segunda-feira, junho 17, 2024

A balada de Halo Jones

 

Uma obra imerecidamente pouco conhecida de Alan Moore é A balada de Halo Jones. A obra, reunida pela Mythos em 2015, foi publicada originalmente nas páginas da revista 200 AD em capítulos de seis páginas de 1984 a 1986.

A personagem principal nasce em um local chamado aro flutuante na extremidade de Nova York onde eram despejados todos os desempregados da América. Segundo a propaganda oficial, era um programa de redução da pobreza, mas o local não reduzia a pobreza, apenas fazia com os pobres não fossem vistos pelo resto da sociedade.

O local é tão violento que uma simples ida ao shopping pode ser uma jornada mortal. Aliás, a primeira trama da história é justamente a ida de Jones e uma amiga para o shopping quando acaba a comida. “Rodice, a gente tem mesmo que fazer isso? Eu tenho só dezoito anos!”, reclama a personagem em um dos quadros.

A editora inglesa Rebelde lançou uma edição colorida. 

Moore constrói toda uma ambientação para esse campo de concentração, com costumes (mulheres não podem, por exemplo, mostrar os pés ou os braços), grupos sociais, como os batidas diferenciais, cujos implantes cerebrais faziam com que eles sentissem batidas hipnóticas persistentes e até linguagem, a exemplo do verbo “piadar”.

No segundo tomo, a protagonista sai do aro ao conseguir emprego em uma nave cruzeiro – e Moore consegue fazer essa fase ainda mais interessante que a primeira.

No terceiro tomo, Halo Jones, sem perspectiva de trabalho, alista-se no exército e temos a parte mais empolgante do volume, não só pela narrativa, com mais ação e drama, mas também pelo ótimo uso que o roteirista faz de informações científicas.

Alan Moore usa uma aula para repassar informações sobre o mundo de Halo Jones.

Boa parte dessa fase se passa em Moabe, o maior planeta não gasoso já encontrado pelo homem. Nenhum ser humano pode sobreviver ali sem um traje gravitacional, o que por si só já faz a história se tornar interessante – se alguém cair, não consegue se levantar.

Mas o que realmente cria um grande impacto é uma consequência direta da alta gravidade: o tempo se distorce. Na primeira missão de Halo na zona de guerra, ela passa apenas cinco minutos, mas no ambiente com gravidade normal se passaram dois meses. “Não fique muito ambiciosa... você só é paga pelos cinco minutos”, esclarece uma das militares.

O capítulo mais interessante se passa no planeta Moabe, cuja gravidade distorce o tempo. 


A balada de Halo Jones é uma daquelas sagas em que acompanhamos os personagens por um longo tempo e vamos nos acostumando e simpatizando com eles a ponto de sentirmos saudades. O fato da história ser dividida em capítulos de seis páginas faz com que a a leitura seja rápida, fluída. O desenho de Ian Gibson vai nitidamente evoluindo ao longo da série, o que contribui ainda mais para a qualidade do álbum.

O mais surpreendente aqui é perceber que Moore escreveu essa saga ao mesmo tempo em que escrevia o Monstro do Pântano, o que mostra o quanto ele conseguia ser rápido sem perder a qualidade.

Em tempo 1: existe um boato de que a série teria na verdade dez tomos, mas parou de ser publicada no terceiro. Um episódio isolado, no qual um professor fala da personagem, dá a entender que de fato Moore tinha muitos planos para  Halo Jones.     

Em tempo 2: A balada de Halo Jones já tinha sido lançada em 2003 pela Pandora.

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