Isso pode parecer estranho vindo de um professor, mas a verdade é que eu sou extremamente tímido. Sou totalmente incapaz para aquilo que Desmond Morris chama de “catar piolho”, ou seja, contato social rápido e superficial, como a gente costuma encontrar em festas. Para mim a diversão está em um livro ou numa conversa com algumas poucas pessoas já conhecidas. Demoro a pegar intimidade a ponto de conversar (mas geralmente, quando começo, agüente...), razão pela qual costumo ficar totalmente quieto em ambientes desconhecidos, perdido em meus pensamentos.
Uma situação que me deixa totalmente sem jeito é quando alguém vem me elogiar. Com o lançamento da revista O Pavio, várias pessoas têm vindo até mim fazer elogios, alguns de maneira muito entusiástica, já que essa é uma proposta editorial totalmente nova no Amapá. O fato é que eu fico vermelho como um pimentão.
Uma vez fui em um Congresso de Comunicação em Santos. Estava apresentando paper e debatendo no GT de Quadrinhos e Humor. Saí um momento para ir ao banheiro e fui abordado no caminho por um rapaz:
- Você é o Gian Danton?
- Sou. – respondi, doido para escapulir para o banheiro.
- Você é o Gian Danton! – afirmou ele, olhando para mim como se duvidasse de seus olhos.
- É, acho que sou eu mesmo...
- Eu não acredito! Você é o Gian Danton. – repetiu ele, me olhando agora como se eu fosse um ornitorrinco ou alguma outra espécie extinta.
E ficou lá longos minutos, me olhando. Temi que ele se jogasse aos meus pés e começasse a gritar, fazendo reverências:
- Buana! Buana!
Felizmente ele não fez isso. Só ficou lá me olhando, como quem olha para um animal raro e balbuciando palavras que eu não conseguia entender (provavelmente alguma variante do inevitável “Você é Gian Danton!”).
Por fim, tomei uma atitude drástica.
- Com licença, preciso ir ao banheiro!
E fugi em desabalada carreira, morrendo de medo dele me seguir até o banheiro. Mas não, ele ficou lá, me olhando com aquele olhar de peixe morto.
Foi a situação mais constrangedora pela qual já passei.
1 comentário:
Ah, eu acredito sim Gian! Embora eu não seja tímida, sou professora e conheço inúmerosa professores que sofrem do mesmo "mal" (aposto com vc, que não és mais tímido que meu marido, e olha que em sala de aula, ninguém diz). rs)... Eu costumo dizer que a sala de aula é uma lugar literalmente de transformações, tanto para os alunos que vão em busca da transformação pelo conhecimento e, neste caso é como se ao entrar em sala, o indivíduo transforma-se no "professor" uma "entidade" que é ele, mas não é ele...
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