quarta-feira, dezembro 25, 2024

Os melhores contos de Natal

 


Durante muitos anos as revistas tinham a tradição de publicar contos natalinos como forma de marcar essa época do ano. Isso fez com que os mais variados autores produzissem histórias sobre o tema. Outros apostavam tanto na temática, que chegaram a lançar o conto do próprio bolso, como um livreto, a exemplo de Charles Dickens. O volume Os melhores contos de Natal, do Círculo do Livro, publicado no ano de 1987, reúne algumas dessas produções.

O livro traz 16 contos dos mais diversos autores. Algumas são histórias que se passam no Natal, mas não são histórias de Natal, a exemplo de Missa do galo, de Machado de Assis. Outras são exemplos perfeitos das melhores características desse subgênero. Destaco abaixo os que mais me chamaram a atenção.

“O Natal de um ladrão”, de A.T. Quiller Couch mostra um ladrão sendo surpreendido enquanto roubava um homem rico. Mas, ao invés de entregá-lo à polícia, o dono da casa o coloca numa situação inusitada. É uma história divertida e comovente, que traz todo o espírito das histórias natalinas como perdão e boa vontade.

“Como Papai Noel chegou a Simpson´s Bar”, escrito por Bret Harte é focada em um grupo de bêbados, um dos quais tem um filho adoentado e os outros resolvem fazer uma surpresa natalina para este. Este conto não o elemento fantástico comum ao gênero, mas se destaca pela descrição apurada das dificuldades enfretadas por um dos bêbados para conseguir seu intento. O conto também traz um humor fino e irônico em algumas sequências.

Elizabeth Goude escreve “A estrela de Belém”, sobre um pastor chamado Davi que, na noite de Natal, pretende rezar numa fonte que se diz realizar desejos como forma de tirar a família da miséria e da fome. Isso acaba o colocando justamente na ocasião do nascimento de Jesus. Apesar de bem escrita, é forçada e explícita demais na mensagem cristã, o que lhe tira, inclusive, parte da eficácia.

“Os tamanquinhos de Natal”, de François Coppée é um dos melhores momentos da antologia. O conto tem, aliás, muitas características de contato com a obra de Dickens (que também se encontra na antologia), como a crítica social. O protagonista é Wolff, um garotinho órfão de pai e mãe criado por uma tia áspera e avarenta. Envergonhada com a possibilidade de ser considerada pobre, a velha manda o garoto para uma escola de ricos, onde ele é constantemente espezinhado tanto pelo professor quanto pelos outros alunos, por suas roupas humildes. Na história, eles saem da igreja e encontram com um garoto dormindo descalço em plena praça. “Alguns dos filhos dos sujeitos mais notáveis da terra dirigiram àquele vagabundo um olhar onde se lê o desprezo dos ricos pelos pobres, dos gordos pelos magros”. Wolf é o único que se comove com a situação do garoto, e tira um dos tamancos e coloca no pé do garoto, o que provoca a fúria da tia e a promessa de que no dia de Natal seu tamanco amanhecerá repleto de varas para açoitá-lo. Essa é uma história comovente, que entra diretamente no cerne da discussão sobre a verdadeira essência do cristianismo.

A edição tem problemas. Não sabemos, por exemplo, quem organizou a antologia, uma informação importante nesse tipo de publicação. Além disso, algumas das biografias que antecedem os contos estavam bastante desatualizadas. No texto sobre Elizabeth Goude, por exemplo, é dito que “A recente publicação de Green Dolphin Street colocou seu nome durante muitos meses no topo dos maiores best sellers americanos dos últimos tempos. O livro valeu-lhe o prêmio oferecido pela Metro Goldwyn-Mayer para o melhor romance do ano e filmado por aquela empresa”.  O livro era, na verdade, resultado de um concurso da MGM, que decidiu comprar direitos sobre livros antes que eles fossem lançados. E o filme é de 1947! Ou seja: nada recente para uma publicação de 1987. Além disso, o autor do texto confundiu o título do filme com o título do livro, que é Green Dolphin Country.

Apesar desses deslizes, é uma edição obrigatória para fãs de histórias de natal.

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