No sexto álbum da série Blueberry, Charlier resolveu fazer um conto isolado, meio que para dar um tempo entre duas sagas grandes.
Na história o cachaceiro Jim Mc Clure chega
em uma cidade chamada Silver-Creek e descobre que ela está dominada por
bandidos. Nem mesmo o prefeito da cidade consegue contrapô-los e todos os que
assumem a estrela de prata de xerife acabam sendo mortos. Surge a ideia de
pedir a ajuda do exército e Mc Clure, claro, sugere Blueberry, que se torna o
novo xerife.
Todos os xerifes da cidade são mortos.
Blueberry tem, então, que vencer um grupo
de bandidos contando com apoio apenas do bebum Mc Clure, de um garoto e de uma
professora.
Para qualquer um que conhece o mínimo de
faroeste, fica claro que essa é uma versão quadrinística de Rio Bravo, filme de
Howard Hanks, no qual um xerife, interpretado por John Wayne, precisa impedir
que um bandido resgate seu irmão da cadeia, sendo ajudado apenas por um bêbado,
um garoto e uma mulher.
Blueberry enfrenta os bandidos no sallon.
O filme de Hanks era uma reação ao filme
Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann, no qual um xerife sabe que bandidos estão
chegando para matá-lo e passa a maior parte do tempo pedindo ajuda dos cidadãos,
inutilmente. Hanks achava que um herói de faroeste jamais faria isso, então, no
seu filme, Wayne recusa insistemente ajuda e só aceita com muita relutância, o
que, aos olhos de hoje, parece estranho e irreal.
Charlier resolve essa situação de
verossimilhança fazendo com que Blueberry oscile entre aceitar e recusar ajuda,
assim como a população local, que se divide entre os covardes, que recusam
qualquer ajuda e os que se propõe a ajudar (normalmente os que seriam menos
aptos a fazê-lo). O velho Mc Clure, por exemplo, acaba sendo empossado como seu
assistente. Quando aparece um rapaz pretendendo ajudar, Blueberry inicialmente
recusa, mas quando este demonstra saber atirar, acaba aceitando.
Inicialmente Blueberry recusa a ajuda da professora.
A questão mais complicada – e interessante –
é com relação à professora. Machista, o tenente diz que a melhor forma dela ajudá-lo
é se manter longe do perigo. Mas com o passar das páginas, Blueberry vai se
convencendo de que ela pode ser uma ajuda valiosa. Ou seja, mesmo sendo
praticamente uma cópia de Rio Bravo, O homem da estrela de prata consegue ter
seus méritos próprios, assim como desenvolvimentos singulares.
Rio Bravo, o filme que serviu de inspiração para O homem da estrela de prata. |
Ah, este álbum tem uma sequência
impressionante em um saloon infestado de bandidos, no qual Blueberry entra e
consegue sair não só vivo, mas com um deles presos. Impressiona aqui tanto a
habilidade do roteiro quando a capacidade de Giraud de desenhar detalhes – a imagem
inicial do local, com dezenas de pessoas e detalhes como lampiões, garrafas e
copos é algo para ver de deixar cair o queixo.
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