sábado, agosto 10, 2024

Sombra da Lua

 


O roteirista Alan Noronha andava tanto comigo que muitas pessoas juravam que nós éramos irmãos. Contribuía para isso o fato de ambos sermos altos (exatamente a mesma altura, 1,83) e magros. Alan de fato era o irmão eu que nunca tive, uma pessoa incrivelmente criativa e antenada. Ambos participávamos não só do Ponto de Fuga, mas também de um grupo de teatro que havíamos criado, Os argonautas. Os dois grupos eram tão interligados que era comum o pessoal sair da reunião do Ponto de Fuga, no sábado à tarde, na Fundação Curro Velho, e ir direto para os ensaios do grupo de Teatro, na Cidade Nova, em Ananindeua.
Eu e Alan passávamos longe de sermos bons atores, mas compensávamos com a criatividade. Em uma visita ao sítio dos Hare Krishna, por exemplo, para agradecer a hospitalidade e a ótima comida, bolamos uma peça na qual um casal matava o coelho de uma menina e fazia um ensopado – depois ainda tentavam convencê-la a comer. O tema, claro, era o vegetarianismo.
Uma peça que apresentamos em diversos locais foi o Mestre das Máscaras. A característica do personagem era “tirar as máscaras” dos personagens, revelando suas verdadeiras personalidades. Um machão violento, por exemplo, se revelava alguém inseguro. Essa peça foi apresentada no dia 1º de maio de 1992, em um protesto de um grupo anarquista.
A principal peça do grupo era nada menos que uma adaptação não autorizada de Moonshadow, a série de J.M. de Matteis. Para evitar problemas, renomeamos como Canção de Inocência. A peça foi encenada no Teatro Waldemar Henrique, na Praça da República, em Belém. Alan fazia o personagem principal, o Sombra da Lua. Eu fazia o narrador e qualquer outro personagem menor que aparecesse por alguns minutos no palco.


(Trecho do meu livro A árvore das ideias - clique aqui para baixar gratuitamente).

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