quinta-feira, dezembro 29, 2011
Fanzine Crash! para baixar
Crash!, editado por mim e pelo compadre Joe Bennett, foi o primeiro fanzine paraense. Finalmente consegui fazer um scan dele. Para baixar o número zero, clique aqui. Para baixar o número 1, clique aqui.
A literatura de fantasia
Embora tenha antecedentes famosos, entre eles os mitos de Gilgamesh e a Odisseia, a literatura de fantasia moderna surge, não por acaso, com o romantismo.
O romantismo aparece no contexto ocidental como uma reação à estética neo-clássica e ao racionalismo iluminista. O iluminismo prometia tirar o homem das trevas e do misticismo da Idade Média para colocá-lo numa era de razão e progresso. Os românticos viam isso como uma falácia. A razão não era o caminho para a humanidade, mas o sentimento.
Não por acaso, um dos romances mais importantes do período, e pedra fundamental do que viria a ser a ficção-científica era uma crítica à ciência: Frankstein ou moderno prometeu mostrava os perigos da razão sem ética.
A ficção científica só viria a se tornar um gênero próprio, separado da fantasia, décadas mais tarde, quando Júlio Verne, influenciado pelo samsionismo, imaginou um mundo que maravilhas podiam ser conseguidas através da ciência, seja chegar à Lua, seja viajar ao fundo mar.
O neo-clássico volta-se para a Grécia antiga, berço da razão. A fantasia, em oposição, volta-se para a Idade Média, época de misticismo e mistério.
A Idade Média tinha forte tradição de romances de cavalaria (uma mistura de mitologia cristã e pagã) repletos de misticismo, heróis, feitceiros, espectros, animais místicos, objetos mágicos e seres elementais, ligados à natureza e vindos diretamente das tradições dos povos bárbaros.
Ítalo Calvino no livro Contos Fantásticos do Século XIX relaciona o conto fantástico com a especulação filosófica do período:
“Seu tema é a relação entre a realidade do mundo que habitamos e conhecemos por meio da percepção, e a realidade do mundo do pensamento que mora em nós e nos comanda. O problema da realidade daquilo que se vê – coisas extraordinárias que talvez sejam alucinações projetadas por nossa mente; coisas habituais que talvez ocultem, sob a aparência mais banal uma segunda natureza inquietante, misteriosa, aterradora – é a essência da literatura fantástica, cujos melhores efeitos se encontram na oscilação de níveis de realidade inconciliáveis”.
Segundo Calvino, a literatura fantástica nasceu com o romantismo alemão, mas se espraiou por toda a produção do período. Difícil encontrar autor romântico que não tenha colocado o maravilhoso, o inexplicável em suas obras, em especial Edgar Alan Poe, o pai da literatura de gênero. No Brasil um autor que se aventurou pelo fantástico foi Álvares de Azevedo. Seu livro de contos Noite na Taverna é um dos melhores exemplos disso.
Essa fuga para o passado irá se transformar na alta fantasia, quase sempre ambientada na Idade Média, real o ou imaginária, ou na Espada e magia, ambientada em um passado ainda mais distante, como em Conan, ou em mundos muito diversos do nosso, em que o fantástico torna-se normal, como em Elric.
A ópera O anel de Nibelungo, de Richard Wagner, obra-prima do romantismo, representa essa tendência, e irá influenciar um dos maiores nomes do gênero, Tolkien, até mesmo no tema do anel de poder.
Tzevetan Todorov, no livro Introdução à literatura fantástica explica que a fantasia ocorre num mundo em que não é exatamente o nosso, um mundo povoado por diabos, sílfides, vampiros, no qual produz-se acontecimentos que não podem ser explicados pelas leis de nosso mundo. Diante dele, leitor e herói se vêm diante de duas possibilidades: ou o que ocorreu é fruto da imaginação, ou sonho (como Narizinho, que acorda no final do primeiro livro infantil de Monteiro Lobato ou em Alice no país da Maravilhas) ou o acontecimento é real e, nesse caso, essa realidade é regida por leis que nos são desconhecidas. O fantástico é essa hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, diante de um acontecimento aparentemente sobrenatural.
