Um autor que tem sido subestimado em sua influência sobre Frank Miller é Bernie Krigstein, um dos mais revolucionários desenhistas da EC Comics.
Provavelmente nenhuma história do Demolidor
revelou tanta influência de Krigstein quanto Adagas, publicada em Daredevil
179.
Essa história faz parte de uma trama maior,
em que o Rei lança um candidato à prefeitura com o objetivo de controlar
politicamente a cidade. Nessa edição em específico, Ben Urich está tentando
conseguir provas do envolvimento com o crime organizado e para isso marca
encontro com um informante em um cinema.
A sequência toda é uma verdadeira
obra-prima narrativa que bebe diretamente em Master Race, de Krigstein. O
informante está conversando com o repórter, quando de repente seu corpo pende
para a frente – ele é morto por Elektra, que agora está a serviço do Rei.
A sequência alterna planos e ângulos como
forma de dar impacto e suspense ao que está sendo narrado, com destaque para o
rosto assustado do jornalista.
O Demolidor dá uma surra em capangas do Rei.
“Seu amigo está morto, senhor Urich.
Mova-se ou fale ... e vai se juntar a ele”, diz Elektra, aconselhando o
repórter a abandonar a investigação.
No final, vemos o rosto de Urich em
primeiro plano, o olhar assustado, suor escorrendo da testa, as pupilas
dilatas, enquanto ao fundo Elektra sai da sala de cinema.
Miller não só imitou a narrativa de
Krigstein, mas também o estilo do desenho.
Ben Urich fotografa uma mendiga. A esposa do Rei?
Como Urich se recusa a parar a investigação
e, obviamente, conta com o apoio do Demolidor – há uma maravilhosa sequência em
que o herói salva o repórter ao mesmo tempo em que usa alteres para dar uma
surra em campangas em uma academia – a solução encontra pelo Rei é criar uma
armadilha. Um falso informante. No local, na verdade, estava Elektra, o grande
amor de Matt Murdock – e aqui Miller eleva à máxima potência todo o drama
envolvendo o casal, que se amam, mas ao mesmo tempo são inimigos.
No final, Urich ao tentar fotografar um
encontro entre o Rei e o candidato, acaba registrando uma mendiga que, descobre-se,
é ninguém menos que Vanessa, a esposa do mafioso, que aparentemente havia sido
morta. Isso providencia um gancho para a próxima história.
Sequência final: mais uma homenagem a Krigstein.
À essa altura, já estava claro para todos
os leitores que Frank Miller estava produzindo um clássico absoluto dos
quadrinhos, uma história repleta de nuances, ação e drama.
Em tempo: a sequência final, com Urich
sendo atingido pela adaga sai de Elektra, também é puro Krigstein.
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