Lúcia Machado de Almeida foi uma das mais inventivas escritoras da coleção Vaga-Lume. Em O caso da borboleta Atíria, por exemplo, ela construiu toda uma trama policial que se passava no mundo dos insetos.
A história inicia com o nascimento da protagonista, Atíria e
já nesse ponto fica claro o estilo da autora, que escrevia como se tivesse
falando diretamente com o leitor: “Atenção! Eis que a crisálida começou a
mexer-se... rompeu-se... e, pouco a pouco, veio surgindo lá dentro uma pequena borboleta”.
Atíria, apesar da beleza de da boa índole, era defeituosa,
tinha nascido com desvio qualquer nas asas. “E não havia jeito. A vida inteira
ficaria assim, sem poder ir longe, sem aguentar viagens longas”. Esse problema
anatômico, que à primeira vista parece ser apenas uma caracterização da
personagem, é aproveitado pela autora na história.
A trama gira em torno do príncipe Grilo, cuja noiva, Helicônia,
é morta logo no início do livro. Mais à frente, outra noiva é também morta. Quem
investiga o caso é o senhor Papílio, também uma borboleta, que o ilustrador
Milton Rodrigues Alves representa como se fosse um Sherlock Holmes, inclusive
com o chapéu característico.
A trama de investigação policial é quase ingênua. À certa
altura, por exemplo, Papilo decifra quem está matando abelhas e a resolução
acontece quase por acaso, quando ele se depara com borletas se fazendo passar
por abelhas. A resolução do caso principal também se deve principalmente à coincidência
uma vez que o detetive, protegendo-se de um violento vento, acaba ouvindo uma
conversa entre os vilões.
Mas, apesar dessa simplicidade, o livro encanta
principalmente pela preocupação de Lúcia Machado de Almeida em pesquisar o
mundo dos insetos e adaptar isso para sua trama. A pesquisa aparece no final do
livro, quando ela coloca uma bibliografia das obras consultadas, mas também, e
principalmente, nas notas de rodapé, nas quais ela apresenta o nome científico
e outras curiosidades sobre as espécies citadas.
A autora chega, inclusive, justificar algumas liberdades poéticas.
À certa altura, por exemplo, ela fala da Dona Cigarra, famosa soprano-ligeiro do bosque. Uma nota de
rodapé esclarece: “Somente os machos das cigarras cantam. Que o leitor perdoe
minha inexatidão”.
O caso da borboleta Atíria se tornou, assim, uma ótima obra
de divulgação científica. Muitos dos leitores que se encantaram com a história
se interessaram em aprofundar e assunto e se tornaram cientistas. Um deles
inclusive chegou a fazer uma postagem no blog sobre cada um dos insetos citados
na obra: http://bibocaambiental.blogspot.com/2017/09/a-verdadeira-fauna-do-livro-o-caso-da.html?m=1.
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