Para Todorov, portanto, o fantástico implica não só a existência de um acontecimento estranho, mas é preciso que o texto obrigue o leitor a considerar o mundo das personagens estranhas como um mundo de criaturas vivas e a hesitar entre uma explicação natural e sobrenatural. Essa hesitação é normalmente experimentada por um dos personagens da narrativa, muitas vezes o herói.
Roberto de Sousa Causo, no livro Rumo à Fantasia, cita a definição do The Oxford Companion to English Language: “geralmente se concorda que (a fantasia) é ambientada em um mundo distante da experiência comum, alguns ou todos os personagens são diferentes de qualquer criaturas conhecidas, o mundo de fantasia tem as suas próprias regras e lógica, e é normalmente bem ordenado dentro delas, e qualquer personagem quotidiano que entre nesse mundo tem que se conformar ao novo modo de vida. De modo semelhante, criaturas fantásticas podem entrar no mundo familiar, e quando o fazem os seus poderes frequentemente prevalecem”.
O mesmo Roberto Causo lembra que a fantasia se consolidou como gênero literário no mercado editorial a partir de 1923, com a criação da revista Weird Tales. Foi nela que surgiu o gênero Espada e Magia, representado principalmente por Conan, de Robert A. Howard, que escreveu para essa e outras publicações.
A outra corrente famosa é a alta fantasia, representada principalmente por J.R.R. Tolkien de O Hobbit e O senhor dos anéis. Nessa vertente, o autor cria todo um mundo próximo, mas diferente do nosso. Esse mundo é descrito em detalhes culturais, geográficos e históricos ao longo da narrativa e o leitor se acostuma à regras desse novo mundo (vale lembrar que Robert A. Howard também definiu muito bem o mundo de Conan, mas com outro enfoque).
Vários outros autores da época se debruçaram sobre o gênero, com destaque para As crônicas de Narnia, de C.S. Lewis, que colocou heróis humanos normais atravessando para um mundo de contos de fadas, em que existem duendes, centauros, magos, feiticeiras e muitos outros, numa quase apresentação prática dos princípios de Todorov.
Embora tenha feito um sucesso relativo na época de sua publicação (1954-1955), a saga de O senhor dos Anéis só se tornou um sucesso estrondoso na década de 1960, quando um editora americana aproveitou o fato de que o livro não havia sido registrado nos EUA para lançar uma versão não-autorizada e barata. O livro fez enorme sucesso com os hippies, uma geração muito parecida com a dos românticos do século XIX que transformaram a fantasia em um gênero literário. Como os românticos, a geração dos anos 1960 criticava o racionalismo e pregava uma volta a um mundo menos tecnológico e mais sentimental.
O gênero ganhou ainda mais popularidade com a criação do RPG Dungeons and Dragons e da série televisiva derivada, A caverna do dragão, um sucesso extraordinário até hoje. A animação da Disney A espada era a lei também merece destaque por retomar o mito arturiano, assim como o filme História sem fim (baseado no livro do escritor alemão Michael Ende).
Finalmente, tivemos recentemente o fenômeno Harry Potter e os filmes de O senhor dos anéis e Crônicas de Narnia, que aumentaram ainda mais o interesse pela fantasia fazendo com que ela concorra fortemente com a ficção científica.
Hoje duendes, dragões, sereias elfos fazem parte do imaginário popular de milhões de pessoas. Mas, se os primeiros escritores germânicos que se debruçaram sobre o gênero tinham uma rica mitologia para explorar, nós também temos: mapinguaris, sacis, mãe-d´água, cobra grande, os exemplos são muitos.
Infelizmente essa riqueza raramente vem para a literatura. São raras as iniciativas de utilizar a mitologia nacional para criar um universo de fantasia.
Talvez falte um diálogo com a mitologia clássica da fantasia, um encontro dos sacis com hobbitts, de sereias com a mãe d´água, de dragões com a cobra grande.
