Quando eu era criança, muitas pessoas me chamavam de cientista.
Não acredito que elas pretendessem me ver de
jaleco, fazendo experiências científicas.
Ser cientistas para elas representava uma
espécie de curiosidade intelectual exemplificada no querer saber como as coisas
funcionam. O “como” é importantíssimo na ciência. Como funciona o sistema
solar? Como o arroz deixa o sal mais soltinho? Como funciona a gravidade? Como
as características do pai são passadas para os filhos? Esse é o tipo de
pergunta que move a ciência. Alguém já disse que perguntas desse tipo ocorrem
mais às crianças que aos adultos, o que não deixa de ser verdade. A maioria dos
adultos se esqueceu de se maravilhar como o mundo ou de procurar respostas.
Modéstia à parte, eu de fato partilhava dessa
curiosidade, tanto que cheguei a cogitar ficar de recuperação nas aulas de
ciências, apenas para ter mais respostas para minhas dúvidas que iam do sistema
solar ao que aconteceria se uma cobra cruzasse com um sapo. Muitas dessas
dúvidas foram respondidas com o tempo e eu acabei descobrindo que, por razões
fisiológicas e genéticas, tal cruzamento era impossível e, na verdade, era mais
fácil a cobra comer o sapo. No sentido literal, bem entendido.
Assim, quando ingressei em um curso superior,
fiquei curioso ao saber que teria uma disciplina intitulada Metodologia
Científica. Tão bom quanto saber as respostas da ciência era saber como ela
funcionava. Mas foi uma grande decepção. O professor passava a aula inteira
sentado em uma cadeira lendo, de forma monótona e hermética, algumas fichas. Um
dia tive a curiosidade de tentar entender o que ele estava dizendo e peguei, na
biblioteca, um livro sobre o assunto. Ao iniciar a aula, ele anunciou o assunto
e eu procurei no índice. A idéia era acompanhar enquanto ele falava.
Mas, curiosamente, a fala dele parecia muito
familiar... ele tinha simplesmente copiado o livro nas fichas!
Só fui me apaixonar pela metodologia científica
e pela filosofia da ciência na época do mestrado. Lá tínhamos acesso ao que de
mais moderno se discutia sobre o assunto e a metodologia não era aprendida como
uma série de regras rígidas que devem ser aprendidas e seguidas, mas debatida.
Ainda hoje, quando ouço professores de
metodologia científica dizerem aos seus alunos que eles não estão entendendo
porque metodologia científica é difícil mesmo, lembro de uma frase de Monteiro
Lobato, segundo o qual, quem não sabe explicar é porque não entende o bastante
do assunto.
A metodologia científica não só é fácil, como é
apaixonante. Seria ótimo se as pessoas começassem a perceber que ela, a
metodologia científica é também útil para o nosso dia-a-dia e voltassem a ter
aquela curiosidade científica que tiveram quando eram crianças.
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