Agatha Crhistie não só é um das mais famosas autoras policiais. É também uma das mais inventivas escritoras do gênero, criando formulas que seriam repetidas à exaustão por outros autores (como a trama de pessoas num local fechado que começam a morrer uma a uma). Mas era também alguém que conseguia subverter e satirizar as regras do gênero que ajudara a estabelecer.
É exatamente o que vemos em O mistério dos sete relógios.
A trama começa numa casa de campo. Um grupo de jovens resolve dar uma lição no incorrigível Gerry Wade, incapaz de acordar antes das 11 da manhã. Eles compram 8 relógios e os colocam para despertar logo cedo em seu quarto. Mas na manhã seguinte, mesmo com a barulheira infernal, ele não acorda. Quando vão verificar, descobrem que ele está morto.
A polícia acredita que se trata de uma overdose de sonífero, mas a situação faz com que um grupo comece a investigar as circunstâncias estranhas, entre elas o fato de um dos relógios ter sido jogado no jardim e sete dos relógios terem sido organizados sobre a lareira. A trama esquenta quando um dos jovens que estava na casa aparece baleado.
Por trás desse crime parece estar um grupo secreto de sete pessoas que se identifica como horas e parece ter conexões com a máfia.
A protagonista é Bundle, uma garota corajosa, que dirige perigosamente e não consegue parar quieta.
Um diálogo dela com o pai, fina peça de humor, dá o toque do romance:
- Nem cheguei a Londres – explicou Bundle. – Atropelei um homem.
- O quê?
- Só que não foi bem assim. Ele já tinha levado um tiro.
- Mas de que jeito?
- Sei lá. Só sei que levou.
- Mas porque você deu um tiro nele?
- Não fui eu quem deu.
- Você não devia andar dando tiros por aí.
O trecho mostra o tom leve e divertido do livro. A obra brinca com chavões das histórias policiais pulps, repletas de sociedades secretas e entrega um final supreendente exatamente por brincar com esses chavões.
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