Glory é uma personagem “criada” por Rob Liefield, uma cópia da Mulher Maravilha tão descarada que havia nascido na Penísula Paraíso.
Em 1999, Alan Moore foi
convidado Awesome Comics[ a escrever a personagem e fez isso, como sempre, de
modo revolucionário. A ideia de Moore era por um lado fazer uma homenagem à
personagem-raiz, no caso, a Mulher Maravilha, e por outro, trazer novos
aspectos, aproveitando a mitologia da personagem e elementos do tarot e da
cabala.
Moore mistura diversas mitologias na origem dessa nova Glory.
Assim, na versão de
Moore, Glory decide ter a experiência de ser uma humana normal e encarna em uma
garçonete chamada Gloria West. Acontece que Gloria é (ou parecer ser) esquizofrênica,
o que nos garante alguns dos melhores momentos da série.
Moore divide sua
narrativa em três linhas: a de Glória, a de Glory no mundo místico e a de histórias
em quadrinhos lidas por Gloria. O interessante aqui é que as três instâncias se
mesclam e se confundem.
Os personagens dos gibis lidos por Gloria interagem com ela.
Por exemplo, à certa
altura, Glória está lendo um quadrinho da Glory quando a vilã, Lilith, vira-se
para ela e diz: “Assim como vou destruir você, Gloria West”.
Em outro momento, Gloria
se vê como Glory enquanto ela está no mundo dos deuses: “Eu estava num jardim mágico,
certo? Olhando para uma piscina? E tinha umas pequenas fadas da água”.
Moore faz referência direta à origem BDSM da Mulher Maravilha.
Só a mistura dessas três
instâncias já fariam de Glory uma série memorável, mas Moorre ainda aproveita
para fazer um estudo metalinguístico da Mulher Maravilha, imergindo nas
características da personagem.
Ele, por exemplo,
aproveita o fato de Glory ser a Mulher Maravilha sem oficialmente ser a Mulher
Maravilha para abordar até o aspecto de BDSM inerente à heroina.
A versão com saia branca influenciou o visual de Promethea.
Assim, uma das vilãs é a
Madame Algema, que governa um país que reverbera diretamente a iconografia
BDSM, incluindo escravos puxando charretes. A vilã, inclusive, prende Glory em
um gramofone gigante e, claro, a personagem é amarrada.
Se o roteiro de Alan
Moore é genial, o mesmo não se pode dizer do desenho. Marat Mychaels é um
artista ainda muito ligado ao estilo Rob Liefield e altamente inconstante. Em
alguns momentos ele até consegue fazer um bom trabalho, mas no geral é abaixo
da média e estereotipado.
Os planos terrano e mitológico interagem.
Os melhores trechos,
visualmente falando, são quando aparecem as revistas que Gloria está lendo,
desenhados por Melinda Gebbie e Matt Martin. O capítulo zero, desenhado por Brandon
Peterson, também é acima da média.
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