sábado, setembro 30, 2023

TEA e TDAH

 

Aos 52 anos descobri que sou autista nível 2 e TDAH. Eu poderia dizer que estou surpreso, mas estaria mentindo.

Entre as minhas lembranças mais antigas está está aquela em que eu me sentia extremamente incomodado com o contato da roupa contra a pele. Fazia frio, estávamos fazendo uma viagem de trem e minha avó me colocou um agasalho. Eu devia ter uns quatro anos.

Durante a minha infância morei no sul de Minas um local que naquela época dominava um silêncio tranquilizador, mas quando nos mudamos para Belém, uma das minhas lembranças era o som alto da vizinha e eu com uma dor de cabeça terrível.

Descobrir o autismo explica porque eu fico totalmente atordoado com som alto a ponto de já ter tido inclusive crises de labirintite labirintite.

Foi também em Belém que percebi pela primeira vez a minha total inabilidade social. Quando fazia a crisma ao final da aula o grupo se reunia entre conversas e risos. Eu me mantinha afastado. Eu conseguia conversar com uma pessoa em particular, mas tinha muita dificuldade com grupos, pois não conseguia acompanhar o fluxo da conversa. Da mesma forma, quando conhecia alguém, não tinha a menor ideia de como puxar assunto.

Olhando as fotos dessas época, percebo que a questão da hiper-sensiblidade da pele provocava um efeito cômico. Eu era muito magro e parecia que eu tinha roubado todo o meu guarda-roupa de alguém com 30 quilos a mais.

Havia claro também também a dificuldade com o contato físico. Eu odiava pessoas que me tocavam enquanto falavam comigo, mas mesmo algo mais simples como um aperto de mão é no máximo tolerável. Pessoas desconhecidas que me abraçavam? Ah isso com certeza me deixava desconfortável!

Quanto ao hiper-foco, é óbvio. Na primeira oportunidade, lá estava eu falando de quadrinhos. Por sorte, na época em que esse hiper-foco principal se desenvolveu (década de 1980, época de Watchmen e Cavaleiro das Trevas), muitas pessoas liam quadrinhos e era fácil encontrar alguém para conversar sobre o assunto.

Eu tinha também a tendência a me isolar. Enquanto a maioria das pessoas tem um verdadeiro pavor da solidão, eu consigo lidar muito bem com isso. Alguns dos momentos mais felizes da minha vida eu estava ou sozinho ou acompanhado de um pequeno grupo de amigos ou familiares. Não lembro de uma única ocasião em que eu estivesse em um grupo grande e me sentisse ao menos confortável.

Pode-se se perguntar por que nas gerações antigas raramente um indivíduo era diagnosticado com autismo. A razão disso é que dificilmente alguém pensava que aquela pessoa com comportamento divergente era autista. Na maioria das vezes essa pessoa só era vista como estranha.

1 comentário:

F_lo_rencio disse...

Senhor Ivan, obrigado pelos seus escritos compartilhados e pelo blog sempre interessante