domingo, julho 07, 2024

O último recreio, de Carlos Trillo e Horacio Altuna

 

Imagine um mundo em que todos os adultos morreram e só sobraram as crianças. Esse o universo distópico cirado por Carlos Trillo e Horácio Altuna em O último recreio.

A trama começa com uma bomba caindo em Buenos Aires. Todos os adultos são encaminhados para um refúgio, mas nenhum deles sai de lá. Quando as crianças resolvem sair às ruas, descobrem o mundo está completamente mudado. Um goroto resolvem aproveitar a situação e violentar uma garota, mas acaba morrendo. É nesse ponto que fica claro: a bomba só atinge quem tem a sua sexualidade despertada.

Na história, quem tem a sexualidade despertada morre. 


Um mundo só de crianças poderia parecer um paraíso, mas o que ocorre é exatamente o oposto. A sociedade degenera para um mundo apocalíptico em que se sobressaem os mais fortes.

A história é contada em pequenos capítulos, com personagens que se alternam, quase como se fossem contos isolados unidos pela mesma ambientação.

De todos o episódios, talvez o mais interessante seja A estrela, sobre uma garota que estrelou um programa de TV e viciou-se em ser o centro das atenções. É um perfeito exemplo de como fazer um roteiro em elipse, em que o final é semelhante ao início em um círculo vicioso.

A Estrela é o melhor capítulo. 


Carlos Trillo se destaca pela ótima caracterização dos personagens e pelas tramas bem elaboradas, apesar das poucas páginas de cada capítulo. É um roteirista que impressiona por sua habilidade em todos os aspectos da história.  

Horacio Altuna, por sua vez, desenha a HQ em um perfeito equilíbrio entre a inocência juvenil e a sensualidade, uma escolha perfeita uma vez que, na história, o despertar sexual representa a morte.  

 A história foi publicada originalmente em capítulos na revista espanhola 1984 e depois reunida em álbum. Aqui no Brasil foi lançada pela editora Risco.

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