terça-feira, maio 28, 2024

Cobra Sofia, de Rafael Senra

 

Lançado no ano de 2021, o álbum de quadrinhos Cobra Sofia, de Rafael Senra, teve um percurso curioso. Começou como uma música. Da música, surgiu a ideia de fazer um clipe animado. Ao produzir as imagens para o clipe, o autor pensou: “Por que não uma história em quadrinhos?”.

O resultado foi a obra de 50 páginas lançada pela Marca de Fantasia.

Há alguns problemas ao se adaptar as lendas amazônicas para outras mídias. O primeiro deles é a visão corrente entre a população de que essas lendas são de cunho infantil, uma visão totalmente equivocada. A outra questão diz respeito à narrativa. As lendas em si apresentam histórias curtas. Como desenvolvê-las em um álbum? 



Senra consegue contornar essas situações de forma muito competente. Em nenhum momento, por exemplo, ele tenta infantilizar a lenda, o que tiraria dela muito de sua essência, já que se trata de uma história sobre uma índia engravidada pelo boto tucuxi e que acaba parindo uma cobra.

Há se destacar um possível problema de verossimilhança na lenda original. Por que razão a índia sairia da tribo e viveria fugindo pela floresta durante a gravidez? Para nós parece não fazer sentido, mas Senra consegue justificar a situação.



A questão da brevidade da lenda é resolvida de duas formas. A primeira delas com um bom desenvolvimento da mesma, detalhando todo o processo da gravidez. Vale destacar a cena em que a personagem atravessa um rio e sua imagem repetida, representa saltos no tempo, de modo que, quando entra na água, sua barriga está pequena, e quando saí ela já está próxima de dar a luz, uma grande sacada narrativa.

Outra forma de contornar a brevidade da lenda foi abordar suas consequências atuais, como pessoas cujo desaparecimento é creditado à cobra grande, ou os tremores de terra, que também seriam provocados pela mesma.

A obra pode ser baixada gratuitamente no site da Marca de Fantasia: http://marcadefantasia.com/albuns/repertorio/cobrasofia/cobrasofia.pdf.

Esperamos que em breve possamos ver uma versão impressa. Merece.

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