A diretora brasileira Ana Muylaert parece ter uma predileção por histórias sobre pessoas com uma vida pacata que acaba sendo abalada e virada de ponta cabeça por um evento qualquer. Nós já vimos isso em Durval discos no qual o dono de uma loja de LPs tem o seu cotidiano impactado pelo surgimento de uma criança.
O mesmo esquema pode ser observado em Que
horas ela volta?, filme de 2015.
Na trama, Val é uma empregada doméstica que
sai do nordeste em busca de melhores condições de vida. Depois de uma década
inteira na casa de uma família de classe média alta, ela descobre que a filha
está indo para São Paulo prestar vestibular. Como mora com os patrões, a única
opção é abrigar a garota lá, o que gera toda a reviravolta da história.
A chegada da garota abala a estrutura social
da casa. Para começar, o patrão simpatiza com ela e permite que use o quarto de
hóspedes. Esse pequeno fato vai provocando outros e outros, como uma bola de
Neve. Um dos resultados é que Val começa a questionar sua condição social,
demarcada por fatos simples, como não consumir o mesmo sorvete dos patrões ou
não poder entrar na piscina.
Que horas ela volta? é um filme que pode ser
abordado sob os mais diversos aspectos: as relações de classe, o conflito de
gerações, as crianças que são criadas por empregadas ou babás porque suas mães estão muito ocupadas e até a
invisibilidade social, a exemplo da cena em que Val serve canapés e é
simplesmente ignorada por todos.
A atuação de Regina Case tem sido muito
elogiada e com razão. Ela incorpora a personagem com perfeição. Mas Camila
Márdila tem uma atuação soberbada como a filha da empregada. As duas atrizes,
inclusive, dividiram o prêmio Prêmio World Cinema Dramatic Especial Jury por
sua atuação na película.
Um curiosidade para os fãs de quadrinhos: o
personagem José Carlos, o pai de família, é interpretado por ninguém menos que Lourenço
Mutarelli.
Sem comentários:
Enviar um comentário