sexta-feira, abril 05, 2024

Demolidor – Guerra de gangues

 

Uma das influências mais óbvias no trabalho de Frank Miller no Demolidor era o mestre Will Eisner.

Essa influência aparece em vários momentos na edição 172 da revista Daredevil, a começar pela primeira página da história. O título, Guerra de Gangues, não parece um elemento isolado, solto, colocado após a realização da arte. Ao contrário: como fazia Eisner, o título é um elemento do cenário. Aqui, na visão da cidade, o título é colocado de tal forma que se assemelha a prédios. Já o nome do herói vai aparecer na carroceria de um caminhão, outra estratégia tirada diretamente de Eisner.

O título e o nome do personagem aparecem de maneira orgânica na história. 


Na história, após aparentemente perder sua esposa, o Rei resolve depor todos os chefes do crime em Nova York, tornando-se de novo o mafioso-mor da cidade. Ao mesmo tempo, o Demolidor tenta conseguir os arquivos que incriminam esses mesmos chefes enquanto Mercenário, a serviço desses chefes, tenta descobrir o esconderijo do Rei.

Sim, é muita coisa acontecendo. E não é só: o Demolidor se sente culpado por ter salvado o Mercenário e quer levá-lo de novo para a prisão.

"Você é o que? Cego?"


A edição guarda muitas cenas de ação misturadas com humor, como aquela em que o Demolidor finalmente consegue roubar os arquivos dos campangas do Rei e, ao entrega-los para a polícia, recebe uma bronca de um policial: “Jornais. Você me entregou jornais! Não tá vendo? O que você é? Cego?”.

A sequência, aliás, deixa claro porque alguém inteligente como o Rei contrataria alguém tão burro quanto a dupla Tucão e Mongol. Eles são apenas peões em seu jogo de xadrez, geralmente usados para tirar o foco do que realmente está acontecendo.

Nas mãos de Miller, o Rei torna-se um estrategista. 


O impressionante é como o Rei consegue dominar completamente a situação usando apenas da sua estratégia, sangue frio e inteligência. A sequência em que ele vai até os chefões e consegue convencer o Mercenário a mudar de lado é antológica. Ele parece um monólito, de gestos estudados e violência contida. Violência, aliás, que irá explodir pouco depois, quando ele descobre o responsável pela suposta morte da esposa.

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