terça-feira, janeiro 03, 2006

Matéria publicada no Correio Brasiliense de ontem


Em busca de bons programas

Pesquisa da Universidade de Brasília mostra que crianças e adolescentes do Distrito Federal desaprovam o que a televisão oferece e sentem falta de alternativas mais adequadas para a sua idade

Rachel Librelon Da equipe do Correio

Crianças e adolescentes estão insatisfeitos com o que a televisão aberta lhes oferece. Querem menos violência e mais finais felizes. Também desejam o fim de apresentadores adultos que imitam crianças, mais espaço para desenhos animados e programas informativos. Foi essa a conclusão de uma pesquisa coordenada pela professora Vânia Lúcia Quintão, da Faculdade de Educação (FE) da Universidade de Brasília (UnB). O estudo, concluído este ano, contou com a participação de bolsistas do Programa de Iniciação Científica (Pibic) e envolveu 424 estudantes de 12 escolas públicas do Distrito Federal. Na pesquisa, estudantes com idades entre 6 e 17 anos responderam a um questionário com 10 questões sobre televisão. O grupo de pesquisadoras queria saber o que eles mais gostavam e o que não queriam assistir na TV, e como seria a programação caso pudessem produzi-la. Os entrevistados também elaboraram o roteiro de um programa. "O mais surpreendente foi descobrir que não é verdade que as crianças gostam de programas de adultos", avalia Vânia. Os mais novos foram incisivos em afirmar que não querem novelas com enredos muito dramáticos. No total, 40% das crianças elegeram os desenhos animados como o que mais gostam de assistir na televisão (leia arte). As novelas ficam em segundo lugar e em terceiro, os programas infantis. Para a pesquisadora, se houvesse mais atrações voltadas para os pequenos, elas certamente ocupariam o segundo lugar. A violência é rejeitada por boa parte dos entrevistados. "O interessante é que eles gostam de assistir a lutas. Eles consideram que trata-se de uma briga simulada", explica a pesquisadora. Já os adolescentes sentem falta de roteiros que mostrem os problemas que eles vivem nessa faixa etária, como o primeiro beijo, gravidez e outros conflitos típicos da idade. A turma entre 12 e 17 anos está em busca de notícia, informação e algo que complemente o que aprendem na escola. "Acredito que isso acontece porque eles estão se preparando para o vestibular e precisam estar bem informados", avalia a coordenadora da pesquisa. Incentivo Na casa de Adélia Lavor, 37 anos, a televisão fica ligada o dia todo. O canal preferido dos dois filhos mais novos – Yasmim, de 2 anos, e Ivan, de 6 – é a TVE. Eles acompanham quase toda a programação do canal 2. Os meninos assistem ao Castelo Rá-tim-bum e a desenhos animados. Para alívio da mãe, são programas recomendados por educadores. "Eu incentivei o Ivan a ver e agora ele gosta", conta a dona-de-casa. A dupla pouco se importa com os outros canais. A mãe não proíbe que eles procurem outras emissoras, mas também não apóia. Adélia lembra do dia em que Ivan viu a chamada para um filme violento, que seria exibido à noite. O menino ficou dois dias assustado. "Acho que as emissoras deveriam se preocupar menos em gastar dinheiro e mais em dar oportunidade às crianças de conhecerem coisas boas", avalia.
Corrida para a internet

Vânia Quintão: as crianças não gostam de programas de adultos

Responsável pela pesquisa que avalia o que mais agrada e desagrada às crianças e adolescentes nos programas de televisão, a professora Vânia Lúcia Quintão acredita que eles assistem a produções de que não gostam porque não têm outra opção. A estudante Vanessa Cris tini Marques, 14 anos, no entanto, optou por abandonar a TV. Nas raras vezes em que se senta em frente à telinha é para ver algum noticiário. "Parei de assistir porque achei que ensinam muita coisa errada", explica. Para ela, a programação deveria ser mais educativa. "O problema é que a televisão acaba influenciando quem é mais novo e não tem opinião formada", diz a estudante. A mãe de Vanessa , a dona-de-casa Genilda Fernandes, 32, garante que a decisão de parar de assistir à TV foi da filha. Na casa da família, no Guará, não há programas proibidos, e os outros dois filhos não abriram mão da televisão. "Conversamos muito sobre o que está passando e procuro orientá-los", diz. Genilda "Acho que está tudo muito misturado. A programação não está dividida por idade. Tinha que existir uma separação." Atitudes como a de Vanessa estão mais comuns. Pesquisa do Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes (Midiativa), concluída em 2005, mostrou que os jovens estão se afastando da TV. "O que mais chamou a atenção é que isso está acontecendo muito rápido", afirma a diretora-executiva do Midiativa, Sirlene Reis. Para ela, a tendência pode se refletir nas crianças. O estudo também mostrou que os jovens buscam interatividade e, por isso, migram para outros meios de comunicação, principalmente a internet. Sirlene lembra que TV aberta faz parte da educação. "A TV é uma concessão pública que deveria também se preocupar com a formação do cidadão".
Os 10 mandamentos da boa TV*1. Ser atraente Usar a linguagem dos jovens, ter música, ação, competições, movimento e humor. 2. Provocar curiosidade Mais do que transmitir informação, um programa de qualidade deve despertar curiosidad, gosto pelo saber e interesse por outras áreas, como esporte, música, cultura. 3. Confirmar valores Transmitir conceitos como: família, respeito ao próximo, solidariedade, princípios éticos. 4. Ter fantasia Estimular a brincadeira, a fantasia, fazer sonhar. 5. Não ser apelativo Não banalizar a sexualidade nem usar vocabulário chulo. Também não explorar a desgraça alheia e expor pessoas ao ridículo, não incentivar o consumismo e não mostrar o consumo de drogas e o comportamento violento como coisa normal. 6. Criar identificação Apresentar personagens, temas e situações que tenham a ver com essa identificação. É importante que os jovens vejam suas dúvidas, confrontos e anseios discutidos nos programas de televisão, que se identifiquem com as situações e extraiam daí algum ensinamento. 7. Mostrar a realidade É importante que o programa não mostre um mundo que não existe, que não iluda ou falseie a realidade. 8. Despertar o senso crítico Para os pais, o programa de qualidade é aquele que leva o jovem a refletir e dá espaço para ele pensar e adquirir uma visão crítica. 9. Incentivar a auto-estima Respeitar e valorizar as diferenças, não transmitir o preconceito e a discriminação através de estereótipos. 10. Preparar para a vida Abrir os horizontes, mostrar opções de vida que ajudem o jovem a escolher seu direcionamento.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ivan, tenho percebido isso. Meu pré-adolescente não está mais ligado em televisão e reclama da programação.