Desde os 17 anos eu mantive um diário. Na época eu estava estudando para o vestibular e o diário servia como uma espécie de válvula de escape no meio de tanto stress e estudos. Mas, ao contrário da maioria das pessoas que eu conhecia e que mantinham um diário, eu raramente anotava fatos do dia. A maioria dos textos eram sobre minhas leituras, os filmes que eu assistia, exposições que eu visitava, etc, além de ensaios de contos, crônicas e até roteiros de cinema. Tinha também uma relação dos livros que eu pegava na biblioteca. Relendo, descubro que lia, religiosamente, um livro por semana.
Relendo-o, descubro que no dia 21 de setembro de 1988, visitei a exposição Langsdorff. Fiquei tão fascinado com a história que consegui, no jornal local, uma reprodução de um desenho de Florence e grudei no diário, com a referência de que ele fizera parte da expedição. No mês seguinte, assisti Feliz Ano Velho, filme de Roberto Gervitz baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva. Além de imagens de filmes e livros e até desenhos, muitas vezes eu registrava curtas resenhas sobre as obras com as quais tinha contato.
Folhear o diário é um pouco como visitar o meu blog. Sem querer, ao criar o Ideias de Jeca-tatu, eu reproduzi o que já fazia no meu diário. Criado em 2003, numa época em que a maioria dos blogs era composto de fofocas que só interessavam aos autores e a um pequeno grupo de pessoas, esse era um blog diferente.
Ideias de Jeca-tatu era o nome do fanzine que produzi durante toda a década de 1990 e que, em muitos sentidos, substituiu o diário. O título era uma referência a um dos mais importantes livros de Monteiro Lobato, no qual ele registrava suas ideias sobre a arte e literatura do Brasil no início do século. “O Jeca-tatu não pensa, escreveu Lobato. Mas se pensasse, suas ideias seriam assim”.
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