terça-feira, junho 05, 2007

A Santa


Havia três pescadores. Eles saiam juntos para gapuiar, para armar rede, pegar camarão... eram como unha e carne. Uma noite eles sairam e a noite tava que nem hoje. A lua grande, bonita lá no céu. Eles saíram de barco e foram remando, coitados, sem pegar nada. Então, quando dobraram uma baixinha, viram uma luz. Não era luz de lampião, ou da lua. Parecia luz de vela. Luz branca.
Eles foram remando, intrigados com aquilo. Então deram com algo, mas não podiam olhar, tão forte era o clarão. Mas quando olharam o coração deles se iluminou: era uma mulher, uma santa vestida de branco.
Ela falou com eles, mas não podiam olhar. Sentiam-se felizes de uma felicidade que nunca haviam experimentado. Era como se até suas roupas sujas fossem espelhos refletindo aquela luz abençoada. Então a luz foi diminuindo, até desaparecer completamente.
Ouça bem: os pescadores tinham visto uma santa e nunca iam se esquecer disso.
Quando chegaram em casa, fizeram uma imagem dela. Mas eram maus artesãos e o resultado foi um monstrengo disforme.
Ainda assim, para eles era linda, pois era a única lembrança que tinham da santa. E passaram a adorá-la. As mulheres dos pescadores viram aquele pedaço de pau e acharam graça. Aquilo não era uma santa. Santa mesmo era a da igreja, bonita, pintada, com cara de anjo.
Mas para os três, por mais feia que fosse, era linda, pois lembrava a santa que só eles haviam visto. As esposas, pensando que estivessem loucos, abandonaram os coitados. Até o padre excomungou os três. Aquele bicho feioso era uma ofensa à Virgem Maria! Dizem que até mesmo a santa os abandonou, insultada com a imagem tosca que haviam feito dela.
Ainda assim, eles continuaram firmes até morrer, pois haviam visto a beleza e aquela era a única lembrança que tinham dela...

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