Uma
das influências mais óbvias no trabalho de Frank Miller no Demolidor era o
mestre Will Eisner.
Essa
influência aparece em vários momentos na edição 172 da revista Daredevil, a
começar pela primeira página da história. O título, Guerra de Gangues, não
parece um elemento isolado, solto, colocado após a realização da arte. Ao
contrário: como fazia Eisner, o título é um elemento do cenário. Aqui, na visão
da cidade, o título é colocado de tal forma que se assemelha a prédios. Já o
nome do herói vai aparecer na carroceria de um caminhão, outra estratégia
tirada diretamente de Eisner.
O título e o nome do personagem aparecem de maneira orgânica na história. |
Na
história, após aparentemente perder sua esposa, o Rei resolve depor todos os
chefes do crime em Nova York, tornando-se de novo o mafioso-mor da cidade. Ao
mesmo tempo, o Demolidor tenta conseguir os arquivos que incriminam esses
mesmos chefes enquanto Mercenário, a serviço desses chefes, tenta descobrir o
esconderijo do Rei.
Sim,
é muita coisa acontecendo. E não é só: o Demolidor se sente culpado por ter
salvado o Mercenário e quer levá-lo de novo para a prisão.
"Você é o que? Cego?" |
A
edição guarda muitas cenas de ação misturadas com humor, como aquela em que o Demolidor
finalmente consegue roubar os arquivos dos campangas do Rei e, ao entrega-los
para a polícia, recebe uma bronca de um policial: “Jornais. Você me entregou
jornais! Não tá vendo? O que você é? Cego?”.
A
sequência, aliás, deixa claro porque alguém inteligente como o Rei contrataria
alguém tão burro quanto a dupla Tucão e Mongol. Eles são apenas peões em seu
jogo de xadrez, geralmente usados para tirar o foco do que realmente está
acontecendo.
Nas mãos de Miller, o Rei torna-se um estrategista. |
O
impressionante é como o Rei consegue dominar completamente a situação usando
apenas da sua estratégia, sangue frio e inteligência. A sequência em que ele
vai até os chefões e consegue convencer o Mercenário a mudar de lado é
antológica. Ele parece um monólito, de gestos estudados e violência contida.
Violência, aliás, que irá explodir pouco depois, quando ele descobre o
responsável pela suposta morte da esposa.
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