O número 75 da revista
Swamp Thing trouxe uma das histórias mais marcantes da fase de Alan Moore à
frente do título.
Desenhada por Stan Woch e
Ron Randall, a história mostra um hippie, Chess, achando no pântano um
turbéculo que caíra do corpo do Monstro do Pântano. Era o mesmo fruto que o
personagem dera para Abbe Cable na polêmica edição em que os dois “transam”.
O hippie estuda o
turbéculo e conclui que ele é um tipo de alucinógeno. É quando ele recebe a
visita de um amigo, Dave, cuja esposa está morrendo de câncer: “Ela sabe que
vai partir logo. Disseram que o câncer é inoperável e ela respondeu que
preferia estar em casa quando chegasse a hora, mas... o pior são as dores...
ela tá sofrendo muito, cara”. Ele quer algo para aliviar as dores dela e acaba
recebendo um pedaço do turbéculo.
Mal este sai, Chess recebe
mais uma visita: Milo. Este, ao contrário da visita anterior, é um indivíduo
abusivo, que simplesmente toma para si um pedaço do tubérculo e vai embora.
A dinâmica da história
oscila assim, entre esses dois polos: a experiência da mulher com câncer e seu
marido com o alucinógeno em constraste com a experiência de Milo. O próprio
Chess, ao ouvir os relatos posteriormente, conclui que o fruto desperta aquilo
que a pessoa é. Pessoas boas têm uma ótima viagem, pessoas más têm verdadeiros
pesadelos.
Assim, enquanto o casal
tem uma experiência transcendental na qual a mulher encontra a paz para aceitar
a morte, Milo se vê como um monstro num mundo de monstros (e aqui o desenho
aproveita para colocar diversos monstros que já haviam aparecido em fases
anteriores da revista).
O alucinógeno desperta o que a pessoa tem no íntimo. Milo vê o mundo como pesadelo.
Numa das introduções aos
encadernados do personagem, Alan Moore escreveu que ninguém mais lia poesia – e
os quadrinhos eram uma forma de trazer a poesia de volta para as pessoas.
Essa história é um dos
melhores exemplos disso.
“Tá tudo se molhando...
enquanto a água muda de sólida para líquida para gasosa no movimento ao redor
do planeta. E tem pingentes de gelo separados que derretem e somem, poças
separadas que secam e se vão... mas não deixam de existir. Só mudam de estado.
Veja, pingentes de gelo, assim como flocos de neve, são únicos, cada um com sua
própria bela forma. E, quando derrete, a perde para sempre. É onde estou agora.
Ainda tenho minha própria forma. Gosto dela e não quero perdê-la, mas pingentes
de gelo têm medo do sol”, diz a mulher, num diálogo que reflete tanto a poesia
quando a filosofia de Alan Moore.
Enquanto as sequências de Milo são escuras, as sequências da mulher com câncer são luminosas.
Enquanto isso, o
mau-caráter Milo reflete sobre suas experiência: “Deus, então é assim que o
mundo é de verdade. Agora tô vendo, nós todos somos monstros! Coisas deformadas
vivendo no inferno. Tudo morre e apodrece. Tudo se enche de insetos...”.
Vale destacar o ótimo
trabalho dos desenhistas, que consegue transmitir visualmente cada situação. As
sequências com o Milo são escuras, repletas de hachuras, cores vermelha e verde.
Já a sequência com o casal é luminosa, com traço limpo e cores azul e amarelo.
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