Eu fui o primeiro coordenador do primeiro curso de comunicação do Amapá, em uma faculdade particular. Como era a primeira do estado, recebia muitas visitas inusitadas, como gente que não tinha sequer graduação querendo lecionar no curso. Mas o caso mais bizarro foi de um boliviano que chegou com uma pasta repleta de papeis sujos.
Ele se apresentou com pesquisador de história brasileira e
queria ministrar uma palestra para nossos alunos. Era um negócio imperdível:
uma palestra totalmente gratuita lecionada por um boliviano que havia
descoberto fatos surpreendentes e totalmente inéditos sobre a história do
Brasil!
Pedi para ver os papéis que ele trazia na pasta e era um
amontoado de textos, sem citações, referências, nada. Parecia ser algo escrito
por alguém que nunca tinha ouvido falar da ABNT. Ele me apresentou um diploma
de graduação que achei muito suspeito e alguns papéis que deveriam comprovar
que ele tinha mestrado e doutorado, mas não eram diplomas.
Perguntei qual era o órgão que financiava as pesquisas dele.
- Não recebo bolsa de nenhum órgão. Sou um pesquisador
independente! – respondeu ele, com orgulho.
Indaguei quais eram essas novidades extraordinárias que ele
havia descoberto e ele me deu uma prévia, empolgado. Na palestra, ele contaria,
por exemplo, a origem da palavra Brasil que, pasmem, tinha relação com uma
madeira que existia em nossas terras da qual era extraído um corante.
Olhei para ele, esperando uma risada que comprovasse que se
tratava de uma pilhéria. Esse é o tipo de informação que eu havia tido nos
primeiros anos de estudo, quando ainda era criança. Mas ele permanecia sério, esperando
por aplausos como se tivesse dito uma grande novidade.
Ele tinha uma outra pasta, repleta de recortes de palestras
que havia ministrado em faculdades particulares em cidades pequenas.
No final, eu o dispensei argumentando que precisava antes
pedir a autorização do diretor e que o diretor estava viajando etc... mas
fiquei me perguntando o que ele ganharia com essa palestra. Deveria haver algum
golpe por trás disso.
Só fui entender tudo algum tempo depois quando descobri que
ele de fato havia conseguido ministrar a tal palestra em uma outra faculdade
local.
O golpe era o seguinte: ele ministrava a palestra, conseguia
uma matéria de jornal e depois se apresentava nas escolas particulares se
dizendo professor daquela faculdade e cobrando pela tal palestra um valor
altíssimo.
Em Macapá mais de uma dezena de escolas haviam caído nesse
golpe. A pessoa que me contou, dono de uma escola particular, chegou a
comentar: “Eu não entendi como a faculdade tal poderia contratar alguém tão
desqualificado. A palestra dele não fazia sentido nenhum!”.
Claro que era um golpe que tinha um prazo de validade (em
algum momento os donos das escolas descobriam que ele não era professor universitário),
o que o obrigava a ficar se mudando de cidade de tempos em tempos.
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