Essa é a proposta da antologia Terra da Magia: provocar um diálogo de duas mitologias, criando histórias tipicamente de fantasia, mas com um sabor regional.
Clique aqui para saber mais sobre a antologia.
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quarta-feira, dezembro 28, 2011
Promoção no Cafofo da Katita
Nos próximos dias o cafofo vai completar um ano de posts diários.
Para comemorar, quem vai ganhar é o(a) internatua(a).
Será enviado gratuitamente o e-book Tiras Sem Preconceito, vencedor do Prêmio Angelo Agostini em duas categorias.
Para comemorar, quem vai ganhar é o(a) internatua(a).
Será enviado gratuitamente o e-book Tiras Sem Preconceito, vencedor do Prêmio Angelo Agostini em duas categorias.
Para saber como ganhar o e-book, basta acompanhar o blog clicando aqui.
domingo, dezembro 25, 2011
Natal, tempo de... paz?
Natal é tempo de paz, reflexão, solidariedade, caridade, um tempo em que as pessoas se tornam mais espirituais e menos materialistas.
Certo? Errado.
Ontem fomos passar o natal na casa de minha irmã, que mora na zona Norte e atravessamos a cidade de um lado a outro, tanto na ida quanto na volta. O que vi foi muita gente bêbada, som alto, motoristas imprudentes (provavelmente bêbados).
Parece que o ser humano, ao invés de evoluir espiritualmente, está se tornando cada vez mais materialista. O que importa é beber todas, ter um som mais alto do que o do vizinho, farrear.
Nesse andar da carruagem, logo vão ter que mudar os cartões de Natal para algo assim:
Neste Natal que você beba todas e bata o carro.
Neste Natal que você tenha um som mais potente que o do vizinho.
Certo? Errado.
Ontem fomos passar o natal na casa de minha irmã, que mora na zona Norte e atravessamos a cidade de um lado a outro, tanto na ida quanto na volta. O que vi foi muita gente bêbada, som alto, motoristas imprudentes (provavelmente bêbados).
Parece que o ser humano, ao invés de evoluir espiritualmente, está se tornando cada vez mais materialista. O que importa é beber todas, ter um som mais alto do que o do vizinho, farrear.
Nesse andar da carruagem, logo vão ter que mudar os cartões de Natal para algo assim:
Neste Natal que você beba todas e bata o carro.
Neste Natal que você tenha um som mais potente que o do vizinho.
sábado, dezembro 24, 2011
sexta-feira, dezembro 23, 2011
A anedota mais engraçada do mundo
É sério. O psicólogo inglês Richard Wiseman, da Universidade de Hertfordshire, criou o site LaughLab para encontrar a piada mais engraçada do mundo. Durante 1 ano, quem entrava na página podia, além de publicar sua piada preferida, dar notas para as que já estavam por lá.
Foram, no total, mais de 40 mil piadas cadastradas, e cerca de 2 milhões de avaliações individuais, vindas de todos os cantos do mundo. A que agradou à maioria dos visitantes, no fim das contas, foi a enviada por um inglês de 31 anos chamado Gurpal Gosall.
Preparado? Atenção para a melhor piada de todos os tempos.
Dois caçadores estão em um bosque, quando um deles desmaia. Ele parece não estar respirando e seus olhos estão vidrados. O outro caçador pega o telefone e liga para a emergência: “Meu amigo está morto! O que faço?”. O atendente responde: “Calma, eu te ajudo. Primeiro, temos que ter certeza de que ele está morto”. Há um silêncio, e então um tiro é ouvido. De volta ao telefone, o cara diz: “Pronto, e agora?”. Leia mais no site da Superinteressante
Walter Benjamin, a arte e a reprodução
Geralmente, quando se fala de Meios de Comunicação de Massa e Escola de Frankfurt, a maioria das pessoas lembra da visão apocalíptica de Adorno, de negação em bloco de todo produto cultural: filmes, quadrinhos, novelas, etc. Mas poucos se lembram de um dos primeiros filósofos da escola e sua análise apurada de como as técnicas de reprodução estavam mudando os conceitos de arte. Trata-se de Walter Benjamin.
