quarta-feira, agosto 17, 2022

Monstro do Pântano – Fruto Maduro

 


O número 75 da revista Swamp Thing trouxe uma das histórias mais marcantes da fase de Alan Moore à frente do título.

Desenhada por Stan Woch e Ron Randall, a história mostra um hippie, Chess, achando no pântano um turbéculo que caíra do corpo do Monstro do Pântano. Era o mesmo fruto que o personagem dera para Abbe Cable na polêmica edição em que os dois “transam”.

O hippie estuda o turbéculo e conclui que ele é um tipo de alucinógeno. É quando ele recebe a visita de um amigo, Dave, cuja esposa está morrendo de câncer: “Ela sabe que vai partir logo. Disseram que o câncer é inoperável e ela respondeu que preferia estar em casa quando chegasse a hora, mas... o pior são as dores... ela tá sofrendo muito, cara”. Ele quer algo para aliviar as dores dela e acaba recebendo um pedaço do turbéculo.

Mal este sai, Chess recebe mais uma visita: Milo. Este, ao contrário da visita anterior, é um indivíduo abusivo, que simplesmente toma para si um pedaço do tubérculo e vai embora.

A dinâmica da história oscila assim, entre esses dois polos: a experiência da mulher com câncer e seu marido com o alucinógeno em constraste com a experiência de Milo. O próprio Chess, ao ouvir os relatos posteriormente, conclui que o fruto desperta aquilo que a pessoa é. Pessoas boas têm uma ótima viagem, pessoas más têm verdadeiros pesadelos.

Assim, enquanto o casal tem uma experiência transcendental na qual a mulher encontra a paz para aceitar a morte, Milo se vê como um monstro num mundo de monstros (e aqui o desenho aproveita para colocar diversos monstros que já haviam aparecido em fases anteriores da revista).

O alucinógeno desperta o que a pessoa tem no íntimo. Milo vê o mundo como pesadelo. 


Numa das introduções aos encadernados do personagem, Alan Moore escreveu que ninguém mais lia poesia – e os quadrinhos eram uma forma de trazer a poesia de volta para as pessoas.

Essa história é um dos melhores exemplos disso.

“Tá tudo se molhando... enquanto a água muda de sólida para líquida para gasosa no movimento ao redor do planeta. E tem pingentes de gelo separados que derretem e somem, poças separadas que secam e se vão... mas não deixam de existir. Só mudam de estado. Veja, pingentes de gelo, assim como flocos de neve, são únicos, cada um com sua própria bela forma. E, quando derrete, a perde para sempre. É onde estou agora. Ainda tenho minha própria forma. Gosto dela e não quero perdê-la, mas pingentes de gelo têm medo do sol”, diz a mulher, num diálogo que reflete tanto a poesia quando a filosofia de Alan Moore.

Enquanto as sequências de Milo são escuras, as sequências da mulher com câncer são luminosas. 


Enquanto isso, o mau-caráter Milo reflete sobre suas experiência: “Deus, então é assim que o mundo é de verdade. Agora tô vendo, nós todos somos monstros! Coisas deformadas vivendo no inferno. Tudo morre e apodrece. Tudo se enche de insetos...”.

Vale destacar o ótimo trabalho dos desenhistas, que consegue transmitir visualmente cada situação. As sequências com o Milo são escuras, repletas de hachuras, cores vermelha e verde. Já a sequência com o casal é luminosa, com traço limpo e cores azul e amarelo.

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