Um dos personagens mais visualmente
interessantes dos quadrinhos de super-heróis é o Retalho, criação de Joe Kubert
(desenhos) e Robert Kanigher (roteiro).
O personagem, um veterano da guerra do
Vietnã, é filho de um trapeiro, um negociante de quinquilharias que um dia
compra um colchão que estava recheado de dinheiro sem o saber (ele descobre
depois). Mas mafiosos estão atrás do dinheiro e, para forçar o homem e seus
amigos a falarem, atiram em fios elétricos, fazendo com que eles sejam eletrocutados.
Fios elétricos não são uma forma inteligente de torturar alguém.
Essa é, provavelmente, a maneira mais idiota
de torturar alguém. Para começar, é necessária uma mira absoluta para acertar
fios elétricos com tiros. Segundo, que a chance do pistoleiro ser atingido
pelos fios elétricos era a mesma das suas vítimas. E, por fim, mesmo que tudo
isso desse certo, era quase certo que essa estratégia servisse muito mais para
matar do que para torturar.
A história toda, dividida em cinco partes
gira em torno da busca do colchão recheado de dinheiro.
O visual criado por Kubert era realmente inovador.
O protagonista é Rory Regan, o filho do
trapeiro, herda do pai uma fantasia feita de retalhos de tecidos e passa a
combater os mafiosos.
O leitor simplesmente não é informado como
Retalho ganhou seus poderes, que muitas vezes parecem sobre-humanos. À certa
altura são mostrados os amigos do pai (que posteriormente irão morrer
eletrocutados junto com ele) e cada um revela uma habilidade. Um era um
homem-forte de circo, outro era um boxeador e outro era um acrobata – mas em
nenhum momento é mostrado ou sugerido que eles repassaram seus conhecimentos
para Rory.
Casais interaciais não eram comuns nos quadrinhos.
Além disso, se os mafiosos sabiam do tesouro
na loja, deveriam saber também onde ele foi guardado.
Apesar dos problemas de roteiro, a série
tinha muitos méritos, a começar pelo texto de Kanigher. Um exemplo: “Da escuridão
salpicada de sol emerge uma figura estranha e impressionante... homem ou lenda?
Sombra ou matéria? A máscara tenebrosa ocultará a face de um monstro ou de um
ser humano? Terão as balas do criminoso atingido carne e osso? Só os enigmáticos
olhos que brilham nas aberturas da máscara poderão revelar a espantosa verdade
de... O retalho!”.
Os filipinos irmãos Redondo desenharam as primeiras histórias, emulando o traço de Kubert.
Além disso, o visual sombrio, com a capa
esvoaçante e rasgada dava um ar imponente e assustador para o personagem. Posteriormente
alguns artistas iriam representar o Batman dessa forma e Spaw nitidamente tinha
influência visual do Retalho.
O protagonista estava envolvido em um triângulo
amoroso que incluía uma namorada negra – algo certamente inovador numa época em
que casais multirraciais eram incomuns na mídia norte-americana.
O personagem parecia ter poderes sobrenaturais.
Com tantas potencialidades é uma pena que o título
do Retalho tenha tido uma vida tão curta.
A Ebal publicou as cinco partes da história
em formatinho e em cores entre 1977 e 1978.
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