CURUPIRA 2
Certo de que era um porco, pus-me a chamá-lo. Coisa curiosa são as formas que o pessoal do interior usa para chamar porcos. Cada região tem uma. Na ilha de Marajó, chama-se assim: cheine, cheine, cheine... pode parecer nome de cowboy, mas funciona. Comigo, no entanto, não deu certo. Não era um porco.
Enquanto chamava o porco, parei numa clareira com uma mangueira muito grande. Continuei andando. Pelos meus cálculos, já devia estar perto da casa e logo acabaria me livrando do meu perseguidor. Para minha surpresa, não só não encontrei a casa, como voltei para o mesmo ponto: a clareira com a mangueira! Fiquei apavorado. Eu nunca havia andado em círculos em todos os anos andando no meio da floresta! Além disso, para fazê-lo, eu precisaria estar caminhando há horas. Eu havia voltado para o mesmo ponto em poucos minutos. Para quem achava que estava indo em linha reta, era uma constatação assustadora.
Lembrei imediatamente da lenda do curupira. Para os que não a conhecem, o curupira é um menino de cabelos de fogo e pés voltados para trás. Trata-se de um elemental da floresta, que faz com que se percam caçadores e pessoas mal-intencionadas (na verdade, eu descobri depois que qualquer um que entra na mata sem pedir permissão é considerado mal-intencionado). O curupira tem também o poder de ilusão. Há uma história sobre um caçador que sempre matava mais animais do que precisava, desrepeitando a natureza. Para castigá-lo, o curupira fez com que ele, vendo sua mulher, pensasse que se tratava de um bicho. Resultado: o caçador fez fogo e acabou matando a própria esposa...
Todas essas histórias me vieram à mente naquele momento. Então fiz a única coisa que não poderia ter feito: saí correndo pela mata. Quando dei por mim, estava completamente perdido. Os passos já não me seguiam mais.
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