Meu amor por Helena era doentio. Eu não me contentava em ser amado por ela, queria tê-la total e exclusivamente para mim. Assim que casamos, passei a exercer um tremendo controle sobre ela. Consegui separá-la dos amigos e da família. Eu a proibi de sair de casa, pois a simples ideia de dividi-la com alguém era mais do que meu egoísmo poderia suportar.
Helena passava os dias em casa, longe de tudo e de todos, devotada apenas a mim. Ou quase.
Minha esposa tinha um gato ao qual dedicava todo o carinho que lhe era negado por seu isolamento. Ele se ligou cada vez mais ele a ponto de não se separar do animal asqueroso por um único minuto, a não ser quando eu o enxotava. Ela então abaixava a cabeça, submissa e resignada, o que aumentava ainda mais o meu ódio. Decidi matá-la, jogando-a da janela do prédio e o fiz.
Os vizinhos acreditaram em minha versão de que minha esposa se suicidara em decorrência da depressão e eu estava certo de que também a polícia o faria. Quem poderia imaginar que eu, um homem bem-sucedido, amigo do governador, cometeria tal crime?
No entanto, o gato me olhava. Tentei matá-lo diversas vezes, mas era paralisado por seu olhar acusatório. O seu olhar era um espelho que refletia meu remorso, um espelho pronto a se quebrar em mil pedaços, como o vidro da janela.
O chão está se aproximando e começo a perder os sentidos, mas ainda continuo a ver o olhar acusador.
(Conto originalmente publicado no Terror Zine 27. Para baixar, clique aqui)
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