Walter Benjamin teve uma vida trágica e marcada pela inquietação intelectual. Foi influenciado pelo marxismo e pelo misticismo judaico. Como a chegada do nazismo ao poder, Benjamin refugiou-se em Paris. Após a derrota da França na guerra contra a Alemanha, o filósofo decidiu fugir pela fronteira espanhola. Ao saber que a fronteira estava fechada, ele voltou para o hotel e se suicidou tomando uma grande quantidade de morfina. A fronteira abriu no dia seguinte.
Entre os seus textos mais importantes está A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, no qual ele explica como o cinema e a fotografia estavam destruindo a "aura" da obra de arte.
Benjamin explica que durante milênios, toda obra de arte tinha duas características: a autenticidade e a aura.
A autencidade está ligada ao fato de que cada obra de arte é única. Um quadro, por exemplo tem características que não podem ser reproduzidas. Por mais que ele seja impresso, perde-se a textura do suporte, o relevo da tinta, assim como toda a história por trás daquela obra específica, inclusive com referência às pessoas que o possuíram. Mesmo no caso de uma fraude muito bem realizada, a cópia nunca será igual ao original. Da mesma forma, cada escultura grega é única e mesmo alterações pelas quais ela passou (no caso das peças quebradas) aumentam seu valor de unicidade. Segundo Benjamin, "O que faz com que uma coisa seja autêntica é tudo aquilo que ela contém de originalmente transmissível".
A aura, por sua vez, está ligada à origem religiosa da arte.
Quando o homem começou a produzir as primeiras pinturas rupestres, elas não tinham o objetivo de ornamentar as cavernas, mas de realizar uma espécie de magia. Acreditava-se que o que era reproduzido na pintura se tornaria realidade. Assim, o desenho de uma caçada feliz faria com que a tribo tivesse sucesso na caçada. As obras de arte nascem a serviço de um ritual, inicialmente mágico, depois religioso. Sua exposição aos homens era incidental: na verdade, a pintura destinava-se sobretudo ao mundo espiritual.
Esse caráter místico faz com que muitas vezes a obra de arte seja guardada em segredo. Os templos gregos eram construídos para abrigar as estátuas dos deuses, mas o ritual se passava do lado de fora. Na igreja católica, as figuras das virgens permanecem guardadas a maior parte do ano e só são visualizadas em momentos muito especiais, como ocorre com o Círio de Nazaré, em Belém. Conforme a arte foi se desvinculando do uso ritual, aumentaram as possibilidades das obras serem expostas. O quadro, por exemplo, tem muito mais possibilidades de ser transportado e exposto do que um mosaico.
Mas, se por um lado a arte se desvinculava da sua função religiosa, continuava tendo uma espécie de mística. A arte continuava sendo algo de uma minoria privilegiada, geralmente as pessoas de maior poder aquisitivo. Tornou-se, inclusive, um símbolo de status.
O surgimento da fotografia abalou os alicerces da arte, empurrando para segundo plano o seu valor de culto. Além de representar a realidade, a fotografia era passível de reprodução e quebrava totalmente com a ideia de autenticidade. Qual das cópias de uma foto é a original?
De acordo com Benjamin, a fotografia, ao retirar da arte o critério de autenticidade, fez com que toda a função da arte fosse subvertida: "Em lugar de repousar sobre o ritual, ela se funda agora sobre uma outra forma de práxis: a política". Se a fotografia provocou uma revolução na arte, o cinema provocou um estrago ainda maior. Até mesmo a atuação dos atores deixou de ter aura ou unicidade.
Se no teatro, cada atuação é única e o ator interpreta para o público, no cinema, os atores interpretam para a câmera e sua atuação é fragmentada. Um personagem se aproxima de uma porta, a abre e sai. A cena seguinte, pode ser gravada semanas depois dessa. No cinema, a atuação dos atores só se concretiza na mesa de montagem.
