A série Monstro do Pântano, escrita por Alan Moore e ilustrada por diversos desenhistas, inovou não só na forma totalmente revolucionária como mostrou o terror, mas também nos temas, alguns dos quais nunca haviam sido abordados num quadrinho comercial.
Exemplo disso é a história As flores do romance, publicada em Swamp Thing 54, de novembro de 1986.
O personagem Monstro do Pântano havia sido aparentemente assassinado e Moore usa esse período de luto para amarrar uma ponta solta dos roteiristas anteriores: o que aconteceu com os personagens Lis Tremayne e Dennis Barclay?
Lis era uma jornalista premiada, autora de livros, que se envolvera na trama ao fazer uma matéria sobre o misterioso monstro surgido nos pântanos da Louisiana. Isso a colocou em rota de colisão com o general Sunderland, inimigo do Monstro do Pântano.
Dois anos se passam. Lis vive agora presa dentro de casa, tem medo até mesmo de ligar a televisão ou de tomar banho – dezenas de pessoas morrem assim todos os dias, lhe diz seu namorado.
Lis não sabe que o general Sunderland está morto e Dennis usa isso a seu favor.
Segundo Dennis, os homens de Suderland estão à procura da jornalista para matá-la e é perigoso até mesmo comprar calcinhas para ela – de modo que sua roupa de baixo é composta de toalhas costuradas.
Depois de dias sozinha, ela encontra forças para ligar a televisão (a sequência, desenhada por Rich Veidt, a mostra apavorada, vestindo luvas para proteger-se de um choque elétrico fatal. “Ela passa quarenta minutos aflita de indecisão, com as mãos pegajosas dentro das luvas. Finalmente, os olhos firmemente fechados, ela pega o plugue. Nenhum clarão. Nenhuma corrente fatal. Isso a encoraja e tomar a decisão de fincar o plugue na tomada leva apenas apenas quinze minutos”, diz o texto de Moore.
Ao ligar a TV, ela descobre que Ab Cable está viva (Dennis lhe dissera que estava morta) e decide visitá-la, num gesto inconsciente de pedido de ajuda, mas passa a ser perseguida por Dennis. Com o Monstro do Pântano aparentemente morto, Abgail Cable e Lis agora precisam sobreviver no pântano enquanto são literalmente caçadas.
A história demonstra como até mesmo mulheres bem-sucedidas e liberadas podem ser lentamente envolvidas numa trama de abusos e mentiras até se tornarem totalmente dependentes do homem. “Lis não ajuda, não quer correr. Alguém quebrou todos os ossos da alma dela. Ela que era tão brilhante, tão forte. Acho que não precisa de muito para desmantelar um ser humano”.
Alan Moore mostra que o terror não está só nos monstros e vampiros, mas pode muito bem estar dentro de casa. Como diz a primeira frase da história, “Tudo que temos em comum é o terror”.
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