sábado, outubro 19, 2024

A casta dos metabarões


Algo que salta aos olhos ao ler a casta dos metabarões, cujo primeiro, cujo primeiro volume foi lançado em 2022 pela editora Pipoca e Nanquim, é que essa saga recupera muitos dos conceitos elaborados por Jodorowsky para o filme nunca realizado de Duna.

Os metabarões são os maiores guerreiros do universo e o mais recente deles  já haviam aparecido na saga do Incal, de Jodorosky e Moebius. Aqui, o roteirista conta a saga desses guerreiros em uma história grandiosa, que atravessa gerações iniciando com o trisavô do atual metabarão.

A história é narrada por um robô. 


O roteiro usa uma estratégia genial. A história é narrada por um dos robôs do metabarão para outro, que, embora seja robótico, tem sentimentos muito humanos, como adoração (“Ele é o maior... ele é o metaguerreiro! Mas eu o amo por sua parte robótica!”), ansiedade (“Queimei um diodo de eletroemoção e preciso ativar o meu sistema auxiliar”) e até mesmo inveja, entre outros.

Esse olhar robótico e, ao mesmo tempo, muito humano, cativa logo de cara o leitor. Ao mesmo tempo, a curiosidade do robô ouvinte reflete a curiosidade do leitor, muitas vezes antecipando dúvidas sobre como a trama irá se desenvolver a partir de um ponto que parece um beco sem saída, mas que Jodorowsky dá um jeito de solucionar.

Giménez é muito bom para desenhar naves. 


A história dos metabarões é uma história de tragédias em sequência, que começa quando seres de outros planetas descobre a forma como os habitantes de Mármola conseguem transportar imensos blocos de mármore. O segredo sobre o líquido que anula a gravidade faz com que inicie uma guerra na qual morrem todas as pessoas da família, sobrando apenas o primeiro metabarão e seu filho.

Quando achamos que tudo se solucionou e os personagens vão finalmente encontrar a paz, algo terrível acontece lançando-os novamente na direção da guerra e criando as tradições, como as partes robóticas introduzidas nos corpos dos metabarões ou a de que um metabarão só está pronto quando se torna capaz de matar o próprio pai. 

Os poucos momentos de felicidade são apenas um prenúncio da tragédia. 


Jodorowsky é chegado a alguns exageros e algumas sequências que parecem forçadas, a exemplo de algumas reviravoltas ou soluções, como gerar um bebê a partir de uma gota de sangue. Mas elas acabam funcionando muito bem dentro da lógica da história.

Giménez, o desenhista, é ótimo para rostos, armas e amarduras, mas tem problemas com sequências de ação, algumas das quais ficam confusas. Inteligentemente, Jodorowsky usa o diálogo entre os robôs para tornar mais claras as situações e garantir a compreensão.

As partes robóticas são uma tradição entre os metabarões.


No final, o resultado é impressionante. O leitor fica preso a essa mega saga de gerações e as reviravoltas a ponto de não conseguir parar de ler. Esse primeiro volume, que inclui os quatro primeiros álbuns, eu devorei em dois dias. 

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