sábado, julho 05, 2025

Demolidor – O homem sem medo

 

A infância de Matt Murdock é um dos momentos mais importantes da história do Demolidor, mas também um dos menos explorados. Antes de Frank Miller, o que existia, era, essencialmente, a versão de Stan Lee e Bill Everett. Miller inovou, por exemplo, ao mostrar que o garoto teve um mestre, Stick, mas ali pela década de 1990 ele achou que era hora de explicar melhor como Matt Murdock virou o Demolidor, da mesmas forma que já havia feito no Batman. O resultado, um verdadeiro Demolidor ano 1, foi a minissérie Demolidor – homem sem medo, publicada em 1991, com desenhos de John Romita Jr e Al Williamson.

Na história, Matt Murdock oscila entre a obediência ao pai e a vontade de realizar traquinagens – e resolve o conflito usando uma máscara. Assim, por exemplo, o vemos, na sequência inicial, roubando o cassetete de um policial por pura brincadeira, o mesmo policial que pouco antes estava dizendo para os garotos: “Por que vocês não são como o filho de Murdock? Ele nunca causa problemas...”.

A história começa com uma traquinagem do garoto Matt. 


Na história descobrimos também que o pai de Matt era, a contragosto, um campanga do mafioso chamado Manipulador, providenciando para que todos os comerciantes locais pagassem proteção.

Fortemente influenciado por Jack Kirby, John Romita Jr usa com perfeição quadros de impacto, a começar pela imagem de Matt Murdock após o acidente que o deixou cego, as feições infantis, a expressão de desalento.

A sequência do acidente é recontada. 


Em contraste, ainda no primeiro número, temos uma página dupla do jovem Murdock, já depois de treinado por Stick, percorrendo os telhados da cozinha do inferno em uma cena grandiosa.

Talvez o aspecto mais interessante da série seja a parte focada em Elektra, uma personagem pela qual Miller nitidamente era apaixonado e que se tornou um ponto fulcral da série ao se tornar uma mistura de heroína e vilã. A história mostra como ela e Matt Murdock se conheceram, a forma irresponsável e atrevida como Elektra vivia e a forma como ela manipulou o rapaz para se aproximar dele.

Boa parte da história é focada em Matt e Elektra. 


Mas a sequência mais impactante é aquela em que Elektra vai até o centro de Nova York e chama atenção de uma gang. “Ela não é louca. As vozes são reais”, diz o texto. “As vozes lhe falam de seu destino. Elektra não aprecia esse destino... mas elas fazem algo com sua mente, algo que a jovem mal pode controlar. Por isso ela escolhe as vítimas”. Estava ali, em toda a sua essência, a assassina comandada por forças das trevas, a mulher que oscila entre o amor por Matt Murdock e a necessidade de matar.

Elektra precisa matar. 


A série também nos mostra como o Rei chegou ao controle do crime organizado e como ele estabeleceu uma rede de sequestro de crianças para filmes sexuais – o que nos dá uma sequência eletrizante quando o Demolidor, ainda sem uniforme e usando apenas roupa e máscara preta, vai salvá-las.

O herói, ainda sem uniforme, salva crianças: sequência eletrizante. 


A união de Miller e Romitinha fez com que essa série se tornasse um clássico obrigatório para os fãs do Demolidor, tão relevante que nitidamente serviu de base para a série da Netflix (série, aliás, que não conseguiu manter o mesmo nível de qualidade).

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