A infância de Matt Murdock é um dos
momentos mais importantes da história do Demolidor, mas também um dos menos
explorados. Antes de Frank Miller, o que existia, era, essencialmente, a versão
de Stan Lee e Bill Everett. Miller inovou, por exemplo, ao mostrar que o garoto
teve um mestre, Stick, mas ali pela década de 1990 ele achou que era hora de
explicar melhor como Matt Murdock virou o Demolidor, da mesmas forma que já
havia feito no Batman. O resultado, um verdadeiro Demolidor ano 1, foi a
minissérie Demolidor – homem sem medo, publicada em 1991, com desenhos de John
Romita Jr e Al Williamson.
Na história, Matt Murdock oscila entre a
obediência ao pai e a vontade de realizar traquinagens – e resolve o conflito
usando uma máscara. Assim, por exemplo, o vemos, na sequência inicial, roubando
o cassetete de um policial por pura brincadeira, o mesmo policial que pouco
antes estava dizendo para os garotos: “Por que vocês não são como o filho de
Murdock? Ele nunca causa problemas...”.
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A história começa com uma traquinagem do garoto Matt. |
Na história descobrimos também que o pai
de Matt era, a contragosto, um campanga do mafioso chamado Manipulador,
providenciando para que todos os comerciantes locais pagassem proteção.
Fortemente influenciado por Jack Kirby,
John Romita Jr usa com perfeição quadros de impacto, a começar pela imagem de
Matt Murdock após o acidente que o deixou cego, as feições infantis, a expressão
de desalento.
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A sequência do acidente é recontada. |
Em contraste, ainda no primeiro número,
temos uma página dupla do jovem Murdock, já depois de treinado por Stick,
percorrendo os telhados da cozinha do inferno em uma cena grandiosa.
Talvez o aspecto mais interessante da
série seja a parte focada em Elektra, uma personagem pela qual Miller
nitidamente era apaixonado e que se tornou um ponto fulcral da série ao se
tornar uma mistura de heroína e vilã. A história mostra como ela e Matt Murdock
se conheceram, a forma irresponsável e atrevida como Elektra vivia e a forma
como ela manipulou o rapaz para se aproximar dele.
Boa parte da história é focada em Matt e Elektra.
Mas a sequência mais impactante é aquela
em que Elektra vai até o centro de Nova York e chama atenção de uma gang. “Ela
não é louca. As vozes são reais”, diz o texto. “As vozes lhe falam de seu
destino. Elektra não aprecia esse destino... mas elas fazem algo com sua mente,
algo que a jovem mal pode controlar. Por isso ela escolhe as vítimas”. Estava
ali, em toda a sua essência, a assassina comandada por forças das trevas, a mulher
que oscila entre o amor por Matt Murdock e a necessidade de matar.
A série também nos mostra como o Rei
chegou ao controle do crime organizado e como ele estabeleceu uma rede de
sequestro de crianças para filmes sexuais – o que nos dá uma sequência eletrizante
quando o Demolidor, ainda sem uniforme e usando apenas roupa e máscara preta,
vai salvá-las.
O herói, ainda sem uniforme, salva crianças: sequência eletrizante.
A união de Miller e Romitinha fez com
que essa série se tornasse um clássico obrigatório para os fãs do Demolidor,
tão relevante que nitidamente serviu de base para a série da Netflix (série,
aliás, que não conseguiu manter o mesmo nível de qualidade).
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