sexta-feira, outubro 25, 2024

Glory, de Alan Moore


Glory é uma personagem “criada” por Rob Liefield, uma cópia da Mulher Maravilha tão descarada que havia nascido na Penísula Paraíso.

Em 1999, Alan Moore foi convidado Awesome Comics[ a escrever a personagem e fez isso, como sempre, de modo revolucionário. A ideia de Moore era por um lado fazer uma homenagem à personagem-raiz, no caso, a Mulher Maravilha, e por outro, trazer novos aspectos, aproveitando a mitologia da personagem e elementos do tarot e da cabala.

Moore mistura diversas mitologias na origem dessa nova Glory. 


Assim, na versão de Moore, Glory decide ter a experiência de ser uma humana normal e encarna em uma garçonete chamada Gloria West. Acontece que Gloria é (ou parecer ser) esquizofrênica, o que nos garante alguns dos melhores momentos da série.

Moore divide sua narrativa em três linhas: a de Glória, a de Glory no mundo místico e a de histórias em quadrinhos lidas por Gloria. O interessante aqui é que as três instâncias se mesclam e se confundem.

Os personagens dos gibis lidos por Gloria interagem com ela. 


Por exemplo, à certa altura, Glória está lendo um quadrinho da Glory quando a vilã, Lilith, vira-se para ela e diz: “Assim como vou destruir você, Gloria West”.

Em outro momento, Gloria se vê como Glory enquanto ela está no mundo dos deuses: “Eu estava num jardim mágico, certo? Olhando para uma piscina? E tinha umas pequenas fadas da água”.

Moore faz referência direta à origem BDSM da Mulher Maravilha. 


Só a mistura dessas três instâncias já fariam de Glory uma série memorável, mas Moorre ainda aproveita para fazer um estudo metalinguístico da Mulher Maravilha, imergindo nas características da personagem.

Ele, por exemplo, aproveita o fato de Glory ser a Mulher Maravilha sem oficialmente ser a Mulher Maravilha para abordar até o aspecto de BDSM inerente à heroina.

A versão com saia branca influenciou o visual de Promethea. 


Assim, uma das vilãs é a Madame Algema, que governa um país que reverbera diretamente a iconografia BDSM, incluindo escravos puxando charretes. A vilã, inclusive, prende Glory em um gramofone gigante e, claro, a personagem é amarrada.

Se o roteiro de Alan Moore é genial, o mesmo não se pode dizer do desenho. Marat Mychaels é um artista ainda muito ligado ao estilo Rob Liefield e altamente inconstante. Em alguns momentos ele até consegue fazer um bom trabalho, mas no geral é abaixo da média e estereotipado.

Os planos terrano e mitológico interagem. 


Os melhores trechos, visualmente falando, são quando aparecem as revistas que Gloria está lendo, desenhados por Melinda Gebbie e Matt Martin. O capítulo zero, desenhado por Brandon Peterson, também é acima da média.

Infelizmente, essa série durou apenas três números, sendo um deles o zero. Ou felizmente, pois nitidamente Alan Moore reaproveitou boa parte dos conceitos em outra série, agora com uma personagem sua, Promethea. O uniforme de Promethea, aliás, parece nitidamente influenciado pelo que Moore tinha pensado para Glory, principalmente a versão clássica da personagem, com a saia branca, que seria a versão de Glory na era de ouro.

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