Stephen King é um dos escritores mais famosos de nossa época. É também um dos mais prolíferos. Ele escreve tão rápido, de maneira tão aparentemente espontânea, que parece ao leitor que não há nenhuma técnica envolvida, o que é totalmente falso, como mostra o livro Sobre a escrita, lançado no Brasil pela editora Suma.
A obra é uma mistura de biografia com manual. A parte biográfica tem como objetivo mostrar ao leitor os vários fatos que levaram King a se tornar um escritor de terror e moldaram seu estilo, desde os filmes que ele assistia na adolescência até o editor de um jornal de esportes no qual King trabalhou quando adolescente e que lhe ensinou muito sobre a escrita apenas corrigindo sua primeira matéria: “Acho que ele pensou que eu estivesse aterrorizado. Pelo contrário, eu estava tendo uma revelação. Por que, perguntei a mim mesmo, os professores de inglês não faziam o mesmo?”.
A biografia inclui também as primeiras tentativas de produzir textos literários, que inevitavelmente lhe rendiam problemas na escola. Em uma dessas empreitadas ele fez uma adaptação literária da filme Mansão do terror (que tinha roteiro de Richard Matheson e era dirigido por Roger Corman). King fez algumas cópias e levou para a escola. Até a hora do intervalo ele vendeu três dúzias de cópias. Resultado: acabou sendo chamado à diretoria. A diretora o obrigou a devolver o dinheiro de todos e lhe perguntou se ele queria desperdiçar seu talento escrevendo “aquele tipo de lixo”.
Ele continou escrevendo “lixo” e mandando para revistas, mas o que ganhava, mesmo incluindo os salário de professor apenas deixava ele e a família um pouco acima da linha da pobreza. Mas quem o salvou de fato foi a esposa, Tabitha. Ela tirou do lixo o primeiro esboço de Carrie, a estranha, e o estimulou a continuar escrevendo. O livro foi aceito por uma editora grande e havia a perspectiva de ser comprado para edições de bolso. King e a esposa sonhavam que a editora de livros de bolso pagasse 60 mil dólares pelos direitos, o que lhes daria 30 mil, o equivalente ao que King ganharia em quatro anos como professor. No final, os direitos foram adquiridos por 400 mil dólares. Era como se tivessem acabado de ganhar na loteria.
Fazendo um pequeno adendo, o livro é também uma declaração de amor de King à esposa. Quando relata a situação em que foi atropelado ele conta que a sua maior preocupação foi pedir aos enfermeiros que dissessem à sua esposa o quanto ele a amava, caso morresse.
O livro também conta o problema de King com drogas e o medo de se livrar do vício e não conseguir continuar a escrever.
Mas a parte mais interessante para quem comprou o livro pensando em aprender a escrever é aquele que dá nome ao livro. Embora nem sempre se concorde com King, é interessante perceber as de ferramentas que ele utiliza em suas histórias.
A primeira dica de King é aquela que deveria constar em letreiros grandes acima da mesa de qualquer que queira ser escritor: a única maneira de aprender a escrever bem é ler e escrever muito. King inclusive conta sobre pessoas que lhe dizem que gostariam ser escritoras, mas argumentam que não têm tempo para ler. A mesma coisa vale para quem diz que não tem tempo para escrever. King escreveu seus dois primeiros romances, Carrie e A hora do vampiro, nos poucos intervalos do trabalho, na lavanderia do trailer onde morava, usando uma máquina Olivetti portátil e equilibrando uma mesa infantil nas pernas.
Sobre o gênero que a pessoa irá escolher, King tem um conselho simples: escreva o que gosta de ler. ele, por exemplo, adorava os quadrinhos da EC Comics, e, por consequência, se tornou um autor de terror.
Na parte mais técnica, o livro divide a arte de escrever em três partes: a narração, a descrição e os diálogos. Curiosamente ele não fala da narrativa ou de trama em seu livro porque acredita as histórias se escrevem sozinhas. Ele começa com um “E se” e escreve a partir daí. Então: “E se vampiros invadissem uma pequena cidade da Nova Inglaterra? (A hora do vampiro) E se mãe e filho ficassem encurralados por um cachorro raivoso em um carro pifado? (Cujo)”.
Embora nem sempre os conselhos de King seja aplicáveis a todo mundo (comigo, por exemplo, não funciona começar a escrever sem ter o plot todo estruturado), Sobre a escrita é um livro que vale a pena ler. Não só pelas dicas, mas também pelas ótimas histórias contadas por um mestre da narrativa.
1 comentário:
Ótimo artigo , esse livro está na minha estante esperando a vez!
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