Esse sistema quebra com a aura da atuação, que só sobrevive, no cinema comercial, através do star system, no culto à estrela (um tema muito bem analisado por Edgar Morin no livro As estrelas). Para Benjamin, se não for tratado como produto, o cinema permite não só uma crítica revolucionária das antigas concepções de arte, como favorece uma crítica revolucionária das relações sociais. Isso ocorre porque o cinema tira o expectador da condição de simples contemplação e o leva à condição táctil. Ou seja, no cinema o público quer não só assistir, mas interagir, e essa interação leva à revolução tanto na arte quanto na sociedade. Walter Benjamim certamente devia estar pensando no cinema revolucionário russo, que usava pessoas do povo como atores quando escreveu suas reflexões.
A idéias de Benjamin fizeram pouco sucesso na época, e só foram resgatadas graças ao amigo Adorno, que, no entanto, achava suas reflexões ingênuas. Passado quase um século de seus primeiros escritos, o pensamento desse autor continua cada vez mais atual, especial pela compreensão impar sobre a arte e sobre a forma como o surgimento dos meios de comunicação de massa mudou nossa percepção a respeito dessa.
Walter Benjamin teve uma vida trágica e marcada pela inquietação intelectual. Foi influenciado pelo marxismo e pelo misticismo judaico. Como a chegada do nazismo ao poder, Benjamin refugiou-se em Paris. Após a derrota da França na guerra contra a Alemanha, o filósofo decidiu fugir pela fronteira espanhola. Ao saber que a fronteira estava fechada, ele voltou para o hotel e se suicidou tomando uma grande quantidade de morfina. A fronteira abriu no dia seguinte.
Entre os seus textos mais importantes está A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, no qual ele explica como o cinema e a fotografia estavam destruindo a "aura" da obra de arte.
Benjamin explica que durante milênios, toda obra de arte tinha duas características: a autenticidade e a aura.
A autencidade está ligada ao fato de que cada obra de arte é única. Um quadro, por exemplo tem características que não podem ser reproduzidas. Por mais que ele seja impresso, perde-se a textura do suporte, o relevo da tinta, assim como toda a história por trás daquela obra específica, inclusive com referência às pessoas que o possuíram. Mesmo no caso de uma fraude muito bem realizada, a cópia nunca será igual ao original. Da mesma forma, cada escultura grega é única e mesmo alterações pelas quais ela passou (no caso das peças quebradas) aumentam seu valor de unicidade. Segundo Benjamin, "O que faz com que uma coisa seja autêntica é tudo aquilo que ela contém de originalmente transmissível".
A aura, por sua vez, está ligada à origem religiosa da arte.
Quando o homem começou a produzir as primeiras pinturas rupestres, elas não tinham o objetivo de ornamentar as cavernas, mas de realizar uma espécie de magia. Acreditava-se que o que era reproduzido na pintura se tornaria realidade. Assim, o desenho de uma caçada feliz faria com que a tribo tivesse sucesso na caçada. As obras de arte nascem a serviço de um ritual, inicialmente mágico, depois religioso. Sua exposição aos homens era incidental: na verdade, a pintura destinava-se sobretudo ao mundo espiritual.
Esse caráter místico faz com que muitas vezes a obra de arte seja guardada em segredo. Os templos gregos eram construídos para abrigar as estátuas dos deuses, mas o ritual se passava do lado de fora. Na igreja católica, as figuras das virgens permanecem guardadas a maior parte do ano e só são visualizadas em momentos muito especiais, como ocorre com o Círio de Nazaré, em Belém. Conforme a arte foi se desvinculando do uso ritual, aumentaram as possibilidades das obras serem expostas. O quadro, por exemplo, tem muito mais possibilidades de ser transportado e exposto do que um mosaico.
Mas, se por um lado a arte se desvinculava da sua função religiosa, continuava tendo uma espécie de mística. A arte continuava sendo algo de uma minoria privilegiada, geralmente as pessoas de maior poder aquisitivo. Tornou-se, inclusive, um símbolo de status.
