos.
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