A guerra de tróia é um dos
episódios mais importantes da história ocidental, tendo dado origem aos poemas
Ilíada e Odisseia, base da civilização grega e da literatura clássica.
Assim, adaptar a história para uma
minissérie é uma responsabilidade imensa. Foi essa responsabilidade que David Farr assumiu para a BBC britânica. O
resultado, Troia, a queda de uma cidade, é um daqueles tesouros escondidos da
Netflix.
Lançada em 2018, a série
começa com Páris já adulto, sendo criado como pastor. Ainda como pastor, ele
recebe a visita de três deusas, Hera, Atena e Afrodite. Páris deve ser o juiz
de uma disputa sobre qual a deusa mais linda, que terá direito a uma maçã de
ouro. Cada uma delas lhe faz uma oferta. Hera promete que ele será o homem mais
poderoso de sua época. Atena promete a ele sabedoria e vitória nas batalhas.
Afrodite lhe promete a mulher mais bonita do mundo. Páris escolhe
Afrodite.
Ao visitar a capital do
reino, Troia, ele descobre que é o filho do rei, supostamente levado quando
criança por lobos. Agora um príncipe, ele vai em missão oficial a Esparta,
onde, para sua surpresa, deverá se casar com a filha do rei. Mas ele se
apaixona por Helena, a rainha, considerada por ele a mulher mais bela que já
existiu, que acaba fugindo com ele. Como resposta por esse ultraje, os
principais guerreiros gregos se reúnem para castigar Tróia, numa guerra que irá
durar 10 anos.
Confesso que uma das minhas
curiosidades ao começar a assistir foi imaginar quem seria a atriz que
interpretaria Helena, considerada a mulher mais bonita de sua época. A escolha
recaiu sobre a atriz alemã Bella Dayne, tão bela quanto talentosa e
desconhecida no Brasil. Dayne consegue dar à personagem todo o peso dramático
que não estamos acostumados a ver em representações sobre a guerra de Tróia.
Aliás, esse é um dos pontos
positivos da série. Ao mostrar o ponto de vista das mulheres e, ao mesmo tempo
dos troianos, ela quebra com a norma de produções anteriores, que são focadas
quase que exclusivamente nos homens gregos.
Outro aspecto que merece
destaque – e que se diferencia de produções anteriores sobre o mesmo tema – é a
forma como os deuses são mostrados, com os atores andando em meio aos mortais
sem serem vivos, influenciado as batalhas, por exemplo. Uma solução simples,
mas efetiva.
Há um outro fator curioso na
produção: a introdução de atores negros para papéis como Aquiles, Zeus, algumas
das amazonas e outros. Nesse sentido, a série peca por não tentar explicar
isso. A série Sandman, por exemplo, consegue fazer isso de forma muito
orgânica. Não seria difícil explicar esses fatos, considerando-se a proximidade
da Grécia com a África. Entretanto, o estranhamento é apenas no início e a boa
atuação dos atores negros, a exemplo de David Gyas, que interpreta Aquiles,
acaba conquistando o expectador.
A opção por centrar sua narrativa
nos troianos e no casal apaixonado Páris – Helena foca muito mais no drama do
que no épico e nas grlórias das batalhas. Ao contrário, a guerra aqui é
mostrada em toda a sua crueza, com o massacre de inocentes, pessoas
escravizadas, as mulheres violadas. Apesar de ter sido responsável pela
estratégia que leva os gregos à vitória (o famoso Cavalo de Tróia), é Odisseu
(brilhantemente interpretado por Joseph Mawle) que melhor representa essa
percepção sobre o horror da guerra. Não
por acaso, sua primeira aparição na série é exatamente se passando por louco
para não ser recrutado para o conflito. Aliás, a impressão que temos ao
assistir a série é de que Menelau embarca na guerra muito mais por seu orgulho
ferido que por de fato amar Helena, vista por ele muito mais como um prêmio.
Em tempo: eu me senti
realmente agoniado com a burrice dos troianos, incapazes de qualquer atitude ou
estratégia militar minimamente inteligente. Talvez Páris devesse ter aceitado o
presente de Atena...
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