Lançado no ano de 2021, o álbum de quadrinhos
Cobra Sofia, de Rafael Senra, teve um percurso curioso. Começou como uma
música. Da música, surgiu a ideia de fazer um clipe animado. Ao produzir as
imagens para o clipe, o autor pensou: “Por que não uma história em
quadrinhos?”.
O resultado foi a obra de 50 páginas lançada
pela Marca de Fantasia.
Há alguns problemas ao se adaptar as lendas amazônicas para outras mídias. O primeiro deles é a visão corrente entre a população de que essas lendas são de cunho infantil, uma visão totalmente equivocada. A outra questão diz respeito à narrativa. As lendas em si apresentam histórias curtas. Como desenvolvê-las em um álbum?
Senra consegue contornar essas situações de
forma muito competente. Em nenhum momento, por exemplo, ele tenta infantilizar
a lenda, o que tiraria dela muito de sua essência, já que se trata de uma
história sobre uma índia engravidada pelo boto tucuxi e que acaba parindo uma
cobra.
Há se destacar um possível problema de
verossimilhança na lenda original. Por que razão a índia sairia da tribo e
viveria fugindo pela floresta durante a gravidez? Para nós parece não fazer
sentido, mas Senra consegue justificar a situação.
A questão da brevidade da lenda é resolvida
de duas formas. A primeira delas com um bom desenvolvimento da mesma,
detalhando todo o processo da gravidez. Vale destacar a cena em que a
personagem atravessa um rio e sua imagem repetida, representa saltos no tempo,
de modo que, quando entra na água, sua barriga está pequena, e quando saí ela
já está próxima de dar a luz, uma grande sacada narrativa.
Outra forma de contornar a brevidade da lenda
foi abordar suas consequências atuais, como pessoas cujo desaparecimento é
creditado à cobra grande, ou os tremores de terra, que também seriam provocados
pela mesma.
A obra pode ser baixada gratuitamente no site
da Marca de Fantasia: http://marcadefantasia.com/albuns/repertorio/cobrasofia/cobrasofia.pdf.
Esperamos que em breve possamos ver uma
versão impressa. Merece.
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