O surgimento da fotografia abalou os alicerces da arte, empurrando para segundo plano o seu valor de culto. Além de representar a realidade, a fotografia era passível de reprodução e quebrava totalmente com a ideia de autenticidade. Qual das cópias de uma foto é a original?
De acordo com Benjamin, a fotografia, ao retirar da arte o critério de autenticidade, fez com que toda a função da arte fosse subvertida: "Em lugar de repousar sobre o ritual, ela se funda agora sobre uma outra forma de práxis: a política". Se a fotografia provocou uma revolução na arte, o cinema provocou um estrago ainda maior. Até mesmo a atuação dos atores deixou de ter aura ou unicidade.
Se no teatro, cada atuação é única e o ator interpreta para o público, no cinema, os atores interpretam para a câmera e sua atuação é fragmentada. Um personagem se aproxima de uma porta, a abre e sai. A cena seguinte, pode ser gravada semanas depois dessa. No cinema, a atuação dos atores só se concretiza na mesa de montagem.
Esse sistema quebra com a aura da atuação, que só sobrevive, no cinema comercial, através do star system, no culto à estrela (um tema muito bem analisado por Edgar Morin no livro As estrelas). Para Benjamin, se não for tratado como produto, o cinema permite não só uma crítica revolucionária das antigas concepções de arte, como favorece uma crítica revolucionária das relações sociais. Isso ocorre porque o cinema tira o expectador da condição de simples contemplação e o leva à condição táctil. Ou seja, no cinema o público quer não só assistir, mas interagir, e essa interação leva à revolução tanto na arte quanto na sociedade. Walter Benjamim certamente devia estar pensando no cinema revolucionário russo, que usava pessoas do povo como atores quando escreveu suas reflexões.
A idéias de Benjamin fizeram pouco sucesso na época, e só foram resgatadas graças ao amigo Adorno, que, no entanto, achava suas reflexões ingênuas. Passado quase um século de seus primeiros escritos, o pensamento desse autor continua cada vez mais atual, especial pela compreensão impar sobre a arte e sobre a forma como o surgimento dos meios de comunicação de massa mudou nossa percepção a respeito dessa.
quarta-feira, dezembro 21, 2011
terça-feira, dezembro 20, 2011
segunda-feira, dezembro 19, 2011
O cair da noite
Li recentemente o conto O cair da noite, de Isaac Asimmov, conto publicado no Brasil na revista Isaac Asimov Magazine 15 (o conto também foi transformado em romance, escrito em parceria com Robert Silverber). O conto narra a história do planeta Lagash, iluminado por seis sóis, e que nunca conheceu a noite.
Mas, de tempos em tempos, o planeta acaba sofrendo com um eclipse. O que para nós, acostumados com a noite, é algo normal, para um povo que nunca viu a escuridão, pode ser o equivalente ao fim do mundo.
O conto é um dos mais famosos de Asimov e não sem razão. O autor usa a situação de um povo que nunca conheceu a noite para fazer uma investigação antropológica. Um dos maiores problemas da FC é justamente o fato de que a maioria dos autores imagina mundos muito parecidos com a terra quando retratam outros planetas. Asimov mostra que uma única mudança pode ter grandes consequências na psicologia e na forma de vida de um povo.
O conto também é interessante por mostrar como funcionam os processos científicos (nesse sentido, Asimov não faz concessões: a ciência de Lagash segue os mesmos princípios científicos que conhecemos, de elaboração de hipóteses, observação e registro de dados empíricos) e principalmente por abordar a questão da intolerância religiosa. Na história, um grupo de cientistas pretende registrar o eclipse antes que o mundo acabe, deixando informações para os sobreviventes que serão os habitantes do próximo ciclo. Um grupo religioso considera isso uma heresia e fará de tudo para impedir o registro.
A posição de Asimov contra a intolerância religiosa é clara. Nesse sentido, O cair da noite é uma metáfora para os malefícios da fé cega, que nega a racionalidade.
