Pouco conhecido hoje em dia, inclusive na Argentina, seu pais de
origem, José Luis salinas foi um dos mais importantes desenhistas de quadrinhos
de todos os tempos. Sua série cisco kid foi publicada em centenas de jornais,
nós mais diversos países. Entre as pessoas influenciadas por ele se encontram o
norte americano Frank Frazzetta e o italiano Paolo Eleuteri Serpieri.
Entretanto, Salinas é pouco conhecido pelas gerações atuais,
inclusive no seu pais de origem, a Argentina. Um exemplo disso foi a
peregrinação que o escritor e Gonçalo junior fez mas livrarias de Buenos Aires
procurando material sobre ele. Os vendedores o olhavam com estranheza e
apalermados. Ninguém sabia quem esse tal de Salinas.
Foi justamente para suprir essas deficiência que Gonçalo escreveu
o livro Salinas, o visionário dos quadrinhos, publicado pela noir em
2017.
Salinas começou sua carreira em 1936. Na época ele trabalhava com
publicidade e descobriu que no primeiro andar do prédio no qual ficava a
agência de publicidade funcionava uma editora de quadrinhos. Tratava-se da
editora que publicava a celebre revista Patoruzú. Assim ele foi lá e levou
algumas mostras de seus desenhos. O editor ficou impressionado com seu traço e
lhe encomendou uma história de piratas para concorrer com a série Quique, el
nino pirata, publicada no jornal El mundo.
O resultado foi Herman, o corsário, obra que praticamente
inaugurou os quadrinhos de aventura na Argentina.
Seu trabalho em Herman fez com que salinas fosse comparado ao seu
grande ídolo, Hall Foster. Mas o discípulo logo superaria o mestre em muitos
aspectos, especialmente nos ângulos variados que imprimia aos seus quadrinhos:
“Graças ao seu enorme talento, passou a dar mais movimento aos personagens e a
variar as angulações, ao contrário de Foster cujas composições eram sempre
estáticas, como se o leitor acompanhasse suas cenas, vendo-as a partir de um
lugar central da plateia de um teatro”.
Herman foi a série que inaugurou os quadrinhos de aventura na Argentina. |
Seu trabalho nessa série chamou tanta atenção que ele foi chamado
para fazer adaptação de clássicas da literatura de aventura, como Pimpinela Escarlate
, As minas do rei Salomão e O livro da selva. Esses trabalhos lhe permitiram
demonstrar ao máximo uma habilidade que ele já havia revelado em Herman: sua
grande capacidade para desenhar roupas e cenários históricos, assim como os
mais variados tipos de animais, com destaque para os cavalos.
Embora esses trabalhos fizessem dele uma referência em seu pais,
seu grande sonho era ir para os EUA trabalhar para os grandes syndicates, a
exemplo de seus ídolos, como Hall Foster e Alex Raymond.
Em 1949 ele embarcou em um navio para os EUA com uma mala cheia de
amostras de seus trabalhos.
Seu traço impressionou os diretores da King Features Syndicate ,
que o contrataram, mas o serviço era decepcionante. Consistia em adaptar as
tiras de jornais para o tamanho de vários meios de comunicação que publicamos
produtos da agência.
Três meses depois de trabalhar como decorador, finalmente lhe
ofereceram um trabalho de peso: a tira de Cisco Kid, criado pelo escritor O
Henry.
Para escrever foi chamado o roteirista Rod Reeds, que vinha dos
quadrinhos de super heróis, tendo escrito o capitão Marvel.
A tira se tornou um sucesso absoluto, alçando o personagem a um
dos mais famosos do mundo dos quadrinhos, o que fez com que surgissem até
gibis, alguns adaptações das histórias de Salinas, outras com arte de outros
desenhistas. Entretanto, o grande sonho de Salinas, de transformar num página
domicial, nunca foi alcançado. A razão é que na época havia a regra de que uma
tira só poderia se tornar uma página dominical se fosse publicada por um jornal
de Nova York, o que nunca aconteceu.
Cisco Kid é o trabalho mais conhecido de Salinas. |
A tira deixou de ser distribuída em 1969.
Mas Salinas não ficaria muito tempo sem trabalho. Pouco tempo
depois a agência o chamaria para desenhar Dico, uma série sobre futebol. A tira
fazia parte de um grande esforço para popularizar o futebol nos EUA. Dessa vez,
salinas indicou um roteirista argentino, Alfredo Grassi.
“A tira estreou nos jornais norte-americanos em 8 de janeiro de
1973 e foi sucesso imediato. A crítica recebeu o personagem com entusiasmo e o
apontou como prova real de que era possível explorar o futebol pela linguagem
dos quadrinhos”, explica Gonçalo no livro.
Entretanto, se na vida profissional tudo ia no melhor, a saúde se
tornava um problema. Os problemas de visão se acumalavam a ponto de fazer o
desenhista abandonar a tira, que foi continuada por outros artistas e publicada
até o final da década de 1970.
Gonçalo Junior faz um ótimo apanhado dos trabalhos desses gênio
dos quadrinhos, que morreu desenhando. O livro é menos uma biografia, pois
havia pouco material sobre a vida do desenhista. Mesmo nas entrevistas, poucas
vezes lhe perguntavam detalhes de sua vida. Havia também o problema da falta de
referência. Assim o livro se debruça mais sobre as obras do que sobre o
artista. Mesmo assim é uma obra gostosa de ler e chega num bom momento por
resgatar o trabalho desses artista fundamental da nona arte, mas pouco
conhecido.
No momento há um Catarse de Cisco Kid. Poderiam aproveitar e lançar
ente Herman, o corsário.
1 comentário:
Como sempre a mente colonizada submete até seus artistas ao medíocre crivo do Império. A colônia só pública se tiver o aval do nefasto colonizador, e assim muitos grandes artistas são esquecidos.
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