segunda-feira, fevereiro 26, 2024

Diário Marco Zero

 

No ano de 2001 um empresário de Macapá me pediu para editar um jornal para ele. Ele já tinha uma emissora de TV, uma rádio e queria um jornal impresso. Também contribuía para essa vontade o fato de uma gráfica ter uma dívida com ele. O resultado disso foi o Diário Marco Zero, um nome que ele já tinha registrado. Uma ironia, já que as edições eram semanais.

Era literalmente uma euquipe. Eu fazia tudo, do projeto gráfico à redação dos textos, passando pelas fotos. Para piorar, por alguma razão, a gráfica não aceitava arquivos em Page Maker, o programa usado à época para diagramar jornais, então tive que diagramar tudo no Corel Draw. Como na época todo jornal precisava ter uma sessão de horóscopo, tínhamos a da Morgana Le Frey. Claro que os textos eram escritos por mim – com previsões aleatórias.



No número Zero eu publiquei uma matéria sobre Pontal das Pedras, um balneário no caminho para Ferreira Gomes (que atualmente foi inundado pela represa). Todas as outras vezes que eu tinha ido lá, tinha sido muito bem atendido, mas da vez em que fiz a matéria foi diferente. Eles não só foram indiferentes, como até um pouquinho agressivos, como se uma matéria no jornal fosse de alguma forma prejudicá-los.

O meu xodó era o suplemento Marco Zero Kids na qual eu publicava quadrinhos e matérias sobre desenhos animados e outras voltadas para o público infantil. Era com esse suplemento que eu realmente me divertia.



Fazer um jornal sozinho, mesmo que semanal, era um esforço hercúleo, mas o que acabou mesmo com a publicação foi quando resolveram contratar um “jornalista” não formado para me auxiliar. Eu passava mais tempo tentando impedir que ele colocassem jabá no jornal do que de fato editando. Para quem não sabe, jabá é quando você recebe dinheiro para falar bem – ou mal de alguém (esse segundo caso mais problemático, pois, como assinava o jornal, eu poderia ser processado). A gota d´água aconteceu quando ele foi à gráfica de madrugada para mexer nos arquivos e introduzir um jabá.



A última notícia que tive desse “jornalista” foi quando ele usou o cargo em uma prefeitura do interior do Amapá para furar a fila da vacina contra covid e se imunizar junto com os profissionais de saúde, um escândalo nacional. Logo ele, que passava o dia fazendo publicações contra vacinas nas redes sociais.

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