Em 2012 um assassinato chocou o país e chamou atenção de toda a imprensa. Marcos Matsunaga, um dos donos da empresa alimentícia Yoki desapareceu enquanto a família negociava a venda da empresa Yoki para uma multinacional. No começo suspeitou-se de sequestro, mas as investigações mudaram de rumo quando o corpo do empresário foi encontrado, desmembrado, numa mata. A partir daí, a esposa se tornou a principal suspeita.
Presa, Elize Matsunaga confessou o crime. Segundo Elize, Marcos havia sido morto durante uma discussão do casal após ela descobrir que ele tinha uma amante.
Seu julgamento gerou um enorme interesse na mídia e no público e detalhes sobre a vida do casal foram aparecendo. Descobriu-se, por exemplo, que Elize era uma prostituta de luxo e que Marcos era frequentador assíduo de sites de prostituição, a ponto de ter um perfil fake no qual comentava os encontros e dava nota para as meninas.
Em 2019 a diretora Eliza Capai conseguiu entrevistar Elize durante uma saída da prisão e assim surgiu o documentário Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime.
O documentário tem sido criticado por pesar a mão a favor de Elize, destacando o machismo e o sensacionalismo por trás do caso (de fato, casos semelhantes em que o assassino é um homem não ganharam tanta repercussão). Esse aspecto é percebido principalmente no terceiro capítulo, que nitidamente tem o objetivo de humanizar Elize.
O documentário é válido principalmente por revelar os meandros da investigação criminal e as estratégias da promotoria e da defesa (à certa altura o advogado de defesa chega a comemorar o sucesso de determinadas estratégias).
Independente de qualquer outra questão, o doc deixa mais perguntas do que respostas. Elize seria uma psicopata? Marcos também seria um psicopata? Os dois pareciam ter uma relação de cumplicidade inusitada. Tinham um verdadeiro arsenal em casa, com os mais variados tipos de armas. A diversão predileta do casal era caçar – e uma grande quantidade de cabeças de animais empalhadas são uma constante no documetário.
E tinham uma cobra. Uma cena, gravada por Elize, tendo Marcos ao lado, parece reveladora. Um ratinho branco é colocado no viveiro da cobra e o casal comenta enquanto a cobra se prepara para atacar. Ambos parecem extremamente frios e se divertem com a situação de desespero do rato. À certa altura, Elize se revolta com o fato do roedor ter se mijado de medo. De todo o documentário, talvez seja esse o trecho que melhor revele quem eram Marcos e Elize Matsunaga.
Em tempo: o documentário está disponível na Netflix.
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