O cair da noite é leitura obrigatória para todo fã de boa FC.
sexta-feira, dezembro 16, 2011
Seminário construindo o programa de literatura do Amapá
Hoje participei do seminário para discussão do planejamento da área de Literatura. Gostei de ver os rumos da cultura sendo discutidos com a classe (o mesmo já tinha sido feito com a área do audio-visual, em junho). Parabéns à SECULT, ao GEA e ao secretário Zé Miguel, que garantiu um edital para a área já no próximo ano. É assim que se constroi uma gestão democrática.
Participar desse seminário me fez lembrar do governo anterior, que gastou uma fortuna com o carnaval CARIOCA, investiu em filmes feitos por realizadores de fora do estado e não abriu um único edital... e tudo isso sem consultar ninguém...
Participar desse seminário me fez lembrar do governo anterior, que gastou uma fortuna com o carnaval CARIOCA, investiu em filmes feitos por realizadores de fora do estado e não abriu um único edital... e tudo isso sem consultar ninguém...
quinta-feira, dezembro 15, 2011
Construindo o Programa de Literatura do Amapá
O Governo do estado do Amapá estará realizando o Seminário Construindo o Programa de Literatura do Amapá, com o objetivo de possibilitar o diálogo e a troca de experiência entre os atores envolvidos nessa temática, a fim de subsidiar a elaboração de um Programa de Literatura para o nosso Estado.
A programação do Seminário inclui a discussão e apresentação de propostas para atender os (04) quatro Eixos norteadores do Plano Nacional do Livro e Leitura, definidos pelo Ministério da Cultura e Ministério da Educação, que são: Democratização do acesso a leitura; Fomento à literatura e à Formação de Mediadores; Valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico e o Desenvolvimento da economia do livro.
Programação
DIA 15/12
Horário: 08:00 às 12:00
MANHÃ
Mesa de abertura: GOVERNADOR, SECULT, SEED, EAP, ASSOCIAÇÃO DOS PREFEITOS, SOCIEDADE CIVIL, REPRESENTANTE DOS LIVREIROS, CONSELHO CULTURA.
PALESTRA-MAGNA: Benita Prieto
Horário: 14:00 às 18:00
TARDE
PAINEL 1:
Relato das experiências realizadas na temática literária -SECULT, SEED, UNIFAP E UEAP.
PAINEL 2:
Relato das experiências realizadas na temática literária – Sociedade civil, Conselho Estadual de Cultura, SESC, SESI e Livreiros)
DIA 16/12
MANHÃ
GRUPOS DE TRABALHO: Apresentação de proposta para os Eixos:
1- Democratizando o acesso;
2- Fomento à leitura de à formação de mediadores;
3- Valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico;
4- Desenvolvimento da economia do livro.
quarta-feira, dezembro 14, 2011
Música do dia
Para lembrar do quanto Roberto Carlos era bom na década de 1970. Você em minha vida é um primor de letra. Reparem como RC trabalha todas as frases com antônimos: melhor - pior; amanhecer - anoitecer; sorriso - lágrima; sonho - realidade; chegada - adeus. É um jogo de palavras criativo e muitas vezes inesperado. Por exemplo, o oposto de sorriso é choro, mas a música traz, no lugar do choro, a lágrima. Uma verdadeira aula sobre como escrever uma música com inteligência.
Antologia Deuses - resultado da seleção
Já saiu o resultado da antologia Deuses, da editora Infinitum. Eu fui um dos selecionados, com o conto "Canção para você viver mais". Confira a lista completa aqui.
domingo, dezembro 11, 2011
Antologia Terra da Magia – Inscrições abertas
Todo mundo sabe que existe um mundo repleto de elfos,bruxas, dragões, ornitorrincos… mas NINGUÉM sabe que ligação eles têm com o saci, curupira, mapinguari…!!!
Uma ligação que pode estar em outra dimensão, planeta, embaixo da cama ou até mesmo ali, dentro daquele armário.
Terra da Magia é algum lugar localizado no norte do Brasil. Por alguma razão que só os deuses, e quem sabe algum mago sabem, criaturas mitológicas do mundo inteiro se encontram com os personagens do nosso folclore nacional.
