Confesso que gosto de, desde os primeiros momentos, de um filme ou série, saber qual é a trama, qual o conflito central. Quando isso não fica muito claro, por exemplo, no primeiro capítulo, minha tendência é abandonar pela metade achando que continuar seria perder tempo com um roteirista que não sabe onde quer chegar.
O dorama (ou k-drama)
coreano The good bad mother me mostrou que essa pode ser uma atitude precipitada.
Até ali pelo final do segundo capítulo não está clara qual é a trama e o
expectador só consegue entender de fato tudo que está acontecendo no nono capítulo.
Eu só persisti porque a série tinha sido muito bem recomendada por amigos – e não
me decepcionei.
Para continuar, preciso
contar um pouco da história, então, se não gosta de spoiller, melhor parar
aqui.
A história é focada em Kang
Ho, um garoto inteligente e esforçado, que é criado de forma dura e até mesmo
cruel pela mãe, que não lhe deixa ir nos piqueniques da escola e nem mesmo
assistir televisão. A mãe na verdade, não o deixa nem mesmo comer o quanto
quer, pois, segundo ela, comer muito dá sono e quem está com sono não pode
estudar. O sonho dela, de que ele se forme em Direito e se torne um promotor público,
acaba se realizando, mas aparentemente à custa do relecionamento entre os dois.
Para piorar, o pai havia morrido há muitos anos, assassinado por um mafioso em
um caso encoberto por um promotor.
Tudo muda quando Kang Ho
sofre um acidente e não só fica paralítico, mas também perde a memória e a
capacidade cognitiva, tornando-se o que seria equivalente a uma criança de sete
anos.
A tragédia acaba se
transformando em uma espécie de segunda chance entre mãe e filho, de forma que
relação que se reconstrói do zero. A mãe má se transforma em uma mãe boa e
amorosa, capaz de fazer tudo pelo filho, mas retorna de tempos em tempos. Quando,
por exemplo, o filho não consegue levantar a mão, ela o faz passar fome. Ele só
volta a comer quando conseguir se alimentar sozinho. Quando ela percebe que ele
pode voltar a andar, ela o joga da cadeira de rodas em um rio diversas vezes até
que ele se levante e ande. Ao longo da história, também entendemos as motivações
para que ela tivesse sido tão má quando criava a criança. Até mesmo detalhes
como não deixar o filho ir ao piquenique da escola tinha uma explicação.
Essa relação entre mãe e
filho por si só já dariam uma ótima série, mas o que temos aqui é muito mais. Há
toda uma trama policial e política e envolvida assegura os momentos de
suspense.
A roteirista Bae Se-youn dá uma verdadeira aula de como
utilizar as elipses na narrativa, contando os fatos, mas pulando partes que só
serão mostradas lá na frente. Se por um lado isso deixa o expectador confuso no
início, por outro lado, torna a série instigante e mostra um domínio único da
trama.
Vale destacar também a
escolha inspirada do elenco.
Lee Do-hyun, como o
promotor Kang Ho, consegue mudar completamente sua atuação entre os dois momentos
– aquele em que ele é um homem adulto e um promotor respeitado, e aquele em que
volta a ser criança. Apesar de ser um homem adulto, Lee Do-hyun consegue
convencer como uma criança, com ótimas expressões faciais e corporais.
Outra atuação memorável é
Ra Mi-ran, que interpreta a mãe. Ela também consegue oscilar perfeitamente
entre a mãe má e e boa mãe sem nunca perder o encanto. A relação dela com o filho
é emocionante e se sustenta na ótima interpretação dos dois.
Assim, siga o conselho:
por mais que você não esteja entendendo muito no início, persista. A série The good bad mother vale muito a
pena.
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