Embora o primeiro número do gibi do Homem-animal tivesse
chamado a atenção pela qualidade do texto de Morrison e por sua visão descolada
de um personagem menor da DC, seria no número dois que os leitores iriam
perceber o quanto essa nova série era revolucionária.
No número anterior, o herói é chamado por um laboratório que
tinha sido invadido por uma barata do de dois metros de altura. “Todos sabemos
que isso é fisiologicamente impossível, pois o esquema de respiração traqueal
dos insetos só é eficaz até um certo tamanho”, explica o cientista, numa
demonstração de como Morrison pesquisava para escrever suas histórias.
Para seguir o rastro do invasor, o Homem-animal absorve a
capacidade olfativa de cachorros usados nas experiências do laboratório – e
aqui temos um breve relance do tema principal dessa saga, os abusos praticados
contra animais em experiências científicas. O personagem sai do local se
sentindo mal e comenta: “Eu preferia um cachorro saudável”.
Um garoto pede autógrafo: pensei que você fosse o Aquaman.
O herói está lanchando no alto de um prédio quando de repente aparece o Super-homem, num interlúdio levemente cômico, que brinca com o fato do personagem ser praticamente desconhecido dos leitores da DC. Também há uma demonstração de que Homem-animal era um gibi que não se levava tão a sério, com a sequência em que o garoto pede autógrafos para o herói para logo depois descobrir, frustrado, que não se trata do Aquaman.
Mas essa pausa dura pouco. ele é atacado por um homem-rato
(e aqui percebemos que o personagem misterioso que vimos desde o primeiro
número tem a capacidade de unir dois seres, formando um só).
Pela lógica dos quadrinhos de super-heróis, o Homem-rato
seria facilmente derrotado, mas não é o que acontece. Depois de bater muito no
herói, o monstro simplesmente... arranca o braço do mesmo.
A sequência inteira é absolutamente memorável tanto pela
total quebra de expectativa quanto pela qualidade do texto de Morrison aliada a
um bom senso narrativo de Chas Troug. “Eu tento bater. Tento um belo murro.
Mas... mas aí nada. Meu Deus. Santo Cristo. O braço... meu braço!”. E vemos o
braço caído no meio do lixo e depois o personagem olhando assustado para o
tronco e depois desmaiando.
O texto de Morrison é muito eficiente, apesar de curto.
Aliás, o Homem-animal tinha, em média menos texto que outros gibis da época, o
que mostra que a qualidade é mais importante que a quantidade.
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