Leia mais
Ps: Essa antologia será organizada por mim e espero contar com a colaboração de vários escritores do norte produzindo contos de fantasia. Vamos lá, pessoal. O prazo é até o dia 15 de março de 2012. Serão aceitos contos que tenham o clima das histórias clássicas de fantasia, como Crônicas de Narnia, Senhor dos anéis e que misturem a mitologia clássica de fantasia com os seres do folclore nacional.
Mundo Monstro ganha resenha
O blog Estranha Estante publicou uma resenha do meu e-book Mundo Monstro. A autora do blog, Anny Plata, foi um das ganhadoras da gincana de lançamento do livro, que bombou no Twitter com a tag #LivroPerdido. Para ler a resenha, clique aqui.
terça-feira, dezembro 06, 2011
sábado, dezembro 03, 2011
Comunicado Secom
O Governo do Estado do Amapá informa que a secretária de Estado da Comunicação, Jacinta Carvalho, encontra-se internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital São Camilo, desde segunda-feira, 28, vítima de uma infecção desconhecida que evoluiu rapidamente caminhando para um quadro de septicemia (é uma infecção geral no organismo grave, desenvolvida por via sanguínea a partir de outra infecção já existente) que atingiu de maneira violenta o pulmão, mas atualmente o quadro clínico está estável e ela reagiu bem a medicação.
Que todos os procedimentos médicos estão sendo feitos para descobrir a causa da infecção e garantir sua plena recuperação.
Informa também que nesta sexta-feira, 2, a partir das 17h, será feita uma corrente de oração pela recuperação dela, no Palácio do Setentriäo e convida amigos e parentes para se fazerem presentes.
PS: Jacinta foi uma das minhas melhores alunas no curso de Comunicação. É uma grande profissional e ótima pessoa. A última vez que nos encontramos foi no I Congresso de Jornalismo da Unifap. Ela parecia saudável muito estimulada com o desafio de coordenar a comunicação do GEA. Vamos dedicar orações a ela e peço que os leitores façam o mesmo.
Que todos os procedimentos médicos estão sendo feitos para descobrir a causa da infecção e garantir sua plena recuperação.
Informa também que nesta sexta-feira, 2, a partir das 17h, será feita uma corrente de oração pela recuperação dela, no Palácio do Setentriäo e convida amigos e parentes para se fazerem presentes.
PS: Jacinta foi uma das minhas melhores alunas no curso de Comunicação. É uma grande profissional e ótima pessoa. A última vez que nos encontramos foi no I Congresso de Jornalismo da Unifap. Ela parecia saudável muito estimulada com o desafio de coordenar a comunicação do GEA. Vamos dedicar orações a ela e peço que os leitores façam o mesmo.
quinta-feira, dezembro 01, 2011
Livro sobre fanzines agora em e-book
Em 1990 os fanzines finalmente chegavam à academia. Esta era a constatação
meio entusiasmada, meio surpresa da banca de defesa da dissertação de Mestrado de
Henrique Magalhães, que ocorria na Escola de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo. A surpresa devia-se ao fato de essas publicações marginais ganharem
o status de objeto de estudo, ou seja, de importância cultural e sociológica.
Esse trabalho chegou ao público pela primeira vez em 1993 com o título O que
é fanzine, pela editora Brasiliense, numa edição resumida. Em 2003 a Marca de
Fantasia lançou o texto completo, com a fundamentação teórica sobre publicações
alternativas, como fora concebido para o Mestrado.
Tanto a edição da Brasiliense quanto a da Marca de Fantasia tiveram grande acolhida do público. A edição digital do livro chega agora para facilitar a circulação e passa a contar com ferramentas de navegação e ilustrações em cores. Estas são contribuições complementares para quem deseja ter conhecimento ampliado da produção de fanzines
Serviço
O rebuliço apaixonante dos fanzines
Henrique Magalhães
Série Quiosque, 27
165p. Ebook em pdf, R$5,00
Pedidos para: Henrique Magalhães henriquemais@gmail.com
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